Andreia Horta fala sobre sua primeira vilã: ‘atropela qualquer um’

Atriz interpreta Lucinda, mulher ambiciosa que tem dado o que falar na novela da seis, Tempo de Amar

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  • Laura Fernades

Publicado em 12 de novembro de 2017 às 06:20

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: João Miguel Júnior/TV Globo
Andreia Horta no filme sobre Elis Regina (1945-1982), com o qual venceu o prêmio de melhor atriz do Festival de Gramado por Foto: André Carioba/Divulgação

A cara de boa moça pode até enganar, mas a jovem Lucinda guarda uma personalidade ambiciosa e é capaz de passar por cima de tudo para conseguir o que quer. Personagem da atriz mineira Andreia Horta, 34 anos, Lucinda tem dado o que falar na novela das seis, Tempo de Amar, já que é a responsável por separar o casal de mocinhos Inácio (Bruno Cabrerizo) e Maria Vitória (Vitória Strada).

Depois de forjar a morte do jovem português para sua amada, Lucinda está fazendo de tudo para agilizar seu casamento com ele. A documentação necessária para dar entrada no casório chegou na última semana e, para garantir que Maria Vitória não atrapalhe seu sonho, Lucinda vai entregar a ela as supostas cinzas de Inácio, que teria morrido no incêndio do paiol, em São Vital. As cenas vão ao ar na próxima semana.

“Lucinda é uma personagem que me obriga a pensar e agir na direção contrária a tudo que acredito. É um exercício muito grande. Tendo a defender uma comunicação clara e direta, sou honesta. Lucinda mente, articula... Tenho sempre que elaborar o pensamento dela”, conta a atriz Andreia Horta, sobre a experiência de viver sua primeira vilã.

Amargurada, Lucinda sofre sérios problemas de autoestima, já que até hoje carrega no rosto a cicatriz que ganhou no dia da morte da mãe, durante uma explosão. Por isso, a moça não mede esforços para ser feliz, sustentando uma paixão obsessiva. Esse comportamento politicamente incorreto da personagem, reflete Andreia, contribui com o debate sobre a ética e os valores morais que regem a sociedade.

“Lucinda age de acordo com sua moral, pensando somente em si mesma, atropelando qualquer um que vá contra seus objetivos. É claro que isso gera colapsos, em algum momento da vida isso é severamente cobrado. Acredito que nesse momento em que estamos só haverá avanço se houver uma renovação nessas condutas” defende a atriz. “Do contrário, nos restarão os tenebrosos e miseráveis retrocessos do que há de pior na História da humanidade”, alerta.

Poder da arte Questionada sobre o que está por vir na história de Lucinda, Andreia desconversa. “Só sei que ela e Inácio irão se casar!”, conta rindo, sobre a vilã que sucede sua elogiada atuação no filme Elis (2016), de Hugo Prata. A cinebiografia sobre Elis Regina (1945-1982) rendeu a Andreia o prêmio de melhor atriz no Festival de Gramado do ano passado.

Para além de Elis e da vilã de Tempo de Amar, Andreia acumula papéis em trabalhos variados. Entre eles, estão a heroína Joaquina, filha de Tiradentes que interpretou na novela Liberdade, Liberdade (2016); a designer de joias Maria Clara, de Império (2014); a ex-prostituta Celeste, da série A Teia (2014); e a espevitada Valéria, da novela Amor Eterno Amor (2012).

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Andreia conta que se sente honrada de poder interpretar, ao longo de sua carreira, mulheres “muito brasileiras” e atuantes em seu tempo, como Joaquina e Elis. Ao mesmo tempo, a atriz destacou em entrevista recente que a sociedade precisa entender melhor o que é o machismo e suas sutilezas, que muitas vezes são despercebidas.

“Os homens que não admitem que uma mulher não se interesse por eles. As brincadeiras de mal gosto onde a mulher é colocada apenas como objeto de desejo e o cara acha que está arrasando ‘elogiando’ ela...”, enumera Andreia para o CORREIO. “Olha, se eu ficar aqui listando exemplos de machismo levaremos muito tempo! O bom é que hoje há um largo esclarecimento sobre isso”, pondera a artista.

A arte, acrescenta Andreia, tem importante papel no processo de ampliar esses debates e “alargar os limites do possível”. Radicalmente contra a censura artística, a atriz passou por uma saia-justa recentemente, no programa Encontro com Fátima Bernardes. O motivo foi uma senhora da plateia que condenou a performance La Bête, na qual o coreógrafo Wagner Schwartz apareceu nu e foi tocado nos pés por uma criança acompanhada pela mãe.

Assim como outros convidados, Andreia ficou incomodada com a postura da senhora da plateia e expressou publicamente sua insatisfação. Apesar disso, a atriz pondera que nem sempre tem esse tipo de postura. “Antes de tudo, sou uma cidadã e não defendo que eu seja obrigada a me posicionar publicamente sobre tudo. Tenho buscado qualidades de diálogo. A espetacularização de um assunto não significa qualidade de debate”, justifica.