A ‘difícil’ vida de um cartola em julgamento

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

  • Foto do(a) author(a) Miro Palma
  • Miro Palma

Publicado em 8 de novembro de 2017 às 05:29

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Doze pessoas serão responsáveis por traçar o destino de um dos cartolas mais poderosos do futebol mundial: José Maria Marin. O julgamento nos Estados Unidos, onde o brasileiro curte uma luxuosa prisão domiciliar em um suntuoso apartamento na imponente Trump Tower, começou anteontem com o início do procedimento de escolha dessas 12 pessoas que formarão o júri popular.

O ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) esteve presente no primeiro dia de julgamento. Chegou ao Tribunal Federal do Brooklyn, em Nova York, aparentando tranquilidade e ainda acenou para os jornalistas. Nem mesmo dois manifestantes brasileiros com uma faixa pedindo sua prisão conseguiram abalar a serenidade de Marin.

Mas, também, quem tem como xilindró uma residência de 101 metros quadrados e uma suíte avaliada em US$ 2,6 milhões – quase R$ 10 milhões – em um arranha-céu na 5ª Avenida, a apenas duas quadras do Central Park, não sofre por qualquer adversidade. Afinal, não estamos falando de prisões superlotadas com comida estragada como as daqui do Brasil, nem das guerras de gangues e dos macacões laranjas das prisões americanas. Estamos falando de um cárcere vizinho a um apartamento de propriedade do melhor jogador do mundo, Cristiano Ronaldo.

Fica difícil se preocupar nessas circunstâncias. Ainda mais, sabendo que a primeira condenação desde o início das investigações foi de oito meses de prisão e uma multa de US$ 415 mil para o ex-secretário-geral da Federação de Futebol da Guatemala Hector Trujillo. E, por sua idade já avançada, o ex-dirigente da CBF acusado por sete crimes – três vezes por fraude, mais três por lavagem de dinheiro e  uma por integrar uma organização criminosa – teria como pior cenário uma condenação a dez anos de prisão.

Pode parecer um problemão para nós, meros mortais preocupados com essa tal  dignidade. Mas, para alguém que é suspeito de receber milhões de dólares em propina de empresas de marketing esportivo pela venda de direitos comerciais da Copa do Brasil, da Copa Libertadores e da Copa América, isso não deve ser lá muita coisa.

Entretanto, desconfio dessa pose plena do cartola. Até porque, apesar de toda a regalia ofertada pelo Tio Sam, José Maria Marin deve estar doido para recuperar o passaporte que está retido desde novembro de 2015, quando ele foi extraditado da Suíça para pegar o primeiro voo rumo ao Brasil. Afinal, como bem disse em entrevista à Folha de S. Paulo o também ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira, outro mais sujo que pau de galinheiro em meio a essa investigação, “tem lugar mais seguro que o Brasil? Qual é o lugar? Vou fugir de que, se aqui não sou acusado de nada?”.

Para os cidadãos médios que sofrem com a cada dia mais frágil segurança pública do país, até deve ter lugar mais resguardado no mundo, mas para quem se alimentou por anos da corrupção isso aqui é um paraíso. Um éden ainda melhor do que um majestoso apartamento em uma das mais famosas torres de Nova York. E com isso, nem o megalomaníaco presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode concorrer.

*Miro Palma é subeditor de Esporte e escreve às quartas-feiras