Abel Braga é um líder de verdade

Miro Palma é subeditor e escreve às quartas-feiras

  • Foto do(a) author(a) Miro Palma
  • Miro Palma

Publicado em 2 de agosto de 2017 às 05:37

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Como se constrói uma liderança? A resposta, definitivamente, não é simples. Não é um cargo ou função que transforma a pessoa em um líder. Tampouco uma imposição faz com que alguém ganhe o respeito e a confiança daqueles que estão ao seu redor. Não funciona assim. Nem mesmo no mundo do futebol, que é um recorte da nossa sociedade.Nos últimos dias, tivemos dois exemplos que nos ajudam a entender essa questão. De um lado Felipe Melo, jogador que foi contratado pelo Palmeiras em janeiro com status de maior estrela do clube na temporada. Era o líder aguerrido que o time queria dentro de campo no Brasileirão e que, rápido, caiu nas graças da torcida.Do outro lado, o técnico do Fluminense, Abel Braga, que retornou ao time em dezembro do ano passado, depois de um ano sem clube. Revelado como jogador pelo tricolor carioca na década de 70, Abel não era a primeira opção do presidente do time, Pedro Abad, para liderar a equipe. A princípio a intenção era contratar Roger Machado.O começo – ou recomeço – dos dois profissionais foi diferente, resguardando, claro, as devidas proporções das posições que ocupam. E o caminho que fizeram até hoje também. Felipe, como era esperado, não conteve o temperamento esquentado nem a língua afiada. Em sua apresentação no Palmeiras já disse que se tivesse que “dar tapa em uruguaio”, daria. O comentário instigou a ira dos jogadores e torcedores do Peñarol e culminou no conflito absurdo na partida do dia 26 de abril. E nem a punição da Conmebol freou a postura agressiva do volante. Dentro de campo, ele seguia rosnando e fora, acumulando atritos.Abel pegou um Fluminense que encerrou o Brasileirão do ano passado na 13ª posição. Em 17 rodadas do atual campeonato, mantém o time na mesma posição que não é confortável, mas está longe de ser crítica. Fora de campo, tem uma postura tranquila, sem deixar de ser incisivo ou de se posicionar quando necessário.Eis que os dois caminhos se cruzaram com situações importantes nos últimos cinco dias. Depois de desentendimentos em série, inclusive com o técnico Cuca, o Palmeiras afastou Felipe Melo. E o que aconteceu: um áudio de uma conversa do jogador em que ele critica duramente o técnico vazou. Nele o volante chama Cuca de “covarde, mau caráter, mentiroso”. E afirma que “todo mundo está interessado” nele, se referindo a outros clubes. Em entrevista no dia seguinte, assumiu que o áudio era verdadeiro, mas que tinha bebido “alguns champanhes” e ainda desmentiu ofertas de outros clubes no Brasil.Já o técnico do Fluminense perdeu o filho caçula, João Pedro,  18 anos, no último sábado. O jovem caiu da janela do banheiro enquanto tomava banho, possivelmente depois de ter uma crise epiléptica. Mesmo com a dor do luto, Abel preferiu voltar ao trabalho e seguir com sua equipe ao jogo de hoje, contra o Sport, na Ilha do Retiro, no Recife.Longe de querer comparar a tragédia que enfrenta Abel e sua família com a situação atual de Felipe Melo no Palmeiras. Porém, é muito significativa a comparação da postura dos dois profissionais diante de momentos difíceis. É justamente essa característica que, de algum modo, responde à questão deixada no início do texto. Lideranças não são forjadas no grito ou na força. A confiança não nasce do medo, do confronto ou do desequilíbrio. Líderes são construídos através de atitudes, de posturas que demonstram sua dedicação e, acima de tudo, o seu respeito com aqueles que decidem segui-lo.