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As mudanças no meio-campo tricolor


 

  • Darino Sena

Publicado em 16/01/2018 às 05:14:00
Atualizado em 17/04/2023 às 23:13:07
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O ponto forte do Bahia ano passado era o meio de campo. Edson, mais recuado, fazia a proteção aos zagueiros e dava agilidade à saída de bola com um passe preciso. Renê Júnior começava a distribuir o jogo do campo defensivo. Quando resolvia partir com a bola dominada, ia até a intermediária adversária pra dar assistências. Isso quando não resolvia ele mesmo invadir a área para finalizar. Assim, marcou gols importantes. Edson e Renê formaram uma senhora dupla de volantes. 

Mais à frente, abertos pelos lados, o Bahia tinha outra dupla que se complementava – Zé Rafael e Allione. Meia-armador, o argentino geralmente afunilava as jogadas para organizar o time ou acionar o chute forte de média distância, decisivo contra o Vitória na semifinal da última Copa do Nordeste, por exemplo. Já Zé Rafael dava opção de velocidade no lado oposto ao do gringo. Considero Zé Rafael um jogador superestimado. Não o vejo decidir tantas partidas (com gols ou assistências) quanto o cartaz que  parte da torcida e imprensa (sobretudo a do Sul do país) confere a ele, mas é inegável a importância de Zé para o time. 

O quarteto citado montou a espinhal dorsal do meio de campo nos melhores momentos do Bahia na temporada. Não incluí Régis porque ele só jogou o primeiro semestre. No Brasileirão, não conseguiu se manter em forma e sumiu. Para este ano, o Bahia perdeu Renê e Allione, dois de seus jogadores mais criativos. A dupla definia a forma de jogar do time, sobretudo na Fonte Nova. Como o Bahia vai se comportar sem eles?

Renê é o que na Inglaterra se chama de “box to box” - joga de uma intermediária a outra, destruindo e construindo. Um jogador raro no Brasil. Jean e Renê foram os melhores do Bahia em 2017. Jean foi o mais decisivo. Renê, o mais regular. Nilton e Elton, os volantes que chegaram, não têm a mesma desenvoltura e velocidade pra fazer o que Renê faz. A ausência de um volante com chegada constante ao ataque deve dar bastante liberdade aos laterais – Mena e Nino Paraíba – para apoiar. 

Pro lugar de Allione, Guto Ferreira pode usar o chileno Mena. Foi pela ponta que o ex-jogador do Sport viveu sua melhor fase ano passado, sob o comando de Vanderlei Luxemburgo. Mas quem chegou com status de titular pra posição e substituto de Allione no time titular ideal foi Elber. O ex-cruzeirense tem estilo distinto do argentino. É mais atacante que armador. A parceria de Elber com Zé Rafael tende a deixar o Bahia mais rápido, mas o time perde em posse de bola. Nesse contexto cresce a responsabilidade de Régis na criação. Sem os construtores Renê e Allione, a organização da meiuca tricolor vai depender ainda mais de Régis, o maior investimento do clube para a temporada. Capacidade técnica para corresponder, Régis já mostrou que tem. O que precisa é de resistência física, pra que não seja destaque apenas até o meio da temporada.

O Vitória perdeu um de seus principais jogadores em 2017, com a ida de David pro Cruzeiro. Em contrapartida, ao menos por enquanto, o melhor jogador do time no Brasileirão ficou – Tréllez. Ele vai ter a companhia de velhos conhecidos na frente – Kieza e Neilton também permanecem. A melhor contratação foi a do experiente Lucas, que tem tudo para acabar com um problema crônico do ano passado – a falta de um lateral-direito confiável. As outras contratações, como Bryan e Denilson, por exemplo, são incógnitas. O que preocupa é a ausência, até agora, de gente que supra a principal carência da equipe no ano passado – a falta de criatividade no meio de campo.

Darino Sena é jornalista e escreve às terças-feiras