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Da Redação
Publicado em 30 de setembro de 2017 às 15:27
- Atualizado há um ano
Você deve ter visto a imagem de Carlos Arthur Nuzman sendo levado pra depor a contragosto na Polícia Federal, no início deste mês. Nuzman, só pra lembrar, é presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e também presidente do comitê que organizou os Jogos do Rio em 2016.
Sendo este cartola um dos mais destacados pilantras que regem o desporto brasileiro, até pouco tempo atrás era impensável que a lei pudesse alcançá-lo, mas os tempos estranhos em que vivemos levaram o dirigente para a PF, de onde saiu sem seus passaportes.
Deste modo, Nuzman não pode mais viajar pelo mundo, como fazia com frequência e desenvoltura. Logo, não pode mais ir às reuniões do Comitê Olímpico Internacional (COI) e não tem conseguido, pessoalmente, pedir dinheiro para pagar as dívidas milionárias da Olimpíada que ainda estão em aberto. O débito passa por contas de fornecedores, pendências trabalhistas e até reembolso de torcedores que desistiram dos seus ingressos. Daí você pode estar se perguntando: e eu com isso?
Bem, eu também estaria pouco me lixando para Nuzman se não fosse um detalhe deste legado olímpico: como os cofres do COI estão meio fechados para ele, o sabichão agora quer dinheiro público, meu e seu, para pagar a dívida, que já bateu em módicos R$ 132 milhões.
Tentarei ilustrar melhor, com um exemplo simbólico: o que Nuzman quer de bambá dá mais ou menos dois apartamentos e meio do Geddel. Deu para visualizar?
Nuzman, que preside o COB desde 2005, é suspeito de comprar votos para que a cidade do Rio de Janeiro fosse escolhida como sede olímpica.
A lógica é simples: a propina que ele é acusado de distribuir para trazer a Olimpíada para o Brasil não chega nem perto da grana que ele movimentou para organizar os Jogos. E “movimentar”, claro, é só modo de dizer.
Seguindo o mesmo roteiro da Copa do Mundo de 2014, os discursos em torno dos Jogos Olímpicos 2016 enfatizavam o tempo todo que o dinheiro público não seria utilizado para realização do megaevento.
Como estamos cansados de saber, o dinheiro púbico não só foi utilizado como drenado para muitos bolsos. Agora, depois de ter nas mãos um orçamento acima dos R$ 8 bilhões, o esperto do Nuzman quer mais um bocadinho para pagar dívidas que ele mesmo criou. A cara de pau não tem limites.
Neste momento em que correr com mala de dinheiro no meio na rua é coisa normal no Brasil, não é de se duvidar que Nuzman arranje essa fortuna em algum canto. Aliás, em sua casa, a polícia encontrou R$ 480 mil em espécie, em moedas de cinco países diferentes (tá ruim?). O engraçado é que, em suas contas bancárias, o total encontrado não passou de R$ 150 mil.
Nuzman é só mais um exemplo muito bem acabado dos nossos cartolas. Criam teia nos cargos, se beneficiam de todas as formas possíveis e, nas raras vezes em que a coisa incha para o lado deles, tentam empurrar o pepino para os outros.
Daqui, torço para que o legado olímpico de Nuzman seja uma bela de uma estadia no xadrez.
*Victor Uchôa é jornalista e escreve aos sábados