Após invasão por PMs, terreiro suspende atividades

Corregedoria está avaliando declarações de PMs envolvidos; nenhum foi afastado

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  • Nilson Marinho

Publicado em 21 de agosto de 2017 às 12:40

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO

O terreiro Hunkpame Savalu Vodun Zo Kwe, localizado na Rua do Curuzu, no bairro da Liberdade, suspendeu as atividades desde a invasão por policiais militares do Batalhão de Choque (BPChq) da Polícia Militar, durante uma operação de combate ao tráfico de drogas no bairro, na quinta-feira (17). 

O pai de santo Amilton Costa tem tomado medicamentos para dormir desde o incidente - ele conta que chegou a ter armas apontadas para a cabeça pelos policiais. "Tenho tomado medicamentos de amigos para conseguir dormir. Até hoje estou nervoso pela situação. Se fosse em uma igreja, eles jamais invadiriam. Eles acreditam que lá (igreja) está Deus e aqui (terreiro) está o diabo", diz o doté (sacerdote).

Ainda segundo o líder religioso, o terreiro, um dos mais tradicionais do país, foi invadido por três policiais militares que quebraram a porta do templo e acessaram a parte sagrada da casa onde ficam recolhidos os filhos de santo que estão em obrigação religiosa. 

Além dos filhos de santos, que precisam ficar reclusos durante a obrigação religiosa, apenas crianças de até 12 anos podem ter acesso à area que foi invadida. Para ele, quem não obeceder às normas da religião pode ter a vida afetada espiritualmente."Sabemos que as consequências para quem não honra com isso são grandes. Quem é do axé sabe que Xangô é da Justiça", pontua o líder religioso.Investigação O departamento de comunicação da Polícia Militar informou, por meio de nota, que a Corregedoria Geral da PM está avaliando as declarações dos envolvidos na ocorrência e decidirá qual a medida administrativa a ser adotada para o caso. Ainda de acordo com a assessoria, não há elementos, até este momento da apuração, que motivem o afastamento dos profissionais das suas atividades.

"O Comando da PMBA está muito sensível e prestando todo o apoio necessário aos religiosos daquele templo sagrado com o objetivo de oferecer-lhes a reparação dos danos causados ao imóvel e também como forma de reassegurar que a Corporação respeita de forma incondicional todos os credos religiosos e entende que a ação tomou esse rumo muito em razão do nível de tensão e estresse no momento da ação policial", destaca a nota. O procedimento administrativo para apurar a conduta dos policiais envolvidos foi instaurado depois de uma reunião entre os representantes da polícia e do próprio terreiro, na manhã de sexta-feira (18).

Logo após o encontro, o comandante da 37ª CIPM (Liberdade), major Edmilton Reis, declarou que a operação foi planejada. Ele pediu desculpas e explicou que os policiais estavam em perseguição a dois criminosos que faziam parte de um grupo que atirou contra duas guarnições.

De acordo com o doté, o comandante garantiu que fará os reparos no templo. A porta arrombada já foi medida e uma nova será colocada no lugar.

Perseguição  Para o pai de santo Amilton Costa, não há dúvidas de que a invasão trata-se de uma perseguição religiosa. De acordo com ele, vizinhos evangélicos costumam ir até o templo fazer insultos e promover orações.

"Digo com toda certeza que isso foi um crime religioso. Segundo os policiais, eles receberam denúncias de que a gente estaria escondendo bandidos. Aqui é casa de negro, pobre, do Curuzu; se fosse em um terreiro do Caminho das Árvores, ninguém faria isso", desabafa.