Aprenda a fazer compostagem em sua casa

Prática possibilita a qualquer pessoa reutilizar os resíduos orgânicos

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  • Murilo Gitel

Publicado em 22 de outubro de 2017 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor/CORREIO

A baiana Clara Corrêa, profissional de mídias digitais, ainda morava em São Paulo quando conheceu a prática da compostagem, técnica que reaproveita os chamados resíduos orgânicos que as pessoas costumam jogar diariamente nas lixeiras, o que contribui para a sobrecarga dos aterros sanitários. Misturados ao lixo comum, esses resíduos podem gerar efluentes que contaminam os lençóis freáticos, a atmosfera e o solo.

“Foi por meio do projeto Composta SP (que conheci a prática), que visava a compostagem doméstica. Meu namorado e eu morávamos em um apartamento pequeno, mas conseguimos arrumar um cantinho para a composteira na varanda e foi uma experiência muito legal, pois, além de reduzir muito lixo, a gente conseguia material para a adubagem, tanto o chorume quanto o composto sólido, que chegávamos a doar para o condomínio, porque nossas plantinhas de casa não davam conta”, relata.

Antes disso, no entanto, ela teve que convencer o namorado a comprar a ideia.“Achava que iria feder e atrair bichos, o que não se confirmou. Quando isso ocorre é porque o usuário da composteira deixou de seguir as instruções corretas”, explica Clara, que também é criadora do blog Simplificando, onde dá dicas de sustentabilidade e qualidade de vida.O processo de vermicompostagem (um dos mais praticados) funciona assim: a pessoa adquire uma composteira, conjunto de três caixas de plástico dotadas de divisórias. Duas se revezam no recebimento dos resíduos orgânicos, como casca de frutas, restos de legumes e mesmo podas de jardim. A terceira caixa acumula o excesso de líquido produzido no processo, chamado de composto líquido. Colocam-se os resíduos orgânicos produzidos no dia pelo domicílio em uma das caixas e cobre-se com matéria vegetal seca (serragem ou folhas secas). Em aproximadamente 60 dias, as minhocas nas caixas já fizeram seu trabalho, se alimentando dos resíduos, transformando-os em húmus.

Experiências

Moradora de Jaguaribe, a professora aposentada Arly de Oliveira realiza a compostagem em casa há um ano.“Tem sido uma experiência ótima. Já tinha vontade de fazer porque jogava as cascas de frutas e verduras no lixo com pena. Agora não jogo mais no lixo e aproveito bem o adubo e o chorume nas plantas do jardim”, conta a professora.Mas também é possível fazer compostagem no apartamento. Um exemplo disso é o servidor público federal Pedro Pereira, morador de Alphaville que adquiriu uma composteira há seis meses. “Coloco ela no terraço. Lá em casa gostamos muito de plantas e temos uma satisfação enorme em gerar húmus de excelente qualidade e também biofertilizante”, ressalta.

Pereira afirma que no início teve alguma dificuldade para controlar as infestações de larvas no equipamento. “Mas o segredo é seguir à risca as orientações da forma como vai depositar a matéria orgânica na composteira e manter o ambiente dela equilibrado. Exige alguma atenção, mas nada que atrapalhe as nossas atividades diárias”, pondera.

Clara, por sua vez, recorda que alguns bichos, como mosquitos, foram atraídos, mas daí descobriu que era por conta do excesso de umidade. “Leva um tempo para ir ajustando. Todos os dias você aprende algo novo”. A blogueira conta que deu a composteira para a avó, que ficou encantada com a compostagem. “Minha avó confiscou a minha (risos), mas pretendo voltar a ter uma em curto prazo”, projeta.

Negócio

Em Salvador, a turismóloga Joana Kalid percebeu há cerca de dois anos que havia uma possibilidade de empreender com a compostagem. Depois de uma necessidade particular de gerar menos impacto na geração dos seus resíduos domésticos e ao perceber que a cidade carecia de opções de venda das composteiras, ela resolveu criar a Compostar, em Jaguaribe.

“O mercado de turismo foi muito afetado com a crise, então, como já tinha simpatia pelo tema, decidi fazer cursos, me preparei e vi na compostagem uma oportunidade”, conta. Ela compra as caixas de um fornecedor e realiza a montagem da composteira. “Entrego um kit pronto para uso doméstico ou comercial, com as minhocas e tudo, e forneço assistência aos clientes, além da montagem”, garante.

As composteiras de Arly e Pedro, por exemplo, foram adquiridas na Compostar, que comercializa equipamentos de diferentes tamanhos e preços, a depender da necessidade. “Os modelos variam de R$ 210 a R$ 500”, propagandeia Joana. A empresária comemora o crescimento da demanda, mesmo em um cenário de recessão. “Diante do aumento que tivemos nesses últimos meses, a Compostar deve fechar o ano de 2017 com um crescimento de quase 40%, um número bem positivo que me deixa otimista para 2018”. A turismóloga criou um negócio para vender composteiras e ensina como fazer um equipmaneto caseiro (foto: Mauro Akim Nassor)

Feita em casa

Quem não tem condição de adquirir uma composteira profissional pode fazer a própria, com três baldes ou garrafas PET. Joana Kalid dá seis dicas de como proceder:

1) Um balde pode servir para coletar o chorume e os outros dois como caixas digestoras empilháveis para compostar;

2) Depois de um mês de compostagem, quando um dos baldes ficar cheio, troca-se pelo outro e o que estava vazio vai para cima;

3) Aplica-se pequenos furos nos baldes que fica por cima. Os furos ficam na base e na lateral das duas caixas digestoras;

4) Daí basta retirar o húmus produzido pelas minhocas para utilizar nas plantas e repor os resíduos com três ou quatro dedos de composto. Para tirar o húmus, você bota a caixa cheia no sol, pois as minhocas tendem a se esconder, uma vez que são sensíveis a claridade. Daí tira-se as camadas do húmus até deixar uns três dedos (5cm) de húmus, que devem ficar com uma quantidade de minhoca, e todo o processo inicia novamente. Sempre fazendo rodízios a cada um mês.

5) Você torna a encher o balde com seus resíduos orgânicos.

6) O chorume também é um excelente fertilizante e deve ser diluído de uma parte para 10 de água, a fim de ser usado nas folhas e em volta da raiz.

Quanto a composteira de garrafa PET, Joana explica que basta cortar o recipiente na altura do bico e encaixá-lo posteriormente no copinho. “Na parte de cima do funil você coloca folhas secas, o composto de terra (húmus com minhoca) e os resíduos. Deve-se tampar tudo com as folhas secas. Se puder colocar uma meia velha ou meia calça para evitar a incidência de mosquitos é interessante”.

Contudo, ela alerta que pode haver alguns inconvenientes, como um dos baldes não suportar o peso e ceder, além de dificuldades quanto a fluidez do ar que é necessária para o processo de compostagem. Por isso, a composteira de garrafas PET também não seria a mais prática e adequada. “A cada três litros você composta um, quantidade que uma pessoa gera em mais ou menos dois dias. Seriam necessárias pelo menos 15 garrafas PET espalhadas em casa para compostar um mês de resíduos”, argumenta.

Desperdício

De acordo com dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), mais da metade de todo o resíduo que produzimos em casa (52%) é orgânico, ou seja, formado por cascas de frutas, verduras e outros rejeitos alimentares, como por exemplo o pó de café, sachês de chá, casca de banana, cascas de laranja, entre outros.

O Brasil produz hoje 79,9 milhões de toneladas de resíduos sólidos por ano. Esse lixo ocupa uma área equivalente a 206 estádios do Morumbi, em São Paulo, equipamento com 154.520 m² e capacidade para 67 mil pessoas. Tamanha quantidade ocupa uma área onde caberiam 13,8 milhões de pessoas, algo próximo à população da Bahia.

Quem realiza a compostagem dá a sua contribuição para reduzir essa geração de resíduos.“É uma experiência literalmente viva. Você trata a composteira como se fosse um ser vivo. Eu acompanhava os resultados que dava, se atraía bichos, se estava muito úmida ou seca, um cuidado muito dinâmico. Acabou virando quase que um pet novo dentro de casa (risos). Recomendo muito”, conclui a blogueira Clara Corrêa.