Artistas se reúnem para prestar homenagens a Joãozito

O artista plástico morreu neste domingo (15); amigos falam sobre os projetos que ficam em mãos incertas

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  • Vanessa Brunt

Publicado em 15 de outubro de 2017 às 17:14

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução do Facebook

Na manhã deste domingo (15), o artista plástico e cenógrafo João Pereira, mais conhecido como Joãozito, faleceu por volta das 9h. Além das obras que criava constantemente, o artista era curador e empreendedor, responsável por diversas exposições e projetos culturais na Bahia. Após o ocorrido, artistas pegaram aviões e, outros, carros, para prestar homenagens em um momento de despedida. O corpo do artista será cremado na Capela C, do Jardim da Saudade, nesta segunda-feira (16).  Jordan Martins, artista plástico de Chicago (Estados Unidos), veio da terra natal para visitar o amigo nesta semana, e foi para a capela, onde não imaginava ter que parar. "Nos despedir dele é também celebrar uma vida admirável, uma inspiração imensa. Sinto-me triste, mas muito feliz por ter tido a honra de conhecer alguém tão brilhante. Ele mostrou pros amigos vários caminhos nas artes e na vida. A maior arte dele é a vivência que carregava, os valores que tinha. Ele não fazia só desenhos e pinturas, uma conversa na mesa com ele era uma obra de arte", pontua Jordan. "Cheguei na sexta-feira pela tarde para fazer uma visita. Sabia que ele estava muito doente, mas rezava para que não fosse uma despedida. Pelo menos cheguei a tempo de ver um sorriso no rosto do meu amigo. Ele estava muito debilitado, mal podia falar, pôde mostrar seu carinho mesmo assim", continua. "Ele e Lanussi não queriam preocupar as pessoas. Só soube da doença em 2015, quando passei por aqui. Pouca gente ficou sabendo, até porque ele continuava criando", finaliza o artista. O radialista, produtor e diretor teatral baiano, Fernando Guerreiro, compareceu à capela para a despedida e afirmou sobre o quanto Joãozito era o 'pai dos conselhos' para os colegas. "Conheço Joãozito há três decadas, o conheci como artista plástico e aí vieram todas as ramificações. A caracterista mais marcante dele era não ter medo de jogar. Em qualquer onda, ele surfava, e tirava algo artístico daquilo. Qualquer um que o conhecesse, o procurava para conselhos, ele fazia arte em tudo. E quem era do âmbito artístico e cultural, sempre pedia a opinião do Joãozito para ideias novas ou para incrementos", diz Guerreiro. Moacyr Gramacho, atual diretor do Teatro Castro Alves, que trabalha também no ramo da cenografia, foi mais um dos nomes reunidos na capela. Ele fala sobre o maior reconhecimento que o amigo merecia. "Joãozito ficava muito nos bastidores, então poucas pessoas sabem que a maior parte das exposições soteropolitanas e dos projetos nas áreas de tipografia, intervenção e instalação, tinham dedo dele. Ele era um verdadeiro artista contemporâneo, um artista critico e que precisa ser reconhecido, agora e sempre", pondera. A ilustradora baiana Flávia Bomfim também esteve no momento para prestar homenagem. Em dezembro de 2016, a artista criou a exposição Só Cabeças, no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA), ao lado de Joãozito e Lanussi. Com o artista visual, Flávia organizou ainda o Festival de Ilustração e Literatura Expandido. "Joãozito trouxe expansão entre linguagens pra o meu festival. Nunca vi alguém conversar com tantos formatos ao mesmo tempo e saber levar um pouco de cada formato pra o outro. Fiz trabalhos com ele nos últimos três anos e posso afirmar que o grande poder de João era o de contaminação de sonhos. Ele criava um mundo impossível e fazia com que acreditássemos que o impossível poderia ser resolvido e realizado da maneira mais simples e possível. Ele mostrava o simples no complexo e o complexo no simples o tempo inteiro. Perdemos, aqui na bahia, um dos últimos grandes artistas, no sentido transgressor e clássico da palavra simultaneamente", diz. Rose Lima, que trabalha na direção artística do Teatro Castro Alves, conta que João estava em um projeto chamado Ativa, do qual muito falava nas últimas semanas de vida. Nele, o curador pretendia restaurar locais abandonados pela cidade, transformando-os em novos projetos culturais. "Foi um destaque da cenografia, da criação de exposições; uma pessoa super competente, generosa e que nos fazia vibrar no aguardo das novas ideias", conta Rose. O também artista plástico soteropolitano, Anderson Santos, conta sobre a paixão de João pela música. "Foi o que nos uniu. Trabalhamos em trilhas pra espetáculos de dança durante muito tempo. Fizemos toda a trilha do trabalho Otimismo, apresentado na Aliança Francesa. Ele amava compôr, tinha muitos talentos. O mundo perde um ser raro, principalmente por essas interligações que ele fazia e poucos fazem", lamenta Anderson. O cineasta Fábio Rocha, também de Salvador, afirma que a Bahia ficou orfã. "Ele tirava essa normatização das coisas, ele dava desviadas de percursos, pensava em respeito, mas pensava à frente. Nos encontramos semana passa e conversamos muito sobre arte contemporânea. Não sei se existem artistas com essa multiplataforma dele, fica uma lacuna no mundo", expressa Fábio. Paulo Márcio, que trabalha com audiovisual, conta que todos os amigos de Joãozito têm agora uma missão. "Ele falou comigo sobre uma exposição que queria fazer. Sempre assim, com novas ideias. Ele guardava tantas artes nunca mostradas, precisamos dessa veia criativa dele para fazer uma exposição de homenagem, precisamos", Paulo deixa a expectativa. Nas redes sociais, as condolências chovem. Pessoas como Guache Marques, desinger gráfico da TVE, fazem postagens de despedida e agradecimento: "Hoje, as artes visuais amanheceram um pouco mais tristes. O artista Joãozito nos deixou orfãos da sua presença e da sua grande Arte. Que Deus o acolha com toda sua generosidade. Um grande artista que se vai. Um ser simples e maravilhoso que encantou a todos com a sua arte. Que vá em Paz!", escreveu Guache. Confira galeria com artes de João e mais detalhes clicando aqui.