A Olimpíada Rio-2016 está manchada

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  • Miro Palma

Publicado em 6 de setembro de 2017 às 04:56

- Atualizado há um ano

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Quando eu lembro de Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), no encerramento dos Jogos Olímpicos de 2016, em seu discurso emocionado sobre os “sete anos de muita luta e muito trabalho”, tenho certa dificuldade em enxergar a mesma pessoa no homem que entrou ontem, por volta das 10h, na sede da Polícia Federal, no Rio de Janeiro, para depor sobre um esquema de compra de jurados na eleição da cidade carioca como sede da Olimpíada de 2016.

De óculos escuros e cara de poucos amigos, o Nuzman de agora poderia ser muito bem o gêmeo mau daquele velhinho sorridente que aparecia na imprensa celebrando a vitória da candidatura carioca. É, meus amigos, mas essa história não é de novela. Não há uma Raquel para essa Ruth e as duas personas – a que vimos durante o período da Rio-2016 e a de agora – são a mesma que é investigada pela Polícia Federal, Ministério Público Federal do Brasil e Ministério Público das Finanças da França.

Junto com ele estão sendo investigados os empresários e ex-sócios Arthur Cesar Soares de Menezes Filho, conhecido como “rei Arthur”, e Eliane Pereira Cavalcante. Segundo a PF, Rei Arthur, não o da Excalibur, mas o operador de Sérgio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro que é réu em 14 processos que apuram desvios de mais de R$ 145 milhões, pagou 2 milhões de dólares a Papa Massata Diack, filho de Lamine Diack, um dos jurados na votação.

Além disso, de acordo com a polícia, desviaram recursos e lavaram dinheiro de contratos dos Jogos Olímpicos do Rio que envolviam o ex-governador. Já aquele velhinho emocionado do discurso que relembrei acima, segundo investigações, era o responsável por intermediar a compra dos votos dos integrantes africanos do júri.

A operação, que foi batizada de Unfair Play – Jogo Sujo ou Jogo Injusto, em inglês –, é um desdobramento da Operação Lava Jato, que já trouxe à tona diversos esquemas de corrupção em vários setores do nosso país. Ou seja, a sujeira é muito maior do que nossa reles imaginação consegue alcançar.

Todos os escândalos já deflagrados pela Lava Jato me indignam enquanto cidadão. Mas, esse em especial, não só me enoja, como entristece. Porque me fazem constatar que é justamente esse o legado da Olimpíada do Rio: o jogo sujo. E, vale lembrar, que essa é só a ponta de um iceberg imensamente maior do que o que derrubou o Titanic. E esse iceberg parece não ter fim.

Já não nos bastasse o superfaturamento das obras, os equipamentos foram construídos com o dinheiro público, que hoje faz muita falta aos moradores do Rio de Janeiro. Temos também o abandono de instalações que receberam os Jogos, até das plantas que foram semeadas pelos atletas e nunca foram plantadas. Não bastasse tudo isso, ainda precisamos dormir com o fato de que toda a Olimpíada foi fruto de uma operação criminosa.

Todo o evento que nos orgulhou em tantas ocasiões como na simpatia de Felipe Wu; na volta por cima de Rafaela Silva e Diego Hypólito; na grandeza de Mayara Aguiar e Rafael Baby; na alegria de Arthur Nory e Arthur Zanetti; na força feminina de Poliana Okimoto, Ágatha e Bárbara e Martine Grael e Kahena Kunze; nos braços de Isaquias Queiroz, Erlon de Souza e Alison e Bruno Schmidt; no punho de Robson Conceição; na tranquilidade de Thiago Braz e Maicon Siqueira; e na coletividade das seleções brasileiras de vôlei e futebol, tudo isso teve sua história manchada.