Alta de apreensões de armas não reflete na redução da violência

Resultado na Bahia é falha estratégica, dizem especialistas

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  • Mario Bitencourt

Publicado em 17 de novembro de 2017 às 01:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Robson Mendes/Arquivo CORREIO

Armas e munições apreendidas em Camaçari com quadrilha, em dezembro de 2016 (Foto: Divulgação/Polícia Civil) Em 2011, o pesquisador do Ipea Daniel Cerqueira concluiu em sua tese de doutorado que para cada 18 armas aprendidas, uma vida era salva, e que para cada 1% de armas a mais com os criminosos, os homicídios subiam 2%.

Na Bahia, porém, o crescimento das apreensões de armas, divulgado nesta quarta-feira (15) pela Secretaria da Segurança Pública (SSP), semanas após o CORREIO solicitar informações sobre o tema, não influencia de forma significativa nos índices de violência.

Com aumento das apreensões, o que reduziu mais, apesar de pouco, foram as tentativas de homicídio: 3.673 em 2014, 3.183 em 2015 e 3.072 em 2016. Já os homicídios dolosos vitimaram 5.663 pessoas em 2014, 5.051 em 2015, 6.328 em 2016 e, este ano, de janeiro a maio, 2.799.

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Enquanto isso, os casos de lesão corporal seguida de morte tiveram 125 casos em 2014; 124 em 2015; e 114 em 2016. Já os latrocínios tiveram 199 em 2014, 207 em 2015 e 211 em 2016. Por fim, os roubos/furtos de veículos foram 20.053 em 2014, 20.060 em 2015 e 20.785 em 2016. Não há dados de 2017 para esses casos.

Para especialistas em segurança pública, a pouca influência demonstra falhas nas estratégias de combate ao crime organizado e algo mais grave: a quantidade de armas apreendidas, sobretudo fuzis, é até dez vezes menos do que a que continua nas mãos de criminosos.

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De acordo com o Atlas da Violência 2017, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em junho, 71% dos 59 mil homicídios do Brasil ocorrem por arma de fogo.

No estudo, quatro cidades baianas aparecem entre as dez mais violentas do país: Lauro de Freitas (2ª colocada), Simões Filho (5ª), Teixeira de Freitas (7ª) e Porto Seguro (9ª).

Coordenador do Observatório da Violência da Bahia, João Apolinário da Silva sustenta que, apesar de ser positivo o aumento do número de armas, é preciso se pensar mais nas formas de se combater a violência e ter mais transparência com as informações.“É sabido por quem atua na área de segurança que no mundo do crime circula muito mais armas e drogas do que o que se divulga pelos órgãos oficiais”, comenta ele, destacando em seguida que “a polícia atua na falha dos organismos de fronteira”.“O grande problema do combate ao narcotráfico e ao tráfico de armas é justamente este: não se combate de forma efetiva nas fronteiras, sobrando para os estados fazerem esse papel, na repressão direta a esses grupos criminosos”, complementou.

A pesquisadora Mariana Possas, do Laboratório de Estudos sobre Crime e Sociedade (Lassos), da Universidade Federal da Bahia (Ufba), acredita que os números sobre armas na Bahia são subdimensionados.“Tem muito mais armas em circulação do que a gente pensa”, comenta ela.Mariana Possas também defende que falta de estratégias mais específicas para se combater o crime. “Do que adianta tirar tanta arma de circulação e os índices de homicídio não serem reduzidos de forma significativa? Se não está reduzindo os homicídios, é porque tem muita arma ainda com os criminosos”, analisa. Fuzil apreendido durante operação da Polícia Civil em Salvador (Foto: Robson Mendes/Arquivo CORREIO) Números De janeiro de 2014 a setembro deste ano, as polícias Civil e Militar da Bahia apreenderam, ao todo, 18.920 armas, o que dá uma média de 11 unidades apreendidas por dia.

A maioria é formada por revólveres (11.376), espingardas (4.026) e pistolas (2.316). Também aparecem na lista carabinas (96), garruchas (612), rifles (198), escopetas (122), submetralhadoras (82), metralhadoras (46) e fuzis (46). 

Em 2014, foram 4.549 apreensões; 4.962 em 2015; 5.381 em 2016, e 4.028 em 2017 (janeiro a setembro). Neste ano, de janeiro a setembro, houve a apreensão de 22 fuzis contra sete em 2016, aumento de 314%. Já as metralhadoras, foram 12 este ano, contra nove em todo ano passado. Os tipos de fuzis mais apreendidos são o M16, AR 5,56, o Airsoft, além do “sete meia dois”.

Essas armas são consideradas de grosso calibre (de 50 milímetros em diante) ou de grande poder de fogo, quando se consegue dar mais de 100 tiros por minuto. Também foram tiradas de circulação 1.032 espingardas, 2.181 revólveres e 555 pistolas.

Dentre esses armamentos, os que têm chamado mais atenção são os fuzis, um tipo de arma cada vez mais utilizado por traficantes, quadrilhas de assalto a banco e sequestradores.