Caso Marielle: polícia quebra sigilo de vereadores após descobrir celular usado em carro de atirador

Informação foi divulgada por reportagem do The Intercept Brasil

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  • Da Redação

Publicado em 6 de abril de 2018 às 09:33

- Atualizado há um ano

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A polícia do Rio de Janeiro descobriu o número do celular do motorista do carro usado no dia dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson. A partir disso, a instituição quebrou o sigilo telefônico de vereadores da Câmara do Rio de Janeiro, para investigar a presença de milicianos na Casa, horas antes do crime, segundo reportagem do The Intercept Brasil.

Oito vereadores já foram ouvidos pela polícia. Um deles recebeu em seu gabinete, horas antes do crime, um ex-policial militar indiciado na CPI das Milícias na qual Marielle trabalhou. Uma semana antes da morte da vereadora, o ex-vereador Cristiano Girão, condenado por chefiar uma milícia na Gardênia Azul, em Jacarepaguá, também esteve na Câmara.

Marielle Franco estava denunciando ações da Polícia Militar, principalmente do 41º Batalhão de Polícia Militar, de Acari, unidade onde trabalham policiais que já foram homenageados com moções pelo vereador que recebeu um miliciano antes do crime, afirma a reportagem.

A polícia investiga o envolvimento de milícias na morte de Marielle, devido ao modo como o crime aconteceu: perseguição à vítima; veículos com placas clonadas, além de um abafador de som ao disparar os tiros com uma pistola 9 mm – todos na direção da cabeça de Marielle. 

Crime Uma execução premeditada, ligada à atividade política da vereadora carioca Marielle Franco (PSOL), é investigada pela Polícia Civil do Rio como hipótese para explicar o assassinato da parlamentar. Ela foi morta com três tiros na cabeça e um no pescoço quando ia para casa, de carro, com o motorista Anderson Gomes, de 39 anos, assassinado com três tiros pelas costas. Uma assessora, que estava ao lado de Marielle, sobreviveu e prestou depoimento à polícia. 

"Uma das possibilidades, sim, é essa da execução. Mas não descartamos ainda outras (possibilidades) até porque o crime aconteceu há 10, 12 horas", disse o chefe da Polícia Civil, delegado Rivaldo Barbosa, na manhã de quinta-feira, 15. Ele se reuniu com o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), os delegados Fábio Cardoso, que está assumindo a Divisão de Homicídios, e Gineton Lages, titular da Delegacia de Homicídios

Antes de ser morta, Marielle foi a uma reunião de mulheres negras na Lapa, no centro. Saiu por volta das 21h30, acompanhada de Gomes e da assessora. Elas se sentaram no banco de trás e Gomes ficou no volante. O veículo seguia para a casa de Marielle, na Tijuca, zona norte.

Na altura da Praça da Bandeira, na Rua Joaquim Palhares, um Chevrolet Cobalt prata emparelhou à direita do veículo em que Marielle seguia. Um dos ocupantes disparou nove vezes contra a parlamentar, atingindo o vidro e parte da porta traseira direita do automóvel.

O carro onde estava a vereadora andou mais alguns metros, e os assassinos fugiram. Marielle e Gomes morreram imediatamente. A assessora foi atingida só por estilhaços e prestou depoimento ainda de madrugada, por cinco horas. 

Outra testemunha, alguém que passava pelo local na hora do ataque, também teria prestado depoimento. A arma usada no crime foi uma pistola 9 milímetros, segundo a perícia, que recolheu cartuchos no local do crime. A polícia acredita que o carro foi seguido pelo veículo onde estava o assassino desde que ela saiu da reunião na Lapa. 

O motivo é que, embora os vidros do automóvel de Marielle estivessem cobertos por película escura, os bandidos pareciam saber exatamente onde ela estava sentada - a vereadora não costumava ir atrás. Foi na direção daquele ponto que os disparos foram feitos. A exatidão dos tiros também chamou a atenção dos investigadores. 

Imagens de câmeras mostram que um carro parado por duas horas perto de onde Marielle participava do evento. Esse automóvel teria saído quando o veículo de Marielle deixou o local. 

A possibilidade de ter sido reação das milícias à intervenção chegou a ser repassada ao Palácio do Planalto nesta quinta, mas depois perdeu força. A informação recebida pelo Planalto é de que a principal de linha de investigação é mesmo de execução. 

Ajuda federal A Polícia Federal vai auxiliar a investigação, mas a chefia da apuração fica a cargo da Polícia Civil. A possibilidade de federalizar o caso havia sido cogitada pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, mas não foi à frente. Investigações são federalizadas quando há delito contra os direitos humanos e incapacidade do Estado para apurar. Então, a PF apura e a Justiça Federal julga. "É um caso que precisa do apoio de todas as forças investigatórias", disse Raquel. 

Rivaldo não demonstrou entusiasmo sobre a ajuda da PF. "Temos nossos protocolos estabelecidos. Quem quiser nos ajudar, receberemos a ajuda, de qualquer instituição. Entretanto, quero dizer que a Polícia Civil do Rio tem capacidade para resolver esse caso."