A Fonte e a 'ex-tradição' de um povo

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  • Elton Serra

Publicado em 26 de novembro de 2017 às 05:09

- Atualizado há um ano

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Hoje é domingo, dia de futebol na Fonte Nova, e é impossível não lembrar. Estádio lotado, bandeiras coloridas tremulando, pessoas entrando sorridentes pelas catracas do Octávio Mangabeira. As chuteiras pretas dos jogadores afundando no gramado alto. Os orelhões no fundo dos gols. Um abraço entre um goleador e a torcida evitado por um fosso. Tudo isso ficou para trás.

São dez anos de um futebol distante. Por ser primitivo, se permitia também cometer erros imperdoáveis. O principal deles foi deixar acontecer uma tragédia num dos maiores equipamentos esportivos do Brasil. Silenciava-se uma nação dentro do estádio. Sete deles já não estão mais entre nós.

A tragédia que vitimou vários torcedores do Bahia abriu espaço para a discussão sobre a modernização do esporte no estado. Pautados pela Copa do Mundo de 2014, autoridades e iniciativa privada enterraram a velha Fonte e levantaram uma arena moderna e confortável. Um estádio que está no mesmo nível dos melhores do mundo, mas que ainda não conseguiu superar problemas encontrados em seu antecessor, sobretudo de gestão.

É neste quesito que evoluímos muito pouco. A Arena Fonte Nova, por ter custos altíssimos de manutenção, tornou-se um equipamento caro. Os valores dos ingressos, compatíveis com a estrutura do estádio, mas longe de ser equivalente à maioria dos jogos, subiram significativamente. O torcedor, com exceção de poucos jogos no ano, não se sente atraído em passar pelas catracas eletrônicas. Os mais humildes, essência do Bahia ao longo de oito décadas de história, estão cada vez mais longe da Fonte.

A Copa de 2014 trouxe uma elitização para o futebol brasileiro que atingiu em cheio o público baiano. Os clubes e outros gestores do futebol ainda não encontraram a melhor maneira de atrair o torcedor para a arena. O conforto e a segurança não são fatores preponderantes. O estádio, outrora democrático, capaz de colocar pobres e ricos num mesmo espaço de cimento, não conseguiu rejuntar as classes e segue perdido em seus conceitos. A qualidade do jogo, claro, influencia no novo hábito, mas é só lembrarmos que a Fonte recebeu 60 mil pessoas, em média, na reta final da Série C de 2007, para entendermos que algo se perdeu no tempo.

O futebol baiano sempre foi popular. Durante muitos anos era a mina de ouro de clubes do sudeste brasileiro, que adoravam jogar na Fonte Nova para abocanhar parte da grana que as bilheterias geravam – numa época em que a maior parte da renda era destinada ao vencedor, dirigentes pediam para serem visitantes contra Bahia e Vitória. A essência sempre foi a paixão pelo esporte. A cultura, na última década, foi ignorada por quem deveria entender do negócio.

Eu, particularmente, trocaria a possibilidade de sediar a Copa pela vida das sete vítimas da Fonte Nova. Nada superará uma tragédia que marcará para sempre o esporte na Bahia. Já que a catraca borboleta, o gramado alto, o fosso e os orelhões também não voltarão, que os gestores possam entender o comportamento do torcedor, resgatando a essência e conseguindo aliar a cultura do povo baiano com a rentabilidade do negócio. Ainda é possível aliar modernidade e tradição.

Já a dor... essa dura dez anos, e parece não querer passar.

Férias

Esta coluna fará uma breve pausa e voltará na próxima temporada. Que tenhamos um 2018 de boas emoções e ótimas notícias. Até logo!

Elton Serra é jornalista e escreve aos domingos