Carpê, Mancini e minha torcida por um 'surto' no Ba-Vi

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Publicado em 22 de outubro de 2017 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Quando Paulo Cézar Carpegiani ingressou na carreira de treinador, Vagner Mancini, em Ribeirão Preto, ainda nem sonhava em ser jogador profissional. O atual técnico do Bahia, ao conquistar a Copa Libertadores e o Mundial de Clubes em 1981, com o Flamengo, cravava seu nome entre os grandes personagens do futebol brasileiro. O comandante do Vitória, por sua vez, conquistaria seu título mais expressivo 24 anos depois, ao faturar a Copa do Brasil com o modesto Paulista de Jundiaí. São duas gerações diferentes, mas que se reencontram na tarde deste domingo, na Arena Fonte Nova.

Não é errado dizer que Carpegiani e Mancini possuem pensamentos parecidos com relação ao futebol. Ambos gostam do jogo ofensivo, da busca incessante pelo gol, da posse de bola como argumento para controlar a partida. O técnico tricolor foi forjado numa época em que o esporte era visto de uma maneira mais lúdica, e foi justamente neste período que o professor rubro-negro, ainda garoto, começou a se apaixonar pelo chamado “futebol arte”.

No entanto, a forma como os dois treinadores traçam seus objetivos são bem distintas. Paulo Cézar Carpegiani parece ainda enxergar o futebol com uma visão mais romântica. Talvez isso explique os poucos títulos após sua primeira passagem pelo Flamengo – suas equipes sempre apresentaram um futebol impositivo, com posse de bola e ofensividade, mas eram engolidas por times pragmáticos e que colocavam o resultado acima do desempenho. O apelido de “Professor Pardal”, muitas vezes usado pejorativamente, nada mais é a tradução de um estilo que passou a ser cada vez menos usual no Brasil.

Não que Vagner Mancini não goste do futebol bem jogado. Muito pelo contrário. Sempre disse que se inspira no que o Brasil melhor produziu ao longo dos anos. Porém, o técnico do Vitória aprendeu a lidar com um esporte mais competitivo, que arranca empregos de profissionais a cada sequência de derrotas. Desta forma, ele consegue se manter no mercado da Série A do Campeonato Brasileiro até hoje, despertando o interesse de vários clubes da elite nacional.

O Ba-Vi deste domingo coloca os dois personagens frente a frente pela primeira vez num clássico estadual. Tanto Carpegiani como Mancini já experimentaram a atmosfera, mas ambos defenderam o Vitória em momentos distintos. No último embate entre tricolores e rubro-negros em 2017, os estilos serão colocados à prova. Enquanto o Bahia tenta absorver a essência de seu treinador, valorizando a posse de bola e ocupando o campo adversário durante boa parte do confronto, o comandante do Vitória se adaptou ao elenco que possui, jogando na maioria das vezes de uma maneira reativa, sobretudo quando atua longe de sua torcida. O Esquadrão de Aço é muito forte na Fonte Nova, mas o Leão da Barra é letal fora do Barradão.

Quando Carpegiani chegou ao Fazendão, comecei a imaginar como seria o embate com Mancini: bem jogado, franco, lá e cá, com cara de 3x3 quase circense. A situação da dupla na tabela do Brasileirão, porém, impede que o desejo se concretize – é muito mais seguro jogar pelo resultado do que se preocupar em dar espetáculo para o torcedor. Neste aspecto, é quase impossível tirar a razão de ambos. A cultura voraz do futebol brasileiro acabou com a essência do nosso esporte. A vontade é que, por um surto momentâneo, os dois esqueçam-se disso na tarde deste domingo.

Elton Serra é jornalista e escreve aos domingos.