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Editorial
Publicado em 14 de janeiro de 2018 às 08:44
- Atualizado há um ano
Poucas cidades no mundo convivem tão bem quanto Salvador com o aparente paradoxo criado pela convivência entre fé e folia, por vezes, no mesmo espaço e tempo. A capital baiana sintetiza de maneira ímpar essa simbiose, traduzida no clichê que une sagrado e profano em uma expressão comum no vocabulário cotidiano. Raros também são os lugares capazes de aproveitar o melhor de ambos, sem descaracterizar o que cada um traz de singular e tradicional.
Os símbolos máximos da harmonia originada por elementos opostos são as festas populares que integram o calendário de eventos durante a alta temporada em Salvador. De 25 de novembro, quando se comemora o Dia da Baiana, a 2 de fevereiro, reservado às celebrações para Iemanjá no Rio Vermelho, a cidade transpira simultaneamente religiosidade e diversão em mais nove datas oficiais. Parte delas com potencial de atrair levas de turistas e, por consequência direta, alavancar negócios.
Foi o que se viu na última quinta-feira, quando o circuito entre a Conceição da Praia e a Colina Sagrada foi tomado por milhares de pessoas. Parte considerável delas vinda de outros cantos dentro e fora do Brasil. Não é novidade o poder de atração que torna a Lavagem do Bonfim o ponto alto do calendário festivo-religioso da cidade, com sua mistura de catolicismo, candomblé, manifestações culturais e folia.
Nela, multidões caminham com um olho na fé e o outro na gandaia, sejam seus componentes do interior baiano ou da Rússia, uma das inúmeras nacionalidades identificadas por jornalistas que cobriam a festa. Ao longo do trajeto de oito quilômetros, cabem sem problema espaço para orar, curtir, gerar negócios ou simplesmente contemplar a beleza humana e natural margeada pela Baía de Todos os Santos.
Para uma capital em que os setores de turismo e entretenimento compõem fatias substanciais do PIB, as festas populares podem se transformar em trampolim para o desenvolvimento econômico e social, pela capacidade de atrair grandes contingentes de pessoas. Daí o interesse de empresas em patrocinar os eventos mais importantes desse calendário, como Bonfim e Iemanjá, que despertaram a atenção de uma cervejaria. Tais recursos possibilitam a manutenção das festividades com dinheiro privado, liberando o poder público para investir na cidade verbas que seriam gastas para organizá-las.
Usar o calendário de festejos com matriz religiosa para gerar renda e emprego é uma saída para retomar o crescimento de segmentos que integram a indústria do turismo e dos que dela se aproveitam por efeito conexo. Desde que se preserve, através de estímulos financeiros e mecanismos públicos de proteção ao patrimônio imaterial, a tradição cultural que é a verdadeira origem dos festejos.
Além, é claro, dos cuidados com os bens materiais ligados a tais celebrações e os monumentos instalados nos locais onde elas ocorrem, da Lapinha, palco da Festa de Reis, a Itapuã, cenário de outra famosa lavagem. Essa preocupação, no entanto, não pode servir de lente para a miopia de quem não enxerga que visibilidade e recursos são as melhores formas de preservar tradições que dependem de investimento e público para continuar existindo entre a fé e a folia.