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Darino Sena
Publicado em 22 de agosto de 2017 às 06:00
- Atualizado há um ano
“Vocês, da imprensa de São Paulo, têm que olhar um pouquinho diferente pra todo mundo, porque o Brasil é muito grande”. Foi com essas palavras que Vagner Mancini encerrou a entrevista coletiva depois do Vitória dele quebrar a invencibilidade do Corinthians (0x1) no Brasileiro, em pleno Itaquerão. Assim que Mancini acabou de falar, comecei a observar, pela TV fechada, as reações da imprensa sulista à justa reclamação de bairrismo sofrido pelos clubes fora do eixo Rio-São Paulo. Ainda no sábado à noite, num canal que transmitia a coletiva ao vivo, o apresentador e o comentarista disseram que não iam se meter numa “desavença pessoal” de Mancini com um radialista. Lavaram as mãos. Ao longo desse mesmo programa, sempre que se referia ao feito rubro-negro, o apresentador dizia “pra depois o Mancini não reclamar que a gente não fala do Vitória” ou “viu aí, Mancini?”. Deboche. Em outro programa, numa emissora diferente, já no domingo de manhã, o bairrismo foi pouco discutido. Resolveram focar no fato de Mancini ter indagado se Felipe Garraffa, da rádio Bandeirantes/SP, era corintiano. Ele foi o repórter que provocou a reação de Mancini, ao afirmar que o Vitória tinha feito apenas uma finalização no jogo. Na verdade, o Leão deu cinco chutes, sem contar um gol mal anulado de Kanu. Torcer pra um time não torna ninguém desqualificado pra fazer uma pergunta, é verdade. O que incomodou o técnico e a todos nós que trabalhamos e/ou torcemos do lado de cá, é o menosprezo constante com o qual nosso futebol é tratado lá. E que deu margem de ser contestado a partir da completa falta de conexão da pergunta de Garraffa com a realidade. Se ele é corintiano ou não, pouco importa, realmente. O que importa é o bairrismo, que não pode ser relativizado, atenuado ou esquecido. Já deu. Nós, baianos, pernambucanos, cearenses, enfim, nordestinos, também assinamos os canais por assinatura sediados no Rio de Janeiro e em São Paulo. Não podemos ser simplesmente esquecidos por eles. São veículos nacionais e não locais. Também pagamos essa conta. Temos o direito de sermos levados em conta. O mesmo vale para canais de TV abertos, sites e outros veículos do mesmo alcance. É revoltante ver o clima de velório que se instaurou na transmissão da partida de sábado após o apito final. Análises, entrevistas, narração e imagens apenas destacavam a derrota do Corinthians e não a vitória heroica do Vitória. A vítima da vez foi o rubro-negro baiano. Mas não foi exceção. Sabemos que o bairrismo é regra. Por isso, até os torcedores do Bahia deixaram as rusgas clubísticas de lado e exaltaram a reação de Mancini. Postura díspar dos programas citados teve o jornalista André Rizek, do Sportv. No Redação de ontem, Rizek deu razão à reclamação do técnico, admitiu que cariocas e paulistas olham pro país de uma forma diferente, incluiu mineiros e gaúchos como vítimas e reconheceu a necessidade de se debater mais a questão. Sábado, Vagner Mancini conseguiu duas vitórias espetaculares. Derrubou a invencibilidade de 34 partidas do time mais eficiente do Brasil, na casa deles. E, enfim, colocou na pauta de discussão nacional um assunto que incomoda tanta gente e que ninguém tinha coragem de abordar. Darino Sena é jornalista e escreve às terças-feiras