Biblioteca com cara de startup atrai alunos de escola pública em Salvador

Espaço com 500 livros tem decoração moderna e proposta sustentável

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  • Raquel Saraiva

Publicado em 28 de novembro de 2017 às 01:00

- Atualizado há um ano

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. por Foto: Arisson Marinho/CORREIO

Um espaço com paredes grafitadas, uma bicicleta que gera energia, além de pufes, mesas e cadeiras coloridos, além de móveis sustentáveis. Parece que a descrição é de uma startup, mas se trata da Biblioteca Dinâmica, inaugurada nesta segunda-feira (27) na Escola Leopoldo dos Reis, no bairro dos Dois Leões, em Salvador. O espaço acolhedor e cheio de cores e atrativos encantou os alunos da unidade.

Isabelle Cerqueira, 13 anos, se surpreendeu com a estrutura. “Ficou bem melhor do que eu pensava. Gosto muito de ler, acho que vou vir aqui toda semana”, conta a aluna do 7º ano.

A escola funciona em período integral, das 7h30 às 15h30, e tem 350 alunos do ensino fundamental, a maioria com idades entre 6 e 15 anos.

O espaço conta com 500 livros novos, escolhidos de acordo com a série e idade dos alunos. “Temos livros de literatura infantojuvenil, livros sobre  afrodescendentes, livros da literatura indígena, literatura brasileira… O objetivo é que sejam livros que estimulem o prazer e o desejo de ler”, conta Kátia Rocha, coordenadora pedagógica do projeto Biblioteca Dinâmica. Em breve, a biblioteca será também aberta a todos os moradores da região.

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A estudante Bruna dos Santos, 12, aprovou o novo espaço. “Ficou mais confortável e eu gostei do estilo. Acho que vai chamar a atenção de quem não lia livro e vai passar a ler”, acredita a estudante do 6º ano.

Os colegas afirmam que ela é quem mais pega livros em toda a escola. “Às vezes, é mais de um por semana”, concorda Bruna. Com a nova biblioteca, ela promete ler ainda mais - além de levar livros para seus familiares lerem em casa.

Kátia Rocha acredita que o novo espaço é um fator de mudança para melhorar a formação dos jovens da região. “A biblioteca foi criada para ser um lugar de educação. O fato de ter livros e espaço para poder trabalhar a produção de conhecimento e formação de leitores vai mudar a rotina da escola”, prevê.

Ambiente de estímulo à leitura A diretora da escola, Cláudia Moura, conta que os alunos também terão aulas no espaço para estimular o interesse maior pelos estudos. “Na era da tecnologia, com computador, tablet e celular a escola parece quadrada para eles. Ela precisa trazem ambiente que eles queiram usar, e eles estão ansiosíssimos. Nós vamos fazer um cronograma porque todos querem ser os primeiros a usar”, diz a diretora. As regras de uso e manutenção do espaço serão estabelecidas pelos próprios estudantes.

Logo após a inauguração, os alunos já começaram a aproveitar o local. Pablo Nascimento, 15 anos, mal entrou na biblioteca, se espalhou em um pufe e se entreteu com a leitura do livro 'Onde as Árvores Cantam', de Laura Gallego Garcia. “Gostei dele, já quero levar pra casa. Gosto muito de livro de aventura”, disse o aluno do 8º ano.

Pablo costumava pegar livros na antiga biblioteca da unidade.“Eu prefiro ficar jogando, mas a leitura é uma diversão mais importante. Ela me ajuda a falar melhor com as pessoas, a saber agir em muitos momentos e a escrever também”, conta o estudante. “Se você quiser crescer na vida, ler é muito importante”, conclui.Ambiente sustentável “A ideia do projeto é ressignificar espaços”, conta André Brasileiro, gerente de projetos do Instituto Educare. “A gente tinha uma sala pouco aproveitada e fizemos um espaço interativo e lúdico”, comenta.

O espaço também é sustentável: mesas que seriam descartadas na escola foram consertadas, ganharam nova pintura e agora fazem parte da biblioteca. Para a nova estrutura também foram utilizados pallets de madeira (estrados utilizados para transporte de carga) e caixas de leite e suco.

Outro atrativo ambiental para os alunos é a bicicleta geradora de energia alternativa, que fica no local - ao pedalar a uma determinada velocidade, uma fileira de luzes de LED que decora o ambiente é acesa. “A ideia da bicicleta é uma forma de agregar energias renováveis ao espaço”, conta Brasileiro. “Isso reafirma nosso compromisso com questões ambientais e socioculturais em Salvador e toda a região metropolitana. A gente sabe que incentivando a leitura agora teremos uma geração mais consciente no futuro”, diz Alessandro Diamantino, membro da equipe de relações institucionais da CCR, empresa envolvida no projeto.

David Alan, 12, foi um dos alunos que fizeram fila para usar a bike. “Gostei de tudo aqui, é melhor pra ficar lendo que a biblioteca antiga. Achei a bicicleta muito legal e os livros também”, diz o estudante do 6º ano, que costuma compartilhar com os amigos as histórias dos seus livros preferidos, como 'O Pequeno Príncipe', de Antoine de Saint-Exupéry. “Meus colegas depois procuram o livro pra ler também”, conta.

Esta é a segunda escola baiana que recebe o projeto. A primeira foi o Colégio Estadual Alaor Coutinho, situado em Praia do Forte, no município de Mata de São João, no último dia 20. O projeto é promovido pelo Instituto Educare, com patrocínio do Instituto CCR, por meio da Lei Rouanet, do Ministério da Cultura e com apoio da CCR Metrô Bahia. O projeto captou R$ 100.000 para a construção das duas novas bibliotecas.

A diretora da escola, Cláudia Moura, ressalta a importância da parceria. “Não tem como fazer algo assim sem parceria. Nós somos uma escola pública, nossas verbas são específicas”. Ela afirma que os alunos vão se desenvolver ainda mais com o novo espaço.“Nós já temos quatro alunos participando da final do campeonato de escritores - e competiram com alunos de escolas particulares. Imagine a partir de agora”, conta a diretora.Inauguração com arte A festa de inauguração contou com um espetáculo montado pelos próprios alunos com o tema Dia da Consciência Negra, que foi comemorado no último dia 20. Os alunos fizeram apresentações de dança e teatro, além de leitura de poesias para os próprios colegas e professores. Também prestigiaram o evento uma equipe da CCR Metrô Bahia e do Instituto Educare.

A aluna Beatriz Alessandra, 14, diz que teve que pesquisar bastante para montar com os colegas uma peça e apresentação de dança. “Pesquisei sobre Zumbi e acabei aprendendo sobre a mãe e a esposa dele, que também são muito importantes”, diz a estudante do 9º ano. Ela acredita que a nova biblioteca é importante para que os alunos busquem novas formas de se comunicar com o mundo. “Ela vai influenciar a gente a ler mais e sair da televisão”, conclui a aluna.