A bagunça no futebol feminino

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  • Ivan Dias Marques

Publicado em 29 de setembro de 2017 às 05:23

- Atualizado há um ano

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Já são três – até o momento em que eu escrevia esta coluna – jogadoras da seleção brasileira feminina que se aposentaram da equipe nacional após a demissão da treinadora Emily Lima. Cristiane, Francielle e Rosana entenderam que essa era a melhor forma de protestar contra uma decisão unilateral e inexplicável da CBF. Elas têm todo o direito e não se pode questionar a vontade de nenhuma delas de defender a seleção. 

Por mais que técnico de futebol seja o emprego mais perigoso do país, em termos de estabilidade, não há razão alguma que possa justificar a demissão de Emily, anunciada há uma semana. 

No total, foram menos de 11 meses à frente da seleção. Em uma equipe nacional, que não tem a disponibilidade para contar com todo o grupo principal para treinamentos com constância, o tempo é muito curto. Emily começou bem, teve boa sequência de resultados e foi demitida após alguns resultados ruins contra seleções que têm mais tradição no futebol feminino que o Brasil, principalmente, recentemente.

Mas o buraco é mais embaixo. E eu ainda acho que pode ser muito mais embaixo mesmo. Ao colocar uma treinadora, com mais de 20 anos de experiência no futebol feminino, a CBF trouxe também mais compreensão nos problemas das atletas, seja dentro ou fora de campo. Uma mulher entende melhor a outra e isso é muito óbvio. Assim, Emily, provavelmente, como até já declarou, conheceu as entranhas do tratamento dado pela confederação às atletas. 

A CBF, para deixar ainda mais claro que a demissão de Emily não teve nada a ver com resultados em campo, trouxe de volta o treinador que estava no comando da seleção antes dela, Vadão, com extensa experiência no futebol masculino e ZERO no feminino.

Não existe uma jogadora sequer nesse país que não tenha sofrido. Como atleta e como mulher. Falta de estrutura, de salários dignos, de apoio e até de médicos em seus jogos, para não citar o comportamento machista dos torcedores, em boa parte. 

A cada quatro anos, vemos a seleção fazer um baita trabalho nos Jogos Olímpicos, ainda que nem sempre com medalha. E, desde que me entendo por espectador do futebol feminino, essas mulheres se enchem de esperança ao ver o apoio durante o período da Olimpíada, no desejo de que toda essa visibilidade possa trazer um pouco de paz para elas no exercício de sua profissão. 

É inegável que houve, em mais de 20 anos, alguma evolução. Lenta, mas houve. No entanto, o reconhecimento e a independência financeira, ao menos durante o período em que atuam, só vêm para as que jogam fora do país. EUA, Noruega, França, Espanha, China, Japão, todos muito à frente de nós. Dentro do campo e, principalmente, na mentalidade.

Que a injusta saída de Emily seja o estopim para que as jogadoras sejam mais críticas e cobrem mais mesmo. Que troquem as lágrimas da desesperança pós-Olimpíada pela força e a coragem de se exporem, cobrando de quem se tem que cobrar. A começar por Marta, maior nome na história do esporte no Brasil, que não pode dar uma de ‘Pelé’ e ficar em cima do muro. É preciso ser firme.

A seleção brasileira tem que ser o exemplo para todos os clubes. Tem que ser o pote de ouro no fim do arco-íris, o local em que toda jogadora quer estar, não só para representar seu país, mas por ser o topo da carreira. Hoje, a seleção feminina é o topo. Mas da bagunça e da desesperança que é o futebol feminino no Brasil.* Ivan Dias Marques é sudeditor de Esporte e escreve às sextas-feiras.