As Boas Maneiras é um raro exemplar do cinema fantástico brasileiro

Filme revisita lenda do lobisomem e mistura terror, drama e crítica social

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  • Roberto Midlej

Publicado em 14 de junho de 2018 às 09:24

- Atualizado há um ano

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Contam-se nos dedos os filmes brasileiros que podem ser considerados representantes do cinema fantástico. É inevitável e lembramos de José Mojica Marins, com os longas de terror de seu personagem mais popular, o Zé do Caixão. Fora isso, são experiências muito pontuais de alguns cineastas.

Eis que a dupla de diretores paulistas Marco Dutra, 37, e Juliana Rojas, 36, chega com As Boas Maneiras, longa que obteve muito sucesso nos festivais por onde passou e colheu ótimas críticas. Em Locarno, na Suíça, recebeu o Leopardo de Prata, segundo prêmio mais importante do evento, concedido pelo júri oficial. No Festival do Rio, ficou com seis prêmios, incluindo Melhor Longa de Ficção, Melhor Atriz Coadjuvante (Marjorie Estiano) e Melhor Fotografia.

Em As Boas Maneiras, Marjorie Estiano vive Ana, uma caipira endinheirada que está grávida e contrata a auxiliar Clara (Isabél Zuaa) para ajudá-la na organização da casa e para ser a futura babá da criança.  (Foto: Divulgação) Mas, quando o comportamento de Ana começa a ficar estranho, uma nova relação se estabelece entre as duas mulheres, que começam a se aproximar, desenvolvendo uma forte ligação afetiva, apesar de suas diferenças. A relação entre as duas se torna cada vez mais íntima, enquanto elas começam a temer que o bebê seja, na verdade, uma criatura monstruosa ou, mais exatamente, que seja um lobisomem.

Embora à primeira vista possa ser classificado como um filme de terror, As Boas Maneiras transita entre diversos gêneros, como disse Marjorie em uma entrevista no programa Altas Horas: “Sou apaixonada por esse filme. Ele é tanta coisa junta: é uma crítica social, é terror, drama, comédia. É cheio de metáforas e tem muitos significados”.Lobisomem “A lenda do lobisomem tem várias similaridades no mundo todo. No Brasil, ele tem uma influência forte da moral católica. Transgressões religiosas podem fazer com que você vire um lobisomem nessas histórias: se não for batizado, se cometer incesto, se fizer sexo com um padre... Importava mostrar esse monstro que tem consciência”, explica Juliana Rojas.

Juliana e Marco estudaram cinema na Universidade de São Paulo, onde se conheceram. Marco dirigiu o ótimo suspense O Silêncio do Céu (2016), que passou rapidamente nos cinemas e está disponível na Netflix. Juliana escreveu e dirigiu o musical Sinfonia da Necrópole (2014), que recebeu o Prêmio da Crítica em Gramado. Trabalhou ainda como roteirista das séries Supermax (Rede Globo) e 3% - Segunda Temporada (Netflix).

Uma coincidência surpreendente: o nome da criança que interpreta o lobisomem é Miguel Lobo, que faz sua estreia no cinema.