Aulas gratuitas de bicicleta e carona a pé para humanizar as cidades

Conheça iniciativas criativas em Salvador e outros locais na área de mobilidade urbana 

  • Foto do(a) author(a) Andreia Santana
  • Andreia Santana

Publicado em 28 de agosto de 2017 às 00:03

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Quando a servidora pública Marcella Marconi, 34 anos, começou a andar de bicicleta pelas ruas de Salvador encontrou muita ajuda e recebeu dicas valiosas de gente que era mais experiente em enfrentar o trânsito da capital na base das pedaladas. Por isso, quando a Rede Bike Anjos se expandiu para cá, no final de 2013, ela não pensou duas vezes e se inscreveu como voluntária. 

O primeiro evento na cidade aconteceu no ano seguinte, em maio. De lá para cá, duas vezes por mês, outros cicloativistas voluntários como Marcella, que também é uma das coordenadoras da iniciativa em Salvador, se juntam para ensinar interessados de todas as idades a andar de bicicleta, de acordo com as normas de segurança no trânsito.

As EBAs (Escola Bike Anjo), nome dado às aulas, acontecem gratuitamente, das 8h às 11h, sempre aos domingos: no segundo de cada mês, em Piatã; e no último, no Campo Grande. Para participar, basta chegar a um dos locais, retirar a senha e esperar a vez de ser atendido por um dos ciclistas. No total, conta Marcella, existem cerca de 250 voluntários inscritos na plataforma da rede em Salvador. Eles se revezam para prestar serviço nas EBAs, onde em média estão 40 voluntários a cada encontro.

“Nosso foco é em quem não sabe andar de bicicleta e também em quem já sabe, mas quer ficar mais experiente no trânsito”, explica a coordenadora, para quem participar da experiência é “gratificante, porque dá muita satisfação ajudar a realizar o sonho das pessoas. Chegam idosos nas aulas dizendo que sempre desejaram aprender a pedalar e isso nos dá um sentimento de responsabilidade e, no meu caso, que tive ajuda no começo, é uma forma de retribuição”, afirma Marcella Marconi.

Para se manter, a Bike Anjos vende camisetas, brindes e água durante as aulas. “Esse dinheiro serve para retroalimentar o projeto. Vendemos camisetas para confeccionar mais camisetas, por exemplo”, acrescenta Marcella.

O grupo também está aberto a realizar projetos para empresas interessadas em vincular seu nome à iniciativa, “desde que a empresa tenha valores que combinem com o que acreditamos”, diz a coordenadora voluntária.

Cicloativismo feminino

E que valores são esses? Os mesmos que movem outro grupo de Salvador, como o La Frida, também de cicloativismo: a crença em construir uma cidade melhor e com trânsito mais seguro.

O La Frida tem foco na representatividade feminina e no empoderamento de mulheres negras da periferia da capital. O projeto junta bicicleta, arte de rua e mobilidade urbana. Durante o seminário Cidades, do Fórum Agenda Bahia 2017, uma das fundadoras, Lívia Suarez, irá participar do painel Cultura da Vizinhança: a mudança começa na sua rua, que acontece em 30 de agosto, das 16h às 17h30, no auditório da Fieb (Stiep). O evento é aberto ao público.

Criado em 2015, além de promover o uso da bicicleta, o La Frida também mira no incentivo ao empreendedorismo. Dois projetos paralelos são derivados dele, o Preta Vem de Bike, que ensina mulheres negras da periferia a andar de bicicleta; e o Bicilafrida, de implantação de bicicletários em universidades e escolas públicas de Salvador para incentivar o uso da ‘magrela’ entre alunos e funcionários. Para manter as iniciativas funcionando, o La Frida possui uma loja virtual com entregas feitas de bicicleta.

A pé em São Paulo

Da capital paulista vem outro exemplo de projeto cidadão na área de mobilidade urbana, o Carona a Pé, que nasceu da iniciativa isolada de uma professora e hoje virou startup. Esse projeto também foi criado em 2015 e reúne a comunidade escolar que mora próxima para formar grupos que percorrem, caminhando, o trajeto de ida e volta da escola, seguindo rotas pré-determinadas.

A intenção é ocupar o espaço urbano, despertando nas crianças e em seus pais a importância de andar pelas ruas da cidade para torna-las mais humanizadas. Os adultos que fazem parte do projeto ficam responsáveis por conduzir determinada quantidade de crianças para as aulas, em uma rede de solidariedade que mostra que a transformação social pode nascer na vizinhança e a partir daí, viralizar e inspirar políticas públicas. 

Entre os benefícios desse incentivo às caminhadas estão a diminuição de carros na rua, o que impacta positivamente no trânsito; a aproximação entre as pessoas, estabelecendo laços de confiança; e a criação de vínculos com o entorno, o que ajuda a tornar as cidades mais amigáveis para seus moradores.

Saiba mais:Bike AnjosLa FridaCarona a Pé