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Ivan Dias Marques
Publicado em 23 de fevereiro de 2018 às 05:00
- Atualizado há um ano
“Lixo humano”. “Você devia ser espancado para ver como é bom”. “Você merece morrer”. “Seu merda”. Quem vê essas ofensas poderia achar que a pessoa em questão cometeu um crime hediondo. Um estupro de uma criança. Talvez assassinou a mãe a sangue frio. Mas o grande crime nas redes sociais, que desencadeia esse tipo de ‘mimo’, é um só: ter opinião. No caso, opinião contrária à daquele que ofende. A falta de educação e ignorância - porque isso não é intolerância - não elegem alvo fixo. Pode ser sobre política, pode ser sobre esporte. Basta despertar qualquer paixão pessoal. De Umberto Eco a Camille Paglia, diversos filósofos ou críticos sociais já deram um veredicto que, racionalmente (obviamente), faz todo sentido. A internet deu voz a uma horda de ignorantes. Me parece que a questão pode ainda ser ampliada. A internet é excelente para quem busca conhecimento. Te dá uma amplitude de conhecer opiniões, estudos e informações de qualquer parte do planeta. Ao mesmo tempo, para quem é estúpido, é uma ótima fonte para reverberar e ampliar sua estupidez a níveis estratosféricos. E, obviamente, os animais se reconhecem e, como uma horda, multiplicam a estupidez. Se houver um mau caráter, que nada tem de estúpido, o pacote está completo. Pedir consciência, ou até sensibilidade (vá lá), para compreender que o virtual e o real são um só, sim, no caso do emissor da opinião, é um exercício que se mostra, cada vez mais, ser um desperdício de tempo. E assim, a ignorância cresce e a espiral do silêncio de Elisabeth Noelle-Neumann toma conta daqueles que divergem do pensamento (?) comum, vago e unilateral. A massa não quer ser contraposta, não quer ser questionada. A massa paquiderme quer estar certa, nem que, para isso, seja incoerente com os próprios argumentos frágeis. Melhor, realmente, talvez seja deixar os ignorantes se retroalimentarem com suas próprias verdades, criando a chamada idiocracia. Prefiro o debate, a troca de ideias, mesmo que divergentes, mas onde haja, no mínimo, respeito.
Gelo e neve O mais curioso da participação brasileira nos Jogos Olímpicos de Inverno é a inversão de papéis em relação ao que costuma ser a realidade. Esportes de gelo e neve, para nós tropicais, parecem exclusivo de quem tem uma conta bancária daquelas, afinal, é preciso viajar bastante ou morar fora do país para conseguir treinar em alto rendimento - o que não é exclusividade deste tipo de esporte, verdade seja dita. Assim, quando o esquiador Michel Macedo reclama, com razão, de que outros atletas contam com dois técnicos/auxiliares para montar seus esquis e ele faz o trabalho de próprio punho, encontramos essa inversão, ainda que a falta de estrutura não seja exclusiva dele. No mais, nosso orgulho esportivo está lá, quando vemos Michel superar as dores para competir, o pessoal do bobsled surpreendendo e a patinadora Isadora Williams tendo um desempenho brilhante e se esforçando para se comunicar em português. Ela, filha de uma brasileira com um americano, nasceu nos EUA, vive lá, mas desde criança optou por representar o Brasil numa daquelas histórias que adoçam qualquer dia. *Ivan Dias Marques é subeditor e escreve às sextas-feiras