A influência das religiões na estruturação do mundo civilizado

Eduardo Athayde é diretor do WWI-Worldwatch Institute no Brasil

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Publicado em 15 de janeiro de 2018 às 18:49

- Atualizado há um ano

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As religiões sempre desempenharam papeis estruturantes na história das civilizações humanas, reforçando comportamentos, relacionamentos e conformidades. Ajudando a estabelecer fronteiras geopolíticas, induziram a escolhas através dos tempos, influenciando a arquitetura, a urbanização, as formas de convivência sociais, os regimes matrimoniais e até as moedas. Nas notas do dólar americano, país onde os jesuítas marcaram presença, está escrito “In God we Trust” (Em Deus nós Confiamos).

"O mundo é a nossa casa" disse Jerome Nadal (1507-1580), jesuíta espanhol companheiro de Inácio de Loyola, referindo-se ao mundo fora das igrejas e dos mosteiros. "O mundo inteiro se torna objeto de nosso interesse e preocupação, somos chamados a ir a qualquer lugar através das fronteiras geográficas e culturais onde há necessidade de trabalhar com Cristo". Esta é a declaração oficial dos jesuítas.

Considerando a autoridade moral e a força dos recursos financeiros das organizações religiosas, a sua influência nos estados e o fato de que 86% das pessoas em todo o mundo pertencem a uma religião organizada, o envolvimento religioso na construção das sociedades é evidente desde a remota antiguidade. A Sociedade de Jesus (Societas Iesu), congregação da Igreja Católica fundada no Século XVI por Inácio de Loyola na Espanha, sempre teve noção da sua força.

No livro Arte Jesuíta no Brasil Colonial, recipiente do "Prêmio Odebrecht de Pesquisa Histórica Clarival do Prado Valladares", a historiadora Anna Maria Monteiro de Carvalho mostra a atuação missionária pioneira da ordem jesuíta. Em carta de 15 de abril de 1549, Manuel da Nóbrega, sacerdote jesuíta e chefe da primeira missão no Brasil, informa a Simão Rodrigues, provincial jesuíta: “o governador escolheu um bom vale para nós, teremos água, assim m’o dizem todos. Aqui podemos fazer o nosso valhacouto [abrigo] e partir para a catequese no Brasil”.

No prefácio, o historiador Antonio Edmilson Martins Rodrigues, professor de História da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), ressalta: “seus autos realizaram uma profunda mudança nas terras brasileiras, provocando alterações culturais que constituíram a base do rascunho da nação brasileira”. Os colégios dos jesuítas funcionaram como espaços de centralidade e desenvolvimento urbano, inspirando a expansão de seminários, fazendas, engenhos e aldeamentos em pontos estratégicos ao longo de todo o litoral do país.

Hoje, a congregação com 16.378 membros - incluindo o Papa Francisco - espalhados por 112 nações, em seis continentes, continua inovando. A Rede Jesuíta de Educação, responsável por 17 centros de aprendizagem, 31 mil alunos e quase 2 mil educadores, em diversas localidades do Brasil, mantem a secular tradição de ensino e a importância da aprendizagem para o futuro sustentável do planeta formando pessoas capazes de pensar com autonomia, profundidade e agir com solidariedade.