A colonização do futebol

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  • Miro Palma

Publicado em 21 de março de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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No último domingo, fui até a loja da Centauro no Salvador Shopping para trocar um presente de aniversário que veio do tamanho errado. Fiquei rodando pelos setores da loja para escolher o que eu levaria e, durante essa busca, uma cena me chamou atenção: um menino que aparentava ter entre 8 e 12 anos vasculhando as camisas dos clubes de futebol. Até aí nada de diferente do que eu fiz durante os meus 8 ou 12 anos. Mas, ele, diferente do Miro Palma do passado, sequer levantou o olhar para as camisas do Bahia ou Vitória, só vasculhava os uniformes do Real Madrid, Barcelona e outros clubes do exterior.

Me aproximei das araras e o que vi tinham dois ou três espaços para cada time local e quase todo o setor dominado pelos espanhóis, ingleses, alemães... Os clubes brasileiros estão perdendo espaço e a predominância de camisas estrangeiras nas lojas é só um reflexo disso. No caminho de volta, fiquei refletindo sobre os motivos dessa nova colonização europeia, dessa vez no futebol.

A primeira coisa que me vem à cabeça são os craques. Os melhores jogadores do mundo estão lá. O dinheiro está lá, então é natural que os grandes ídolos arrumem as malas na primeira oportunidade. Mas, apesar do poderio econômico europeu, não é só isso que contribuiu para esse cenário. O futebol brasileiro também tem sua parcela nessa equação.

Já fomos o país do futebol. Fomos, o verbo está correto. E não me venham com essa de cinco Copas do Mundo, Pelé ou Neymar. Nossos campeonatos estão cada vez mais degradados, nossos clubes estagnados e distantes das suas torcidas. Há quanto tempo grandes estádios, hoje arenas pós-Copa 2014, não sabem o que é lotação máxima? O futebol brasileiro não é mais um espetáculo. Os times não fazem mais grandes atuações e, com isso, não estimulam torcedores.

Então, como condenar um menino de 12 anos que nunca viu o time dos seus pais ganhar um grande título, mas, ao ligar a TV, vê Messi, Cristiano Ronaldo e Neymar dando um show e levantando canecos em arenas lotadas, espaços de primeira linha na Espanha, França, Inglaterra, Alemanha? Como estimular esse garoto a jogar com a camisa tricolor ou rubro-negra no Fifa ou PES, se ele pode jogar com o Barcelona, Real ou Manchester? Fica difícil.

Ainda mais quando vemos as últimas atuações de Bahia e Vitória no Campeonato Baiano, por exemplo. E por falar nos campeonatos estaduais: estão cada vez piores. Eu, que não enfrentei essa globalização na minha formação como torcedor, diversas vezes prefiro assistir a um jogo de segunda divisão de campeonatos europeus, a ver as lambanças que acontecem no Baianão. Campos que mais parecem várzea, refletor que não acende, jogadores que poderiam disputar em pé de igualdade babas de bairro, são só alguns dos ingredientes dessa receita indigesta.

E é nesse imbróglio que os grandes times estrangeiros ganham espaço. A Neshoes divulgou um ranking das camisas de clubes mais vendidas no ano passado e a do Barcelona estava em 10º lugar entre as camisas de todas as nacionalidades. Ficou na frente de clubes brasileiros tradicionais como Botafogo, Fluminense, Atlético-MG e Grêmio. De acordo com um levantamento do Correio Braziliense, o clube catalão já conta com mais de 10,3 milhões de simpatizantes e torcedores brasileiros, isso porque só foi contabilizado a faixa etária de 16 a 29 anos. E esse número já o coloca como a quinta maior torcida do Brasil, à frente do Vasco, Cruzeiro e do Galo, por exemplo.  

Ao que tudo indica, as novas gerações não vão mais gritar “59 é nosso, 88 também” ou “Vai pra cima Leão”, agora eles torcem em espanhol, francês, inglês ou alemão. Estamos sendo recolonizados e o futuro não reserva boas perspectivas aos nossos clubes.*Miro Palma é subeditor do Esporte e escreve às quartas-feiras