Caruru de Cosme e Damião pesa no bolso

CORREIO percorreu feiras e constatou produtos mais caros

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  • Da Redação

Publicado em 16 de setembro de 2017 às 05:20

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

A 12 dias das comemorações para Cosme e Damião, muitos dos ingredientes do famoso caruru estão mais caros se comparados aos preços do ano passado.

O camarão seco está salgadíssimo: em 2016, o CORREIO conseguiu encontrar o quilo por apenas R$ 16. Já neste ano, os preços chegam a R$ 45 na Feira de São Joaquim e a  R$ 54 na Feira da Sete Portas, ambos sem corante.

O quiabo, principal ingrediente do caruru, foi vendido a R$ 6 o cento - em 2015. No ano passado, a mesma quantidade foi vendida a R$ 8. A reportagem também encontrou, agora, quiabo a R$ 8, mas é raridade. Feirantes já vendem o produto por R$ 10 e planejam aumentá-lo para R$ 12, o cento.

Por causa dos preços mais altos, muitas quituteiras, que fazem o prato por encomenda, resolveram reajustar o que cobram. E quem sabe fazer está “batendo perna”, para economizar e conseguir gastar cerca de R$ 250 para servir o caruru para 30 pessoas.

Queixas E se o freguês reclamar do valor, vai ouvir o mesmo da maioria dos comerciantes: “Estamos comprando mais caro”, diz o feirante Daniel Bispo, 40 anos, que conta ter comprado 30 quilos de quiabo por R$ 80 - R$ 30 a mais do que antes.

“Este ano, a safra (de quiabo) não foi muito boa, por isso, o preço do saco subiu”, afirmou Daniel, que recebe o produto, na Feira de São Joaquim, de fornecedores da cidade de Canindé de São Francisco, no sertão sergipano. Isso mesmo: o quiabo é sergipano. Ingredientes do caruru sobem de preço perto de São Cosme e Damião (Foto: Marina Silva) Segundo informações da Companhia de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Irrigação de Sergipe (Cohidro), entre 70% e 80% do quiabo consumido em Feira de Santana e Salvador é oriundo de Canindé de São Francisco, onde a produção do legume, em 2016, foi de 1.098 toneladas.

Apesar do preço, a procura pelo produto aumentou na barraca de Daniel. “Tenho vendido dois mil quiabos por dia, e a mercadoria que eu trouxe no início da semana acabou rápido”, disse ele. Daniel avisa que o preço vai ficar mais salgado daqui a sete dias, quando o cento subirá para  R$ 12 ou R$ 13.

Proprietário da Barraca do Tonho, na Feira da Sete Portas, Antônio José Santos disse que, nesse período, a procura pelos produtos do caruru chega a aumentar em até 40%. “Na semana do dia 27 é que aumenta mais”, explicou ele, acrescentando que os produtos que sofrem os maiores reajustes são mesmo o quiabo e o camarão.

Segundo a Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (Faeb), boa parte do amendoim - outro ingrediente do caruru - consumido no estado é comprada em outros estados, como São Paulo. “A produção da Bahia é colhida em junho e destinada à comercialização durante os festejos juninos”, informou a federação. Os municípios que mais produzem amendoim por ano são Maragogipe, Cruz das Almas e Acajutiba.

“No caso do dendê, a produção baiana está concentrada na região do Baixo Sul e é intensa entre os meses de dezembro e março. Assim também acontece com o camarão e a cebola, que são produzidos durante todo o ano”, informou Humberto Miranda, vice-presidente da Faeb.

Devoção Apesar dos preços, quem é devoto sempre dá um jeito de driblar. Se o pedido foi feito e a graça alcançada, aí a possibilidade de deixar o caruru para o próximo ano nem existe. Cíntia Santana é devota (Foto: Marina Silva) “Se eu não cumprir com a minha obrigação, não sei o que pode acontecer. Acho que eu tomo uma surra de cada um”, brinca a dona de casa Cintia Santana, 36, que há 12 anos agrada Cosme e Damião.

Ela conta que já tinha uma certa afeição pelos gêmeos, por ter nascido no mesmo mês em que os santos são homenageados, até que veio o primeiro filho, o segundo e o terceiro, todos nascidos em setembro. Desde então, a dona de casa sai beirando as barracas das feiras da Sete Portas e de São Joaquim pedindo trocados.

A romaria só acaba quando o dinheiro arrecadado for o suficiente para bancar um banquete para vizinho nenhum botar defeito - não há nem limite de participantes. Para isso, ela vai precisar de pelo menos R$ 600, mesmo valor que ela gastou com os ingredientes do caruru do ano passado. “O meu (caruru) é pra repetir e todo mundo come bem, viu!”