Afro Fashion Day teve primeira seletiva na sede do Ilê Aiyê

A próxima será realizada dia 5 de setembro, na Ribeira

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  • Rafaela Fleur

Publicado em 23 de agosto de 2017 às 19:46

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Para a seletiva que aconteceu na tarde desta quarta-feira (23), foram mais de 150 inscritos (Fotos: Angeluci Figueiredo) Na última quarta-feira (23), às 14h, 30 jovens foram até a Senzala do Barro Preto, no bairro do Curuzu, para participar da primeira seletiva do Afro Fashion Day (AFD), evento organizado pelo CORREIO desde 2015 para celebrar o Dia da Consciência Negra. Nesta etapa, que teve mais de 150 inscritos, o júri - composto pela curadora do AFD e editora de projetos especiais, Gabriela Cruz, a analista de marketing Gabriela Souza e o produtor de moda Fagner Bispo - escolheu os candidatos que irão participar da fase final, no dia 11 de outubro. O resultado só será divulgado após a realização de todas as seletivas.

Para o fundador e presidente do Ilê Aiyê,  Antônio Carlos, mais conhecido como Vovô do Ilê, a escolha do lugar para sediar a primeira seletiva é significativa. “A função da Senzala do Barro Preto é essa, servir à comunidade e principalmente ao matriarcado. O povo negro precisa aparecer”. Os candidatos foram chamados para conversas individuais Pela primeira vez, o maior evento de moda afro do Brasil decidiu ir até os bairros para escolher os modelos. “Essas seletivas são para que pessoas que não são modelos profissionais também possam subir na passarela do Afro. O compromisso do evento é  valorizar o soteropolitano”, afirma Gabriela Cruz. A próxima seletiva será dia 5 de setembro na Ribeira. Paripe, Itapuã e Cajazeiras também receberão seletivas, nos dias 5, 13 e 20 de setembro e 4 de outubro, respectivamente. Não é preciso residir nos bairros para se inscrever. Podem participar jovens de 15 a 24 anos, moradores de Salvador e Região Metropolitana. Os jurados avaliaram mais que a beleza física: atitude e personalidade foram levadas em conta Além da beleza Segundo o scouter Vinny Vasconcellus, da agência Bi Produções, para se destacar no AFD é preciso muito mais do que um rosto bonito. “Às vezes a pessoa não tem aquele perfil que é padrão de modelos, mas, quando se apresenta com energia,  atitude e personalidade, ela rouba a cena”, explica. Para o olheiro, o Afro é uma iniciativa única não apenas por ser um grande evento de moda em Salvador, mas principalmente por ser destinado ao público negro. “É uma porta enorme para o mercado”, completa. A nutricionista Jaqueline Menezes vai tentar sua estreia como modelo no AFD Para a estudante Laiana Alves, 18, a palavra de ordem é representatividade. Integrante do grupo de dança Afro Gandhy, desde nova, a jovem, que além de modelo deseja ser dentista, confessa que tinha vergonha dos cabelos e só conseguia ficar com eles alisados. Há 2 anos, decidiu assumí-los e define a oportunidade de participar do AFD como a realização de um sonho. “Muitas pessoas negras ainda são intimidadas e não conseguem aparecer. Espero mostrar para elas que podemos conseguir”, argumentou.

Oportunidade Aos 26 anos, a nutricionista Jaqueline Menezes enxergou no Afro a sua grande chance de concretizar um desejo que tem desde quando era criança. Obrigada a entrar na faculdade em busca de solidez profissional, ela confessa já ter vivenciado muitas coisas pelo fato de ser mulher e negra. “Ficam surpresos quando vêem que sou jovem e já fiz faculdade”, relata. Sobre o mercado da moda na Bahia, Jaqueline não esconde a insatisfação. “Nós, negros, somos maioria no estado e ainda assim não somos valorizados. Quando aparece algum negro trabalhando com moda, as pessoas vêem como algo diferente, fora do comum, sendo que o normal deveria ser exatamente o contrário”, observa. A estudante Laiana Alves conta que tinha vergonha dos cabelos crespos e só há dois anos parou de usar alisante Já João Victor, 18, está no terceiro ano do ensino médio e tentando passar na sua segunda seletiva. Aprovado em 2016, ele confessa ter recebido propostas profissionais após sua participação no evento e agradece pela oportunidade. “O concurso tem muita visibilidade.  O Afro foi o meu primeiro trabalho como modelo. Ser aprovado ano passado foi gratificante”.

Além das seletivas que acontecem nos bairros, existirá uma outra, que ainda não tem data e nem local confirmado, específica para quem já é profissional, como é o caso de Rejane Santos, 20. Há 3 anos trabalhando como modelo, a  jovem que, em 2015, foi Miss Pérola Negra,  reconhece que o concurso funciona como uma grande porta de entrada. Apesar de sonhar em fazer parte do time das Angels, grupo seleto de modelos da marca americana de lingerie Victoria’s Secret, ela é categórica: “Não quero ser a próxima Gisele, quero ser a próxima Rejane”. Rejane Santos é modelo profissional: "Não quero ser a próxima Gisele. Quero ser a próxima Rejane" A terceira edição do AFD, que sempre aconteceu no dia 20 de novembro, este ano será no dia 18 do mesmo mês. A Cruz Caída, casa do evento nas edições anteriores, também será substituída. O local ainda não foi divulgado, mas Gabriela esclarece que a mudança foi estratégica. “Queremos fazer uma programação maior, que englobe toda a família, incluindo as crianças”.

As inscrições para a próxima seletiva estão abertas. A ficha de cadastro pode ser acessada no site do Afro Fashion Day, clicando aqui.

*Colaborou para o CORREIO