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Carnaval de 2018: prefeitura estuda cotas para pipoca no Campo Grande e mudanças no circuito do Furdunço


 

Os anúncios foram feitos pelo prefeito ACM Neto, na manhã desta quarta-feira (1), durante a entrevista coletiva de balanço final do Carnaval de 2017

  • Thais Borges

Publicado em 01/03/2017 às 16:58:00
Atualizado em 16/04/2023 às 20:39:04

Dodô e Osmar cantaram sobre a Avenida, sobre o Carnaval no Campo Grande. A Bamda Mel – aos mais novos e desavisados, é com “M” mesmo – exaltou a folia e a paz na Avenida Sete, em seu prefixo de Verão. Mas, hoje, esvaziado, o circuito Campo Grande deve ter uma novidade para a festa de 2018: cotas para garantir mais atrações pipoca por lá. 

O anúncio foi feito pelo prefeito ACM Neto, na manhã desta quarta-feira (1), durante a entrevista coletiva de balanço final do Carnaval de 2017. “Vamos discutir com o Conselho do Carnaval (Comcar) e convidar o governo do estado para participar do debate, porque há uma ideia de ter atrações sem corda financiadas pelo poder público para o Campo Grande. A ideia é colocar atrações e estabelecer que, por exemplo, 50%, 60% das atrações desfilem aqui. E, assim, vamos equilibrar os dois circuitos”, explicou Neto. 

Para o prefeito, a quantidade maior de artistas no Campo Grande na terça-feira (28) mostra que os foliões podem se dividir se houver boas atrações. Só na terça, o folião pipoca pôde seguir Daniela Mercury, Olodum, Alinne Rosa, Luiz Caldas e Ed City no circuito Osmar. Este ano, o Campo Grande recebeu pipocas como a da BaianaSystem (Foto: Sérgio Pereira/Agência Haack)“Vimos uma quantidade pequena de atrações desfilando no Centro e a gente sabe que o folião vai atrás de onde está o seu artista. Como houve uma concentração grande no (circuito) Barra-Ondina, isso gerou pressão forte no domingo e na segunda. Ontem (terça, 28), foi menor (na Barra). Por outro lado, o desfile aqui do Campo Grande acabou mais cedo e a partir de certo momento já não mobilizou tantas pessoas”. 

Mas isso não significa ‘retirar’ atrações da Barra, segundo o presidente da Saltur, Isaac Edington. Para ele, o que foi feito do Carnaval dos bairros – que, na avaliação da prefeitura, está forte consolidado – também pode ser feito no Campo Grande. “A gente não quer enfraquecer a Barra. Pelo contrário: fortalecer o Campo Grande, mas ter a Barra forte e melhorar a performance da Barra, no que compreende os desfiles e atrações”. 

O prefeito ainda lembrou de iniciativas de sua gestão para renovar o circuito do Centro – em 2014, por exemplo, os trios deixaram de passar pela Rua Carlos Gomes e seguiam pela Rua Chile. Como a medida não foi aprovada pelos blocos e pelos foliões, em 2015, o percurso voltou à Rua Carlos Gomes. 

“Não posso fazer isso (as cotas) com os blocos. Mas muitas outras possibilidades vão ser debatidas, porque tive a oportunidade de conversar com muitos empresários este ano e sinto que há também uma expectativa, por parte dos empresários, de fazermos uma mexida conjuntamente para 2018. Se depender de mim, vai acontecer. Eu estou certo de que a gente não tem como manipular a vontade de ninguém, porque se você garante boas atrações por aqui, o folião vem junto. Por isso, a pipoca de Saulo estava lotada, a de Daniela, a de BaianaSystem, a de Kannario”, afirmou ACM Neto. 

Para o presidente do Conselho Municipal do Carnaval (Comcar), Pedro Costa, as tentativas de revitalizar o circuito Osmar são bem-vindas. “Todas são válidas e essa sugestão de cotas é uma ideia muito boa. Na quinta-feira, que é dia do samba, o Centro é lotado, porque tem atrações fortes nos trios, nos blocos. Então, a ideia é muito boa”. 

Patrocínio para a pipocaMas, se o Carnaval da pipoca está cada vez mais consolidado, as formas de financiamento dos trios elétricos sem cordas ainda serão melhor definidas ao longo dos próximos 12 meses. Segundo o prefeito ACM Neto, a Saltur está desenvolvendo um novo modelo de pagamento que envolva a iniciativa privada, mas as discussões ainda estão “em fase embrionária”. “Mas diria que novidades importantes virão para 2018”. Ao CORREIO, o presidente da Saltur, Isaac Edington, contou que, já durante a folia, eles estiveram em conversas iniciais com empresários que vieram a Salvador para a festa, para encontrar possíveis patrocinadores. 

Durante a entrevista, o prefeito e os secretários afirmaram que a prefeitura, agora, quer ouvir todos os envolvidos na festa – dos empresários aos foliões. Só assim, vão decidir o que será feito da folia em 2018. No caso dos blocos, o prefeito disse que pretende, pessoalmente, dentro de até um mês, procurar os empresários para conversar e fazer um diagnóstico da festa. Segundo ACM Neto, o objetivo da prefeitura é harmonizar a convivência entre trios sem corda, blocos e camarotes. 

Favorável aos blocos, o prefeito destaca que, o formato do Carnaval de Salvador hoje veio graças a eles. Mesmo assim, ele acredita que baixar as cordas é uma tendência ‘que ninguém segura’ e que precisa ser refinada. “Não depende de mim um bloco sair ou não. A galera gosta de sair nas Muquiranas, que saíram do mesmo tamanho que saem todo ano. Não é diferente com os Filhos de Gandhy ou com o Camaleão. Mas estou aberto a conversar com os empresários e quero ajudar a pensar num modelo maior, mas não tenho como mandar na vontade do folião que prefere sair na pipoca de Saulo ou comprar um camarote”. 

Pedro Costa, do Comcar, destaca aspectos econômicos que são movimentados pelos blocos. “Se você analisar, os blocos carnavalescos chegam a empregar três mil pessoas. Nós tivemos esse ano algo em torno de 470 apresentações de blocos em todos os circuitos. De todos os segmentos. Se você analisar, esses blocos reúnem uma média de 400 mil foliões”. O presidente da Associação Baiana de Camarotes, Clínio Bastos, também concorda que é preciso atrair o capital privado a investir na festa, para que o ônus não fique somente com o poder público. “Blocos e entidades foram e sempre serão peças importantes neste modelo, porque geram receitas e empregos significativos para o evento, além de assegurar, não só para os associados, mas para todos os foliões, assistir seus artistas preferidos pelas ruas da cidade”. 

Quanto aos foliões, uma pesquisa já foi encomendada à Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult), para descobrir o que quem vai à festa quer – tanto os de Salvador quanto os turistas, a fim de entender quais são as novas tendências.

Repensar o FurdunçoOutra mudança que deve vir para 2018 é quanto às dimensões do pré-Carnaval – especialmente, com o Furdunço, no domingo. A prefeitura reconheceu que o número de pessoas que foram à festa foi maior do que o esperado por todos os órgãos oficiais, principalmente, pela presença de nomes como Léo Santana e BaianaSystem. No entanto, para o prefeito, não houve desvirtuamento do perfil da festa. 

“Houve uma pressão muito grande na Barra pelo fato de as duas atrações estarem em um momento forte, mas a própria Baiana vinha tocando (nas edições anteriores do pré-Carnaval). No caso de Léo Santana, ele inscreveu o projeto, como outros, numa época que sequer estava tão estourado”. 

Diante disso, o prefeito admite que, entre as alternativas para reestruturar o Furdunço, está até a possibilidade de mudar o local do circuito. Invertê-lo – no caso do pré-Carnaval, as entidades saem de Ondina em direção à Barra, com o circuito Orlando Tapajós – e deixá-lo como o circuito Dodô (do Farol à Ondina) é outra opção. 

“A gente vai avaliar toda a experiência de quem opera o Carnaval. O que interessa é que a gente vai pensar direitinho e estudar, porque o pré-Carnaval se consolidou em Salvador. Como que vai acontecer eu peço tempo, mas entendam que esse é um problema bom. Problema ruim seria fazer a festa e ninguém querer ir para ela”.