Capetinha tenta sair do inferno em meio a processos, pensões, prisões e penhoras

A ascensão e queda de Edilson, que tem R$ 6 mi em dívidas trabalhistas: CORREIO teve acesso a relatório que inclui mansão de R$ 3 mi entre bens confiscados

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 23 de agosto de 2017 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/Arquivo CORREIO

Em 2004, ele era o anjo caído do céu para realizar o plano grandioso de levar o Vitória ao título brasileiro. De helicóptero, junto com o amigo Vampeta, o baiano Edilson descia no centro do gramado do Barradão, quase dois anos depois de conquistar o penta com a Seleção Brasileira.

Após passagens gloriosas por Palmeiras, Corinthians, Benfica de Portugal, Cruzeiro, Flamengo e Kashiwa Reysol do Japão, o Capetinha voltava para se consagrar na terra de todos os santos. Para se consagrar e para cuidar dos seus negócios, entre eles o bloco Bróder, a casa de shows Estação Ed 10, as diversas bandas de pagode que lançou e os inúmeros imóveis que adquiriu em anos de carreira.

Corta para 16 de agosto de 2017. Edilson é preso por policiais civis e é levado para a sede da Polinter, em Salvador. O motivo? Uma dívida que se arrasta desde 2013 referente ao não pagamento mensal de R$ 8,8 mil em pensão alimentícia para um dos seus filhos, que mora em Brasília. Ao ser preso por quase quatro dias, um deles no Complexo Penitenciário da Mata Escura, notícias sobre uma dívida trabalhista ainda maior vieram à tona.

Falou-se em R$ 10 milhões em débitos. Mas, esse número, ao menos os relacionados com processos trabalhistas, ainda não foi fechado. “Ainda vamos atualizar, mas a dívida atual ultrapassa R$ 6 milhões”, diz o diretor da Coordenadoria de Execução do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), Rogério Fagundes. A pergunta que fica é se Capetinha está falido.

Processos O CORREIO teve acesso ao relatório do Tribunal Regional do Trabalho da 5ª Região (TRT), onde foi instaurado um processo de penhora unificada que reúne de 20 a 30 processos trabalhistas contra Edilson, contra empresas em seu nome, como a casa de shows Estação Ed Dez, que funcionava no bairro da Federação, e contra pessoas ligadas a ele. O fato é que a maioria dos bens do ex-craque está bloqueada.

Há também imóveis milionários penhorados ou em processo de penhora, a exemplo de uma mansão no bairro do Horto Florestal avaliada em R$ 3 milhões, e uma casa em Guarajuba, no Litoral Norte, no valor de R$ 1 milhão.  

Além desses, na lista de bens bloqueados, penhorados ou em processo de penhora, tem outros dez imóveis, quatro carros, contas bancárias, ativos financeiros e saldos de cartões de débito e crédito provenientes de vendas de abadás para o bloco Bróder. 

Isso porque, para buscar formas de Edilson pagar as dívidas, o TRT rastreou o seu patrimônio milionário, que estaria, em parte, nas mãos de laranjas. Por isso, o tribunal arrolou no processo unificado não só o atleta, mas um grupo econômico que envolve empresas, sócios e familiares de Edilson, inclusive a sua própria mãe, Maria de Lourdes da Silva Ferreira, a qual tem um carro em seu nome. 

Além de familiares e sócios, na lista de “devedores” também consta as empresas E&E Eventos, a Ed Cem Editora Musical, a Gooold Soccer Assessoria Esportiva, a Tribrazil Produções Artísticas, a Nos Duas Indústria de Moda e mais duas empresas de intermediação de negócios.“São pessoas e empresas que eventualmente estejam com o dinheiro que não está na mão dele e está na mão de terceiros. São laranjas, né? Filhos menores com imóveis, por exemplo. Isso indica que ele está tentando dificultar uma penhora”, afirma Rogério Fagundes, diretor do TRT. “Vamos apurar até que ponto esses sócios têm responsabilidade com as dívidas trabalhistas e até que ponto esses bens podem ou não responder pela causa”, adianta Fagundes. Enquanto isso, Edilson não pode se desfazer dos bens para quitar as dívidas. “Ele não pode vender nada. Está tudo indisponível”, afirma o diretor.

A decisão do TRT é válida ao menos até o dia 14 de setembro, quando acontece uma audiência. “É a oportunidade que ele tem para se defender. Se ele não for, vai ser pior pra ele”, conclui Fagundes.

Sem defesa Segundo o irmão de Edilson, Eliomar Ferreira, ainda não foi constituído advogado para os processos trabalhistas. Heleno Andrade, o defensor que o tirou da prisão por conta do não pagamento da pensão, espera assumir também a causa no TRT. “Não acho que seja algo que não possa ser resolvido. Não deve ser esse valor todo”, acredita.

Eliomar disse que o irmão está viajando e, por hora, não vai falar sobre o caso. Enquanto isso, um amigo afirma que o jogador foi traído por funcionários.“Ele (Edilson) fez acordo com o pessoal (ex-funcionários). Pagou o combinado. Mas depois o pessoal disse que não tava satisfeito e botou ele na Justiça”, alega o irmão.Casa do Horto Segundo o relatório do TRT, a propriedade mais cara de Edilson em Salvador é a casa onde ele mora, na Rua Sapucaia, no Horto Florestal. O imóvel, avaliado em R$ 3 milhões, foi arrematado por R$ 1,2 milhão no dia 24 de setembro de 2014. Recursos já foram julgados improcedentes. Mas, há outro ainda a ser apreciado. Por isso, Edilson continua morando na casa. Condomínio no Horto Florestal onde Edilson tem um imóvel avaliado em R$ 3 milhões: seu xodó (Foto: Alexandre Lyrio/CORREIO) Dentro do condomínio fechado Parque Florestal, o imóvel, segundo amigos de Edilson, é o xodó do jogador. Amante do futevôlei, ele montou uma arena no terreno. “É uma quadra com areia transportada da praia. Na casa dele tem futevôlei todo dia até 2h da manhã”, disse um amigo de infância, que não quis se identificar. A mansão vive de portas abertas aos amigos que querem jogar. “Ele estando em casa ou não, é liberada a todos. A casa é enorme”. 

Um vizinho da família, que também preferiu o anonimato, disse que Edilson é “um cara do bem” e, apesar de ter ganhado muito dinheiro, não é um sujeito extravagante.“Ele vive bem, mas não é um cara que vive ostentando. Quem convive com ele sabe. Sempre foi um cara simples”, diz o vizinho.Os amigos também fizeram questão de ressaltar que, apesar de gostar de festas, Edilson cuida muito da saúde. “Ele não bebe, não fuma. Gosta de pagode, de festa, tem as bandas dele, mas se cuida”. 

Com a fortuna que fez, Edilson cuidou da família inteira. “Morei na rua da mãe dele, na Federação. Tinha seis ou sete pessoas naquela casa, entre a mãe, o tio, filhos e sobrinhos. Edilson que sustentava todo mundo. Cuida da família inteira”, comenta.

Edilson também teria ajudado muita gente de fora da família. “Para você ter uma ideia, ele deu uma casa na Barra, onde era estúdio de gravação dele, para o amigo morar. Vá por mim! Ele é ‘vacilão’ para este lado de pensão e é enrolado para pagar. Se você trabalhar para ele, é uma dificuldade. Mas ele é do bem”, conclui o amigo de infância.

Confira a lista de imóveis de Edilson que foram penhorados ou estão indisponíveis, segundo dados obtidos pelo CORREIO junto ao TRT- Imóvel no valor de R$ 3 milhões na Rua da Sapucaia, Horto Florestal  - Casa em Guarajuba no valor de R$ 1 milhão  - Apartamento Duplex na Rua Severo Pessoa, Federação - Prédio na Rua Marques de Leão, Barra - Casa na Rua Lemos de Brito, Barra - Duas casas na Rua Souza Uzel, Federação - Apartamento na Rua Augusto Lopes Pontes, Costa Azul - Apartamento no Itaigara  - Apartamento na Pituba

Fraude na loteria E se sobra problema com a Justiça, sorte parece algo em escassez para Edilson. Isso porque o Ministério Público Federal em Goiás (MPF-GO) denunciou o ex-jogador baiano por participar de um esquema de fraudes de pagamentos de prêmios de loterias da Caixa Econômica Federal, em novembro de 2015. As investigações apontaram que o ex-craque da dupla Ba-Vi, supostamente, participava de um processo de cooptação de gerentes da Caixa, a fim de participarem de fraudes para recebimento indevido de prêmios de loterias. Na época, a defesa do pentacampeão negou envolvimento dele com a quadrilha. Além de Capetinha, outras dez pessoas respondem pelo mesmo processo. O processo tramita na 11ª Vara Federal de Brasília. Carros de luxo apreendidos pela PF, em novembro de 2015, em esquema com loterias que Edilson estaria envolvido (Foto: Marina Silva/Arquivo CORREIO) O MPF de Goiás, que denunciou o esquema, informou que o processo segue em tramitação e uma audiência foi realizada em julho. A expectativa do órgão é de que a sentença ocorra ainda este ano. O produtor de eventos Jadson Assis, amigo que trabalha com Edilson, disse que, em uma audiência recente, o jogador foi inocentado pelos outros acusados. “Uma semana antes da prisão dele houve audiência e os réus confessaram suas práticas”, disse ao CORREIO. Na época, em Salvador, foram apreendidos cinco carros de luxo que teriam sido adquiridos com o dinheiro do esquema e três pessoas foram presas.

Relembre a trajetória de sucesso de Edilson como jogador e empresário

[[galeria]]Edilson da Silva Ferreira nasceu em 17 de setembro de 1970, em Salvador Começou a carreira no Industrial, do Espírito Santo, passou pelo Tanabi-SP e chegou ao Guarani de Campinas. Seu futebol vistoso o levou ao Palmeiras para fazer parte do “dream team” montado pela Parmalat, com Roberto Carlos, Edmundo, Evair e companhia. Sob o comando de Vanderlei Luxemburgo, foi bicampeão paulista (1993 e 1994), campeão brasileiro (1993) e campeão do Torneio Rio-São Paulo (1993) Sua única temporada no futebol europeu foi no Benfica de Portugal, em 1994, mas voltaria ao Palmeiras em 1995. Um ano depois, acertou sua transferência para o Kashiwa Reysol, do Japão. Dois anos depois, no final de 1997, voltou ao Brasil para vestir a camisa do Corinthians  No Timão, foi campeão do Mundial Interclubes em torneio organizado pela Fifa, em 2000 Depois passou por Flamengo, Cruzeiro e, de novo, Kashiwa Reysol Em 2004, chegou de helicóptero com o amigo Vampeta para jogar no Vitória, onde levou o time à semi-final da Copa do Brasil, mas o clube acabou rebaixado no final do ano  Edilson jogou ainda no Al Ain (Emirados Árabes), São Caetano, Vasco da Gama e Nagoya Grampus (Japão). Em 2007, voltou ao Vitória, onde se aposentou em 2008. Em 2010, suspendeu a aposentadoria para encerrar a carreira no Bahia.