A nova vida  de Ana Luísa

Garota ganha ‘mão biônica’, na cor rosa, e tem dia de  heroína

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  • Da Redação

Publicado em 2 de outubro de 2017 às 23:06

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

Quando criança, Diana Prince sempre achou que fosse uma menina comum. A futura amazona não imaginava qual era a extensão de sua força – sequer sabia que tinha poderes. Anos depois, viria a se descobrir como a maior heroína de todos os tempos: a Mulher Maravilha. E onde quer que vá, está sempre com seus braceletes. Construídos a partir do escudo de Zeus, os apetrechos são mais do que meros acessórios: são eles que ampliam ainda mais as virtudes que ela já tem.

Em Salvador, bem distante do universo dos quadrinhos, a pequena Ana Luísa Mendonça, 5 anos, percebe seus poderes a cada dia. Ana Luísa nasceu com agenesia da mão, uma má-formação congênita que faz com que ela não tenha a mão esquerda. Na quarta-feira (27/9), sua história ganhou um novo capítulo ao receber  uma mão ‘biônica’. Trata-se de uma prótese produzida com a tecnologia de impressoras 3D entregue pelo argentino Gino Tubaro, durante o Fórum Agenda Bahia.

Como a Mulher Maravilha e seus braceletes, Ana Luísa começou a se descobrir como heroína de seu próprio mundo. Com sua nova mãozinha – cor de rosa, exatamente como ela queria –, a menina desbrava a vida enfrentando a limitação que poderia ter com a ausência da mão esquerda.

E isso vai desde segurar com firmeza um copinho, um chapéu ou uma bolsa até usar o guidão de um cavalinho de balanço.  “A prótese vem para trazer mais benefícios e elevar a autoestima dela. A gente está superfeliz, porque foi um presente que a vida deu. Sei que a prótese vai ser um divisor de águas na vida dela”, diz a mãe da menina, a farmacêutica Lucimeire Mendonça, 39. Ana Luísa brinca com uma colega de escola (Fotos: Marina Silva/CORREIO) Mão de princesa

Logo na quinta-feira, dia seguinte ao seminário, Lucimeire notou a diferença. “Mãe, cadê minha mãozinha?”, foi a pergunta que a menina fez logo ao acordar. Era o dia de mostrar sua armadura ao mundo. Ou, pelo menos, aos coleguinhas na sala de aula. Mas, antes de sair de casa, veio a preparação. Usar uma prótese não é algo que dá para se acostumar de uma hora para a outra. O próprio Gino Tubaro recomendou que, nesses primeiros momentos, Ana Luísa use a prótese por cerca de 30 minutos diários. Depois, o tempo pode aumentar gradativamente. Para facilitar a adaptação, Lucimeire acabou usando um band-aid (com estampa de flores cor de rosa, claro) para colocar no local onde fica lacre de velcro. Assim, Ana Luísa estava pronta. 

Quando chegou na Escola Experimental, na Vila Laura, todos os olhares se viraram para ela. Todos queriam ver o que chamavam de ‘a mão de princesa’ – e engana-se quem pensa que super-heroínas não podem ser princesas: Diana, por exemplo, é a princesa de Themyscira, a ilha das amazonas.

Entre os amiguinhos do Grupo 4, a nova mãozinha chamou atenção. “Contei para eles quando cheguei e acharam legal”, disse Ana Luísa. Carina, 5, uma das colegas, ficou curiosa. “Onde você comprou?”, queria saber. Cheia de orgulho, Ana Luísa respondeu que tinha ganhado de presente. Mais tarde, Carina fez uma confissão ao CORREIO. “Um dia, Ana Luísa me disse que a mãozinha dela não dava para pegar as coisas. Essa dá. E eu disse para ela que, quando ela não quiser mais, que ela pode me dar”. Também cheio de interesse, Pedro, 5, disse que, em um primeiro momento, achou que se tratasse de um gesso. “Depois, achei que era brinquedo”, explicou, antes de dizer que também gostaria de ter uma.

A professora de Ana Luísa, Mônica Luz, disse que, naquele dia, a garotinha chegou mais animada. A nova prótese foi uma surpresa para a turma, mas todos reagiram bem. “Percebi nos olhos das crianças que eles viram com naturalidade. Falaram: ‘Olha a mão rosa’. E ela (Ana Luísa) nunca sentiu que era diferente dos outros, mesmo antes da prótese. Isso é reflexo do que é passado por ela pela família. Isso deixa a criança muito mais segura”.  Ana Luísa escolheu a cor de sua 'mãozinha de robô': rosa Desejo Antigo

Ana Luísa sempre quis uma ‘mãozinha de robô’ como as que  via nas redes sociais. O problema é que uma prótese dessas, no mercado, pode chegar a US$ 40 mil. Já as peças confeccionadas por  Gino Tubaro podem custar US$ 15 para ser produzidas (no caso de mãos) e US$ 25 (braços inteiros). Nenhuma delas é vendida. A Atomic Lab, empreendimento criado pelo argentino em 2015, não tem fins lucrativos e doa as próteses a quem precisa.

Lucimeire soube que Ana Luísa tinha agenesia da mão aos cinco meses de gravidez, durante um exame.  Foi o ponto de partida para que buscasse especialistas e apoio psicológico. “Fui me acalmando, aceitando e decidi apenas amar minha filha”. Hoje, Ana Luísa é tão independente quanto qualquer criança de sua idade. Se alguma criança pergunta sobre a mão, ela simplesmente responde: ‘Eu nasci assim’. De fato, ela nasceu assim – como uma pequena heroína.