Criadora da Black Fashion Week participa de encontro de empreendedorismo

Adama Paris dividiu espaço e fala com a estilista Carol barreto e a designer Goya Lopes

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  • Daniel Silveira

Publicado em 22 de novembro de 2017 às 15:48

- Atualizado há um ano

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Na tarde desta terça-feira (21), o Goethe-Institut recebeu a estilista senegalesa Adama Paris, criadora da Dakar Fashion Week e da Back Fashion Week, a também estilista e pesquisadora Carol Barreto e a designer Goya Lopes para a abertura do Fórum Mercado Black, que acontece até esta quarta-feira (22) no mesmo espaço.  A estilista senegalesa está em Salvador para participar de um encontro de empreendedorismo (Foto: Divulgação) O trio de peso na moda se reuniu para discutir “Moda, Cultura e Empreendedorismo Internacional”. Criadora da mais importante semana de moda negra, Adama contou sua experiência na carreira de estilista. Depois de abandonar seu trabalho em um banco, em Paris, ela resolveu estudar design. Em 2002, ela criou a primeira semana de moda do Senegal, a Dakar Fashion Week. “Cresci com minha mãe dizendo que eu poderia ser o que quisesse, mas mesmo assim ser uma mulher jovem e negra não foi fácil”, comenta Adama sobre as dificuldades encontradas quando resolveu criar a semana de moda. 

Ela conta que sua principal meta enquanto designer era produzir para todas as pessoas. “Quero criar uma moda que seja consumida e vestida pelo mundo inteiro”, diz a designer. Adama fala que, exatamente por isso, ela acredita que o que é produzido, pensado e desenhado no continente africano em termos de vestuário e acessórios pode circular o mundo inteiro. “Quando fomos desfilar em Praga, eu fiquei com medo pois a cidade é de grande maioria branca, mas o resultado foi como um tapa na cara porque o desfile foi um sucesso”, explica. 

Na mesma linha, Goya também mostrou toda sua trajetória como artista plástica e designer por 31 anos, desenhando estampas para importantes marcas do Brasil e do mundo. Ela destacou a economia criativa e a importância das políticas públicas para fomentar o mercado de moda. Ela conta que um dos pontos cruciais para se manter foi atuar em várias frentes. “Trabalho fazendo estampa, como artista plástica para alguns clientes e até desenhando grafismo em brindes”, revela. Outro ponto importante de sua trajetória, segundo ela mesma, são as parcerias que mantém com marcas, lojas e outras empresas e instituições, o que chama de ‘capital de relacionamento’. Ao falar de sua história como professora e estilista, Carol Barreto também destacou essas parcerias e lembrou da necessidade de estar preparado para as oportunidades. “Quando alguém pede para ver seu portifólio, ele está bonito e pronto para ser apresentado? Isso é muito importante”, questiona. A mesa composta por Carol Barreto, Adama Paris e Goya Lopes mostrou a forçla do empreendedorismo negro e feminino (Foto: Divulgação) Outro aprendizado da mesa foi a necessidade de fazer circular o dinheiro entre empreendedores negros. “Quando você investe em um empreendedor negro, ele ganha dinheiro e investe em outro, isso fortalece a rede”, comentou Adama, que foi endossada pela plateia e pelas colegas de mesa. Ela completou lembrando que é preciso assumir o papel de protagonista. “Não precisamos esperar que pessoas brancas digam o que é bom ou o que se deve gostar”, completa. 

Na próxima semana, mais precisamente na segunda-feira (27), o Goethe-Institut Salvador-Bahia segue dando espaço para mulheres. O espaço vai sediar a 6ª edição do projeto “Memórias Contemporâneas” realizada em parceria com a Fundação Pedro Calmon (FPC), entidade vinculada à Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA). O tema do encontro será “Mulheres na Diáspora” e vai contar com a presença  de Lindinalva de Paula, da Rede de Mulheres Negras da Bahia, e Valdecir Nascimento, do ODARA Instituto da Mulher Negra, ao lado da cantora e ativista norte-americana Sandra Izsadore, ex-filiada do Panteras Negras, com mediação de Vanessa Soares. O evento acontece às 19h, na Biblioteca do Goethe-Institut, com entrada franca.

Com mais esse evento, o espaço segue se mostrando como um local de debates importantes na cidade. Basta lembrar que recebeu, durante o Fiac, a peça O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, depois desta ter sido impedida judicialmente de ser realizada em espaços da Fundação Gregório de Matos. “Desde que estou aqui, faz dois dois anos, venho observando a cidade e recebo muitas propostas de grupos marginais, queer, trans, mulheres negras que buscam espaços para se apresentarem”, explica Manfred Stoffl, diretor executivo do Goethe-Institut Salvador-Bahia. Independentemente das polêmicas, Manfred declara que o espaço está aberto às principais questões da sociedade. “Nós somos um centro cultural e nossa tarefa é convidar artistas, iniciar um intercâmbio e fomentar o pensamento crítico de sociedade civil”, finaliza.