Aninha Franco: Que pop é esse?

por Aninha Franco

  • Foto do(a) author(a) Aninha Franco
  • Aninha Franco

Publicado em 16 de dezembro de 2017 às 08:05

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Vamos falar de poesia. Somos popes popes popes de marré marré marré. Falar o quê de política? De Lula, condenado por corrupção, que ameaça voltar ao poder para salvar o país que desmontou? Lula não é a poesia de 2018. A poesia de 2018 é Bolsonaro que não está condenado e é a segunda opção dos eleitores brasileiros que cantam o cancioneiro sertanejo:  “Ela me fez comprar um carro, Logo eu que amava meu cavalo. Ela me fez vender meu gado Pra morar num condomínio fechado”. A poesia musicada é a manifestação mais forte de uma cultura. Ela nos dignifica quando entoamos o hino nacional, nos ufana com o hino do time de futebol, nos explica quando dançamos, cantamos e ouvimos. A maioria brasileira está sertaneja.   A poesia musicada é a consciência coletiva de um povo. Ela o explica. O rock historia os USA pós segunda guerra. O jazz e o samba historiam a Afro. América. Gregório de Mattos torneou nosso idioma cantando sua poesia com os despossuídos da cidade no século 17. Agora, Marília Mendonça é a força. Anitta e Pablo Vittar são as forças. A força está no YouTube. As visualizações correspondem aos youtubespectadores. Emissão e recepção fazem a força da indústria cultural. Anitta tem milhões de visualizações dependendo do que canta. Anitta e J Balvin – cantor colombiano de reggaeton – tinham 45.614.232 até 14/12, 16h23. Em Paradinha, quando tudo se move, 219.438.479 até 14/12, 16h23. Em Sua Cara com Pablo Vittar, 306.298.920  entre 30/7 e 14/12,16h28. Cantando Palco, com Gilberto Gil, as visualizações caem para 3.646. Cantando Vamos Fugir, também com Gil no Festival Combina, de 3/12, 2.401 visualizações até agora. A poesia de Gil é, de longe, a melhor coisa que eu ouvi Anitta cantar no Youtube. Mas eu que acho isso também sofro porque João Gilberto foi interditado pelos filhos mais velhos. O representante vivo da Bossa Nova está considerado incapaz de decidir qualquer coisa sobre qualquer coisa. E sofro porque Chico Buarque, a Poesia.Br nos Anos 1970, confessa que quando anda nos bairros chiques do Rio, onde mora, as pessoas “passam com seus carros grandes e gritam: “viado filho da puta!”, “viado, vai pra Cuba”, “vai pra Paris, viado”. E sofro quando leio que Bernardo Paz, o criador do Inhotim, que eu não conheço, mas que todos que conhecem elogiam, chora diante de um processo que pode levá-lo à cadeia por lavagem de dinheiro.  Percebe-se que um país está doente por essas notícias sobre seus artistas e criadores. Quando se lê um SOS do pensador Luiz Carlos Maciel, que morreu nesta semana, em 2015, “um tanto constrangido, (...), mas sem outro jeito”, aproveitando o Facebook,  “para levar ao conhecimento público o fato desagradável” de que estava sem trabalho e sem dinheiro. “Estou desempregado há quase um ano. Preciso urgentemente de um trabalho que me dê uma grana  capaz de aliviar este verdadeiro sufoco. Sei ler e escrever, sei dar aulas, já fiz direções de teatro e de cinema, já escrevi para o teatro, o cinema e a televisão. Publiquei vários livros, inclusive sobre técnicas de roteiro, faço supervisão nessas áreas de minha experiência, dou consultoria, tenho – permitam-me que o confesse – muitas competências. Na mídia impressa, já escrevi artigos, crônicas, reportagens… (...). Será que não há um jeito honesto de ganhar a vida com o suor de meu rosto?”  O Brasil que sabe pensar, ler e escrever, como Luiz Carlos Maciel (1938.2017) soube tanto, precisa poder trabalhar para fazer do Brasil um lugar melhor.  

 Aninha Franco é escritora e pensadora