Cartas Bahianas: Marcus Borgón e Dênisson Padilha lançam livros pela editora P55

Enquanto Marcus estreia na literatura com a novela O Pênalti Perdido, Dênisson chega ao seu quinto livro, a coleção de contos Trilogia do Asfalto

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  • Roberto Midlej

Publicado em 18 de abril de 2016 às 13:27

- Atualizado há um ano

Marcus Borgón, 41, e Dênisson Padilha Filho, 45, quando eram crianças despertaram o gosto pela leitura da mesma forma: histórias em quadrinhos. “Mas eu era só um leitor, que gostava de Pato Donald, Cebolinha, Tarzan... Marcus tá em outro nível, é colecionador mesmo”, diz Dênisson. Passados mais de 30 anos da infância deles, os dois têm novamente algo em comum: lançam amanhã, no Tropos Gastrobar (Rio Vermelho), às 19h, seus livros pela Coleção Cartas Bahianas.Enquanto Marcus estreia na literatura com a novela O Pênalti Perdido (P55/R$ 20/48 págs.), Dênisson chega ao seu quinto livro, a coleção de contos Trilogia do Asfalto (P55/R$ 20/48 págs.). A Cartas Bahianas já havia lançado outras 44 publicações, de autores como Ruy Espinheira Filho, Aninha Franco, Karina Rabinovitz e Mayrant Gallo.FutebolMarcus, nascido no Rio de Janeiro e radicado na Bahia, sonhava, como qualquer criança brasileira, em ser jogador de futebol quando criança e baseou sua história na própria memória afetiva. “Tem relação com a minha infância e adolescência. O livro é um tributo às amizades, que florescem principalmente naquela idade do protagonista, que tem 13 anos”.O protagonista, também narrador da história, é um garoto que tem aspiração futebolística e perde um pênalti numa final de campeonato de várzea. "Depois do pênalti perdido, ele fica deprimido. Tinha um teste marcado em um grande clube de futebol, mas, depois que todo mundo pões a culpa nele pela derrota, ele começar a vacilar sobre a carreira no futebol. Mas, aos poucos, vai em busca de sua autoconfiança", diz Marcus.O autor observa que, apesar de hoje exibir um físico nada comparável ao de um atleta, um dia já foi um bom jogador e até sonhou com a carreira profissional. "Cheguei até a treinar no Vitória e minha família que pagava a condução porque, na época, o clube não era o que é hoje e não dava dinheiro nem para isso. Mas desisti porque na época era muito incerto e o estudo oferecia mais horizontes", diz o autor de O Pênalti Perdido.Marcus observa que o futebol, apesar de ser o esporte mais popular do país, não costuma inspirar ficções literárias: "É muito pouco explorado quando comparamos com o que ele representa para o brasileiro. Acho que a intelectualidade rejeita o futebol. Acho que os escritores gostam do esporte, mas não querem escrever sobre ele". Ainda assim, ele sabe apontar alguns bons livros que abordam o esporte: O Batedor de Faltas, de Cláudio Lovato Filho, e O Gol Esquecido, de Mayrant Gallo.A estreia literária de Marcos o animou e ele já se prepara para novos rumos na carreira: nos próximos meses, ele participa de uma coletânea de contos sobre loucura pela editora Mondrongo, em que estarão também autores como o paranaense Mario Bortolotto.DênissonOs três contos de Trilogia do Asfalto têm em comum entre si o fato de se passarem nas ruas. “As duas primeiras histórias se passam em rodovias, mas a terceiro é na rua de uma cidade”, diz Dênisson.Nascido na capital baiana, o escritor passou muito tempo de sua vida na estrada: “Viajei muito a trabalho, entre principalmente entre 1996 e 2000, dando aula num programa do governo federal. E gosto muito de dirigir na estrada, em viagens a lazer também”.Em Naquela Manhã de Fogo, que abre o livro, um homem sai de um carro na estrada e se aproxima de um casebre, para beber um suco de umbu. “O suco é um indício de que a história se passa em um ambiente árido, que poderia ser a BR-242, na Bahia, que passa por Itaberaba”, diz Dênisson. No casebre, o homem busca pistas que o levem até a sua mãe, que ele não conheceu.

PrêmioNo segundo conto, Como Assim, Dar Pra Ele?, uma mulher casada com um homem 15 anos mais velho, durante uma viagem de carro, começa a questionar o relacionamento. É traçada então uma analogia entre o casamento do casal e da estrada, como neste trecho: “Nossa vida se tornou uma rodovia sem a menor segurança e você continua pisando fundo, mudando de faixa sem olhar pelo retrovisor e sempre fingindo que o movimento anterior foi muito pensado, mas, na verdade, você age por impulso e eu que me dane”.O conto que encerra a Trilogia do Asfalto, passado na cidade, é Roupa Íntima, Amor Felino, sobre um homem que observa, de sua janela, a vizinha por quem está apaixonado. “Minha filha ficou chocada com a frase que inicia o conto: ‘O gato é um animal idiota’”, diz o escritor, que não tem aversão aos felinos, mas gosta mais dos cães.Essa história rendeu a Dênisson o prêmio de melhor conto no XXIV Prêmio Internacional Cataratas de Conto e Poesia de Foz Iguaçu 2015. “É uma premiação tradicional, entregue há 24 anos e fiquei surpreso e muito feliz quando ganhei. Só o inscrevi por insistência da agente literária que eu tinha na época”, lembra-se Dênisson, que diz não ser muito atento aos prêmios distribuídos no país, embora saiba que existam muitos. “Não tenho paciência de sair garimpando”, diz o autor.