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Comerciantes querem ampliar negócios no bairro de São Cristóvão


 

CORREIO Encontros promove debate sobre microcrédito produtivo para os pequenos empresários do bairro

  • Hilza Cordeiro

Publicado em 27/10/2017 às 09:02:49
Atualizado em 17/04/2023 às 17:08:08
. Crédito: Cleber Nunes quer ampliar as vendas pela internet

“Expandir os negócios” é uma expressão comum no mercado empreendedor. E esse desafio é levado a sério pelos comerciantes do bairro de São Cristóvão. Lá, a rua acaba virando uma extensão das lojas. “Como dá para ver, aqui, todo mundo usa a calçada para expor a mercadoria”, observa o empresário Alcivan Barros, 32 anos, dono de uma lojinha de biquínis e moda íntima situada na avenida principal, a extensa Aliomar Baleeiro.

Há seis anos, o espaço da loja era menor, ficava restrito apenas ao interior, sem produtos expostos na calçada e com pouca variedade de peças. De lá para cá, ele aprendeu a encontrar e oferecer mercadorias a preço baixo, com materiais melhores. As vendas alavancaram, com peças que variam de R$ 3 a R$ 85.

Segundo Alcivan, o empreendimento vem dando certo e ele já pensa nos próximos passos da Ponto Íntimo. “Pretendo ter um espaço quatro vezes maior, pelo menos, para passar a vender roupas, acessórios e produtos de sex shop”, sonha ele. O projeto, no entanto, está em processo, já que ele precisa se planejar financeiramente para investir nessa ampliação.

Na visão de Fabrício Barreto, orientador de negócios e técnico do Sebrae, Alcivan está pensando corretamente ao querer agregar ao seu comércio uma atividade relacionada ao comércio de roupa íntima. “Um produto auxilia na venda do outro”, atesta. Alcivan Barros abriu uma loja de lingerie há seis anos (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) Diagnóstico A principal orientação do especialista aos empreendedores que desejam crescer é que nada pode ser feito intuitivamente. “É preciso fazer um diagnóstico da empresa, ver se ela está atingindo as metas, se a lucratividade está boa e analisar a própria imagem do negócio”, explica.

A partir daí, deve-se começar o plano de ação, aliado ao plano estratégico, definindo metas. Nessa fase, é preciso dimensionar o investimento para essa mudança, ver quais esforços ele precisará fazer, ver quanto pode gastar com ampliação, mão de obra, reforma e demais custos.

Construa segmentos Superando a barreira das empresas que não conseguem atingir os dois anos de existência, a loja Shalom MDF – também na Av. Aliomar Baleeiro –, com dois anos e meio, praticamente quadruplicou sua estrutura física, ocupando hoje o espaço onde antes era uma galeria inteira. O empreendimento trabalha com venda de móveis e produtos de decoração feitos em madeira, sendo que mais recentemente incorporou materiais de artesanato, como pincéis, tintas, papéis e tecidos.

Hoje, eles oferecem até cursos de pintura e stencil, forração em tecido, entre outros. “Trabalhamos com matéria- prima para manufatores. A área de cursos era como uma obrigação do nosso empreendimento. Era o que faltava para a gente colocar”, explica o gerente Cleber Nunes, 23.

Para Barreto, a oferta de cursos é um exemplo de inovação. “Inovar não é só inventar algo, é oferecer um material diferente”, aponta. A inteligência da loja, segundo o especialista, foi perceber a necessidade de agregar produtos auxiliares à demanda: a caixinha de madeira, o material de artesanato para customização e cursos. “Ele criou uma estrutura no segmento dele e os clientes conhecem o que a loja está desenvolvendo”. Barreto ilustra outras práticas como a adotada pela Shalom MDF. “Hoje, quando você chega num posto de combustível, vende-se não só gasolina, mas acessórios para o veículo, um cheirinho, um limpador. No salão, oferece-se um cosmético, e assim se cria clientes potenciais”, estimula.

Consumir para produzir Ainda segundo o gerente, mesmo na crise (ou talvez até por causa dela),  a loja não parou de crescer. “Esse é um dos comércios que não pararam de crescer porque, quanto mais gente desempregada, mais gente quer fazer alguma coisinha para vender”, acredita. Barreto lembra que o público que saiu do mercado de trabalho em função da crise viu no empreendedorismo uma saída, mas até para produzir é preciso consumir. “A loja acaba sendo uma provedora e as pessoas só tendem a fidelizar se der certo. Os pequenos negócios são os provedores, o início da cadeia. A pessoa cria algo, vende ali mesmo no bairro e a economia vai girando no local”, acrescenta.

Vendas pela internet No entanto, a resposta para o rápido sucesso também pode estar nas estratégias de marketing, já que a Shalom MDF possui canais de venda online, incluindo site, Instagram e WhatsApp, com entregas para todo o Brasil. Focado em manter o ritmo, Cleber conta que agora planeja abrir uma filial no centro da cidade e também contratar dois profissionais de marketing para cuidar melhor das redes sociais. “Queremos alguém para gerenciar e trazer ferramentas interessantes, que aumentem ainda mais as vendas”, justifica.

O gerente conta que as vendas dos produtos já são feitas para todo o Brasil, mas o foco é mesmo o mercado baiano. “Porque o frete fica mais em conta. Toda a logística e cobrança de imposto dentro do estado é melhor para vender”, adianta. No ano passado, o Sebrae divulgou uma pesquisa sobre o comércio eletrônico em que a Bahia aparece em 7º lugar como destino das vendas de lojas virtuais brasileiras. Como é de se esperar, o topo é liderado por São Paulo e Rio de Janeiro. Outro dado interessante é que  os principais segmentos de atuação dessas empresas são justamente moda e decoração para casa, com  30% e 13%, respectivamente.

O especialista do Sebrae comenta ainda que os e-commerces não são novidade, mas que a internet vem alterando cada vez mais a dinâmica da empresas, sendo que, mais recentemente, lojas como Americanas, Submarino e Walmart passaram a fazer vendas comissionadas de produtos de pequenas empresas.

Segundo Barreto, além de impulsionar a saída de mercadorias, a presença online tem o poder de expor e dar visibilidade às marcas pequenas. “Claro que  o objetivo é vender, mas o fortalecimento da marca pode ser feito pela internet, gerando valorização e reconhecimento”, sugere o especialista do Sebrae.

 São Cristóvão tem comércio diversificado Com uma grande diversidade de comércios e serviços, a Avenida Aliomar Baleeiro, a principal do bairro, tem desde frigoríficos a consultórios odontológicos. No último levantamento da ferramenta Radar Sebrae, com dados de outubro de 2015, havia 540 empresas no bairro de São Cristóvão. O catálogo é preenchido por restaurantes, lojas de roupas e calçados, hortifrúti, móveis e eletros, assistência técnica de celulares e notebooks, padarias, materiais de construção, óticas, farmácias, salões de beleza, entre outros.

Para a comerciante Raimunda Maia, 57, que há 15 anos é dona de um pet shop, o bairro é excelente porque “tem tudo, não precisa sair para outro lugar para comprar nada”. A maior concentração é de salões de beleza (138), seguida por minimercados/mercearias (97), bares e restaurantes (56) e comércio de cosméticos (48). Esse potencial chamou a atenção da cabeleireira Cristina Santana, 42, que decidiu sair de  um salão na Barra, onde trabalhava há 20 anos, para poder montar seu próprio negócio. “Eu percebi que eu tinha conhecimento e decidi encarar. Fui conquistando minhas clientes e já estou lá há quatro anos”, conta ela.

Segundo Raimunda, o público consumidor vem de bairros vizinhos como Mussurunga, Itinga, Abrantes e Stella Maris. O Radar Sebrae definiu a região como de alta centralidade urbana, com um grande número de vias estruturantes, circulação de pessoas e atividades comerciais próximas. A ferramenta também informa a renda média da população, estimada em  R$ 852,46 per capta, valor considerado popular. Para o especialista Fabrício Barreto, o fato de a maioria das empresas do local ter superado os dois primeiros anos de existência revela que o bairro está em constante crescimento.

 Bairro vai ganhar uma loja do Crediamigo Além do medo de arriscar, uma das principais dificuldades para os empreendedores que desejam ampliar seus negócios é a falta de informações sobre a melhor maneira de conduzir essa importante decisão. Quem quiser se inteirar melhor pode aproveitar o CORREIO Encontros desse sábado, às 14h, no Shopping São Cristóvão, em São Cristóvão, onde o Banco do Nordeste apresentará o Crediamigo, uma linha de crédito para empreendedores formais e não formais, com valores que variam de R$ 100 a R$ 6 mil, podendo ser renovados em até R$ 15 mil, de acordo com a necessidade e porte do negócio. Foto: Evandro Veiga/CORREIO Inclusive, no último Encontros, em Plataforma, a gerente de Microfinanças do banco, Lana Pinto, anunciou a redução nas taxas de juros dos principais produtos ofertados, que chegam a uma queda de até 10%. No Giro Popular Solidário (GPS), a taxa caiu de 1,7% para 1,62%; o Giro Solidário (GS) era 2,0% e passou para 1,90%. O Investimento Fixo (IF) de 2,0% foi para 1,80%. O Giro de Investimento (GI) e o Credimais foram as linhas com maior queda:  de 2,0% para 1,90% e 1,8% para 1,62%. “A gente teve esta redução agora meio que acompanhando a redução das taxas gerais de inflação, o que torna o Crediamigo ainda mais atrativo para o empreendedor. Só o fato de ter dinheiro para investir em seu estoque ou no capital de giro da sua empresa, já gera uma maior margem de lucro”, explica.

Outra vantagem é que até mesmo as pessoas que tenham alguma restrição no Sistema de Proteção ao Crédito (SPC) ou Serasa podem solicitar. Para contratar o crédito, só é preciso ter pelo menos seis meses de atividade. Até o final do ano, o banco pretende inaugurar quatro novos postos de atendimento nos bairros de Cajazeiras, Plataforma, São Cristóvão e Paripe. Até o próximo mês, já deve ser inaugurado o do bairro de Plataforma. A agência de São Cristóvão ficará sediada no próprio Shopping  São Cristóvão.

Ao todo, são mais de seis mil clientes e desembolso que chega a R$ 24 milhões. “Todo empreendedor de qualquer atividade precisa de crédito. É um financiamento que busca ofertar oportunidade de trabalho com o aumento da capacidade de empreender. Esse é o objetivo do Crediamigo, propiciar que os sonhos aconteçam”, estimula.