Biografia não autorizada de Caetano Veloso será lançada hoje em Salvador

Livro escrito por Carlos Eduardo Drummond e Marcio Nolasco está pronto desde 2003; sessão de autógrafos será às 19h, na Saraiva do Salvador Shopping

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  • Ana Pereira

Publicado em 10 de maio de 2017 às 06:30

- Atualizado há um ano

Ninguém disse que seria fácil. Só que, lá no longínquo 1997, quando começaram a fazer a biografia de Caetano Veloso, os escritores cariocas Carlos Eduardo Drummond e Marcio Nolasco não imaginaram que teriam tantas dificuldades para transformar o sonho da dupla de amigos em realidade.

“Foi uma verdadeira odisseia tropical, não só pela longevidade, mas também pelos obstáculos”, resume Carlos Eduardo, 46 anos, que estará nesta quarta (dia 10) em Salvador, juntamente com Marcio, autografando Caetano Uma Biografia – A Vida de Caetano Veloso, o Mais Doce Bárbaro dos Trópicos (Editora Seoman), às 19h, na livraria Saraiva do Salvador Shopping.  Além das dificuldades naturais de contar a história de um  personagem tão importante e polêmica da cultura brasileira, os autores se depararam com a questão legal, já que, efetivamente, não tinham a autorização formal de Caetano para a empreitada. Tinham apenas um “tudo bem”, conseguido por intermédio de Rodrigo Velloso, irmão de Caetano, lá atrás, no começo do projeto. Foi Rodrigo, a quem o livro é dedicado, que aproximou os autores de Santo Amaro, da família Velloso e de muitos amigos.Biografia de Caetano Veloso estava pronta desde 2003, mas o cantor e compositor não liberou publicação (foto/Thereza Eugenia/divulgação) Carlos e Marcio foram à luta, levantaram uma grande bibliografia e  entrevistaram 103 pessoas, incluindo o próprio Caetano e alguns que já não estão mais entre nós, como a matriarca D. Canô (1907-2012),  o cantor e compositor  Dorival Caymmi (1914-2008), o agitador cultural Álvaro  Guimarães (1943-2008),  responsável por levar Caetano e Bethânia para o mundo artístico, a fotógrafa Maria Sampaio (1948-2010), guardiã de um rico acervo fotográfico sobre os Velloso, e o empresário Guilherme Araújo (1936-2007), que trabalhou por décadas com Caetano.  

Pronta desde 2003, a biografia ficou este tempo todo na gaveta. Primeiro. porque a editora da época, a Objetiva, recuou, diante da não autorização do músico. “Nunca sabemos realmente o que aconteceu, mas talvez ele não tenha gostado”, diz Carlos, acrescentando que Caetano teria lido a primeira versão. Depois, veio o debate sobre a publicação de biografias não autorizadas no Brasil, que só terminou em 2015, quando o Superior Tribunal Federal (STF) decidiu pela não necessidade de autorização prévia do biografado.

MUITOS DETALHES - Foi aí que a dupla retomou o projeto. “Fizemos uma revisão, reescrevemos muita coisa e escrevemos o posfácio”, explica Carlos Eduardo.    O resultado está nas 544 páginas, um trabalho que exigiu fôlego dos autores, mas também exigirá de quem se dedicar à leitura até o fim. Com um nível de “detalhamento profundo”, a biografia, em muitos momentos, se torna cansativa e excessivamente descritiva.

A narrativa começa bem antes de Caetano nascer, em Santo Amaro, e segue por sua meninice, tempos de Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, exílio... - resgatando familiares, ex-professores, ex-colegas, amigos, amores  e  músicos que tiveram mais ou menos importância na vida do  artista.  “Queríamos mostrar e dar importância a todas as fases da vida dele. Dar voz e tornar conhecidas pessoas que foram fundamentais para Caetano ser quem ele é”, diz Carlos Eduardo. Eles não queriam, por exemplo, dar mais peso ao Tropicalismo  ou fazer uma análise crítica da obra de Caetano. “Queríamos narrar os fatos em seus contextos, onde, quando e como as coisas aconteceram”, Justifica Carlos Eduardo.  

Da infância, por exemplo, ficamos sabendo que o precoce Caetano gravou um disco rudimentar de presente para uma prima, cantou antes de uma apresentação de Silvio Caldas e deu boas-vindas a Juscelino Kubitschek em passagem do político por Santo Amaro. E que também pensou seriamente em seguir pelo caminho das artes plásticas, como o ex-colega  conterrâneo Emmanuel Araújo. Depois, a aventura segue com os bastidores da efervescência cultural da Salvador dos anos 60, onde os irmãos santo-amarense conheceram Gilberto Gil e Gal Costa. E mais um monte de gente fundamental como Tom Zé, Waly Salomão (1943-2003), Torquato Neto (1944-1972), José Carlos Capinan e Tuzé de Abreu...

Ano a ano, a biografia elenca a produção, as conquistas nacionais e internacionais e, claro, as muitas polêmicas em que Caetano se meteu, como o bate-boca público com Paulo Francis (1930-1997) e Fagner. E abre espaço para um Caetano namorador, que engatou romances com Regina Casé, Vera Zimmerman, Sonia Braga e Paula Lavigne, tudo em paralelo com seu casamento longo e aberto com Dedé Gadelha. “Nosso critério para colocar ou não uma história no livro era saber se teve algum impacto na vida dele”, diz Carlos. Após a separação de Dedé, em 86, Caetano e Paula se casaram e ela passou a assumir todos os passos da carreira dele. Em 1976, Caetano, Gil, Gal e Bethânia se reuniram no Vila Velha para o show dos Doces Bárbaros (foto/divulgação) ESTILO - Outra escolha dos autores foi por adotar um estilo narrativo que não  identifica a fonte de determinada informação. As histórias estão lá, mas não sabemos necessariamente quem contou. Um entre muitos exemplos: o primeiro encontro de Caetano com o ídolo João Gilberto. Foi em Salvador, em 1965, na casa do produtor Carlos Coqueijo. Foi ele que, sabendo da paixão do jovem pelo cantor, fez o convite para o jantar. Acompanhado de Dedé, na época sua namorada, Caetano mofou horas até que João aparecesse. O que só aconteceu depois dele ter jantado, sozinho, no quarto. E ainda exigiu que o encontro fosse no escuro.

“Somos ligados à literatura, e para nós, uma obra literária é como um sonho, não queríamos quebrar a magia. Queríamos que fosse como um romance”, justifica Carlos. Se Caetano vai gostar ou não da versão final da biografia agora não importa muito. O livro está na rua e os autores comemoram o fato dele ter sido publicado, coincidentemente, nos 50 anos da Tropicália e nos 75 de Caetano – que  completa em 7 de agosto. Comemoram ainda o fato da publicação ser a primeira após a decisão histórica do STF, “inaugurando uma nova fase do mercado editorial brasileiro”.    Capa de Caetano - Uma Biografia (foto/divulgação) Serviço:

Lançamento de Caetano - Uma Bigrafia: Quarta (dia 10), às 19h, na Saraiva do Salvador Shopping.