Africanos visitam a Bahia para aprender sobre cultivo de mandioca

Estado tem 3ª maior safra do país; projeto é promovido pela Embrapa

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 2 de novembro de 2017 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação/Embrapa

Um grupo de 28 pessoas do continente africano está em vista à Bahia para aprender mais sobre a mandioca, um dos principais alimentos da humanidade, cultivado, principalmente, na América Latina, Ásia e África.

Oriundos de 16 países, eles estão no Brasil desde o dia 23 de outubro, realizando cursos diversos, promovidos pelo setor de mandiocultura e fruticultura da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) de Cruz das Almas, no Recôncavo.

A iniciativa faz parte do Youth Technical Training Program – YTTP (Programa de Capacitação Técnica Juvenil), realizado pelo Instituto Brasil África (Ibraf), organização sem fins lucrativos voltada para projetos de cooperação sul-sul com ênfase nas relações Brasil-África sediada em Fortaleza (CE).

A escolha pela agricultura como primeiro tema faz parte da estratégia Feeding Africa, do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), apoiador da primeira desta primeira etapa do programa, que busca a transformação da agricultura no continente africano.

O presidente do Instituto Brasil África (Ibraf) João Bosco Monte disse que o programa busca priorizar os jovens, a equidade de gênero e a continentalidade. “Por isso, temos representantes de 16 países da África, que é formada por 54 países”, destacou.  Produção de biscoitos Os africanos ficam no Brasil até o dia 17 de novembro para curso de treinamento em propagação, produção e processamento da mandioca que envolve ainda viagens pelo interior do estado, com o objetivo de conhecer as regiões produtoras.

O grupo recebe informações sobre toda a cadeia produtiva da mandioca por meio de aulas teóricas e práticas em laboratórios, campos experimentais da unidade de Cruz das Almas e áreas de parceiros de pesquisa e transferência de tecnologia.

Depois de aprender sobre variedades, melhoramento genético, manejo de solos, uso eficiente da água, doenças e pragas, os africanos chegaram na segunda-feira (30) a Vitória da Conquista, no Sudoeste do estado, para conhecer produtos derivados da mandioca, sobretudo biscoitos. Eles ficaram na cidade até a tarde desta terça (1º), quando voltam para Cruz das Almas.

Em Conquista Na terceira maior cidade da Bahia, com 365 mil habitantes, os africanos visitaram nesta segunda locais de comercialização de biscoitos, como a Central de Abastecimentos e ruas centrais onde há pontos de vendas tradicionais. Na terça, foram à Cooperativa Mista Agropecuária de Pequenos Agricultores do Interior da Bahia (Coopasub).

Oriunda de Uganda, Beckie Nakabugo disse estar animada com o curso, sobretudo pelo tratamento que está recebendo da Embrapa, que, para ela, “possui os melhores professores”. Ela quer auxílio para superar um vírus que atacou os pés de mandioca do país.

“O povo está desapontado”, conta ela, porque “lá tem o Cassava Brown Streak Virus, e muitos produtores desistem de plantar”.

Também animado com o curso, Ernest Atem Lefu, que é de Camarões, espera “transformação de mente, de conhecimento” e “ver mais métodos do que resultados dos trabalhos feitos aqui no Brasil.”“É mais importante aprender os métodos para aplicar no meu país. Claro que os resultados também são importantes para comparar as análises, mas o que mais importa é aprender métodos para aplicar no meu local de trabalho”, comentou ele.Gerar renda Pesquisador da Embrapa, Joselito Motta declarou que um dos objetivos de mostrar que com a produção de biscoitos é possivel os africanos gerar mais renda.

Vitória da Conquista é uma das principais produtoras de biscoitos da Bahia, de acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Rural do Estado (SDR), porém não há dados sobre a produção porque ela é feita de forma segmentada pelas empresas.

“Lá na África, eles usam a mandioca basicamente para fazer farinha, por meio de um método mais rudimentar que o nosso, cuja base é indígena e foi aperfeiçoada ao longo dos séculos. Essa farinha fina que conhecemos aqui, por exemplo, não tem lá”, disse.

No que se refere à produção de mandioca, o estado da Bahia está em fase de recuperação, pois a seca fez reduzir menos da metade a produtividade – há quatro anos era de 14 toneladas por hectare ao mês, agora não chega a sete.

Conquista, por exemplo, é um dos locais que tem sentido a queda na produção, tanto que a fábrica de fécula usada para a produção de biscoitos está parada por conta da baixa produção. A mandioca colhida está dando somente para fazer a farinha.

“Os produtores de biscoito estão fazendo o que faziam antigamente, que era a compra da fécula produzida no Paraná. Toda semana, são cerca de 200 toneladas de fécula”, disse Izaltiene Rodrigues Gomes, coordenador de mandiocultura da Superintendência Baiana de Assistência Técnica e Extensão Rural (Bahiater), ligada à SDR.

Mandioca baiana O Pará é o estado com a maior produção de mandioca no Brasil, com safra estimada de 5,01 milhões de toneladas em 2017, seguido por Paraná e Bahia, com 2,76 e 1,75 milhões de toneladas, respectivamente.

Juntas, essas unidades da federação representam quase metade da produção nacional, de 20,80 milhões de toneladas (estimativa para 2017). As informações são da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).