Após debandada, São Francisco abre o Baiano feminino neste sábado

Quinze jogadoras deixaram o time junto com o técnico Mário Augusto e vão reforçar o Lusaca; Vitória defende o título

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  • Daniela Leone

Publicado em 16 de setembro de 2017 às 09:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho / CORREIO

Detentor de 15 títulos estaduais consecutivos, o São Francisco abre o Campeonato Baiano feminino de futebol, neste sábado (16), às 15h, contra o Terra Nova, no estádio Luís Eduardo Magalhães, em Terra Nova, a 84 km de Salvador. A estreia marca a escrita de um novo capítulo na história do clube, manchado por brigas, ressentimento e polêmica. 

O São Francisco que entrará em campo hoje é diferente daquele dos últimos 16 anos. À frente do time desde a fundação, em 2001, o técnico Mário Augusto Filgueiras e 15 atletas não fazem mais parte do clube. Eles foram “desligados” da agremiação entre junho e agosto, após a participação no Campeonato Brasileiro.

A crise no time de futebol feminino mais tradicional do estado começou em fevereiro, quando Mário Augusto deixou de ficar à beira do campo para se tornar coordenador técnico. Os treinadores que o substituíram, primeiro Ivo de Deus e depois André Beijoca, tiveram problemas de relacionamento com algumas atletas, que listaram as queixas em um manifesto publicado no Facebook no início deste mês.

Atual treinador do São Francisco, André Beijoca é alvo da maioria das reclamações. “Ele xingava a gente de porra, chamava de burra, gritava como se estivesse gritando com homem e a gente ficava sem chão”, desabafou a zagueira Andiara, 33 anos, ao CORREIO. “Ele causava intriga, deixava atletas sem viajar por causa de birrinha. Ele não respeitava as atletas e ninguém gostava do jeito que ele tratava a gente”, completou.

Atleta do São Francisco desde a fundação do clube, a zagueira Viola, 40 anos, se sente desrespeitada. “Começaram a desfazer da gente como atletas mais velhas, a excluir. Não é por que tenho 40 anos que sou um copo descartável. Um desrespeito. O escudo que eu carreguei no peito foi em vão?”.

Afastado do cargo de treinador a três jogos do fim da participação do São Francisco no Brasileiro, André Beijoca voltou a comandar os treinos na última segunda-feira e se defende. “Não xinguei, nem levantei a voz para nenhuma atleta. Quando decidi por atletas mais novas, causou uma frustração e fizeram rebeliões, disseram que não iriam treinar e tivemos embates dentro do grupo. Aconteceu uma insatisfação por conta das escolhas. Preciso de resultado. Você não pode jogar bola até 50 anos”, argumenta.

Até então coordenador técnico, Mário Augusto Filgueiras reuniu os episódios em um relatório que entregou, em junho, à Secretaria de Desenvolvimento Social e Esportes de São Francisco do Conde. “Estou no futebol feminino há 25 anos e vi coisas nesses últimos cinco meses que nunca vi. Uma falta de respeito com o futebol feminino e com as meninas. Contei tudo que aconteceu, mas o secretário tratou o relatório como uma coisa pessoal”, diz Mário Augusto.

“É um problema de relacionamento pelo que percebi nos últimos oito meses. Eles não se entendem, e a secretaria deixou que as situações institucionais entre eles fossem resolvidas. O que eu fiz enquanto secretário foi me abster de questões pessoais”, afirma o secretário de Desenvolvimento Social e Esportes de São Francisco do Conde, Aloísio Oliveira Souza. A prefeitura segue patrocinando o clube.

Mário Augusto conta que dois meses depois de entregar o relatório ficou sabendo que não fazia mais parte da coordenação do São Francisco. “Até hoje, ninguém me fez o comunicado. Fui informado pelos dirigentes dos outros clubes, após a reunião do arbitral do Baiano. Totalmente constrangedor”, lamenta.

Presidente do São Francisco desde a fundação do clube, Donato Conceição não se estende nas explicações. “Teve um descontrole através de Mário com a diretoria. Mário era quem conduzia a equipe em tudo, contratava, pagava, mandava embora. Eu não sabia de nada. Resolvi assumir todas as responsabilidades. Na verdade, o clube precisava ter uma renovação”, entende.

Viola não faz parte desta nova fase. Ela conta que soube que não estava mais nos planos do São Francisco por causa da criação de um grupo de WhatsApp. “Depois que terminou o Brasileiro, André Beijoca criou um grupo e só colocou quem ele queria que continuasse. Eles não falaram nada”, relata a zagueira, que recebia uma ajuda de custo de R$ 780. Ela e outras 14 atletas do antigo elenco do São Francisco agora defendem as cores do Lusaca.    Jogadoras do Galícia treinavam para a estreia, mas clube desistiu da disputa (Foto: Hilton Oliveira / Galícia EC) Galícia desiste do campeonato e Vitória já está classificado sem jogar  O Campeonato Baiano feminino de futebol terá 17 clubes, sete a mais que em 2016. Seriam 18, mas o Galícia desistiu da disputa na sexta-feira (15). Outra novidade é que o estadual começará e terminará no mesmo ano, o que não acontecia até a edição anterior. A equipe campeã será conhecida no dia 26 de novembro. Antes, o estadual feminino ocorria em dezembro e janeiro, no período de férias do calendário do futebol masculino no país.

O Galícia alegou a insegurança jurídica vivida pelo clube como justificativa para a desistência, que se estende também aos estaduais infantil e juvenil masculinos. Em nota, a Federação Bahiana de Futebol (FBF) anunciou que a tabela não sofrerá alteração e que o Galícia será considerado perdedor de todos os seus quatro jogos por 1x0.

A situação gera uma consequência exótica. Como cada grupo tem três times e os dois melhores colocados avançam à segunda fase, Vitória e Vera Cruz já iniciam o campeonato com a classificação garantida. Os dois compõem o grupo 6 junto com o Galícia e vão se enfrentar somente para definir o líder e o vice-líder.

Atual campeão, o rubro-negro estreia em Vera Cruz, na Ilha de Itaparica, domingo (17), às 15h. E a desistência do azulino deixará Vitória e Vera Cruz com um intervalo de um mês sem jogar, já que a partida de volta entre ambos está marcada para 21 de outubro, no Barradão.