Da boca aos pés; veja as doenças comuns do Carnaval e como evitá-las

2 milhões de preservativos serão distribuídos durante a folia

Publicado em 4 de fevereiro de 2018 às 10:06

- Atualizado há um ano

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Cuidado na hora de sair beijando todo mundo no Carnaval (Foto: Arquivo CORREIO) O Carnaval de 2003 foi barra-pesada para Jeff, apelido de um homem de 34 anos que se descobriu bissexual durante a folia em Salvador. Morador de Itacaré, cidade do Litoral Sul baiano muito frequentada por turistas, ele decidiu naquele ano passar o período festivo em Salvador para ficar com a namorada que, até então, ele não sabia que também era bi.

“A gente se conheceu aqui em Itacaré, tinha três meses de namoro, estávamos apaixonados, mas ela escondeu de mim que gostava de mulheres. Mas quando cheguei na casa dela, no bairro do Imbuí, já no sábado de Carnaval, tinham duas moças e três rapazes. Nos conhecemos, conversamos muito, demos risadas e no meio da noite fizemos um ato sexual conjunto e eu acabei ficando com dois deles também”, contou.

E tudo foi feito na maior naturalidade, tanto que ninguém se preocupou em usar preservativo. O saldo foi uma gonorreia geral.

“Alguns pegaram (a doença) na boca, outros na genitália. Me tratei durante um mês. Nunca mais voltei ao Carnaval de Salvador e nem quero. Mas continuo com a mesma mulher, hoje casado, e de vez em quando ela fica com amigas e eu com amigos, mas sempre nos prevenimos”, disse.

Momentos como o de Jeff e amigos(as) estão propensos a ocorrer durante a folia momesca, sobretudo devido ao clima de diversão que parece às vezes não ter limites.

Soma-se a esse clima, em muitos casos, o uso  excessivo do álcool ou de drogas ilícitas, aliado ao sexo sem preservativo, e tem-se a receita para se adquirir as doenças sexualmente transmissíveis.

Vai beijar muito?  E não só elas estão presentes: talvez até mais comum são as mononucleoses, popularmente conhecidas como ‘doenças do beijo’, por meio da qual pode se adquirir, por exemplo, uma herpes (sapinho), meningite e até doenças respiratórias.

Em todo final de Carnaval é certo o registro de surto de um determinado vírus causador de uma forte gripe que acaba se espalhando e sempre ganha o apelido da música mais tocada – Que Tiro Foi Esse?, de Jojo Todynho, é a mais forte candidata este ano. Mas, pela boca, além dessas doenças, a pessoa ainda pode adquirir uma febre tifo ou ter uma diarreia crônica, a depender do nível de inadequação higiênica do alimento que ela ingeriu. “Durante o Carnaval, as pessoas não costumam lavar as mãos, até mesmo porque não têm muitos locais para fazer isto. Fazem as necessidades nesses banheiros químicos que sabemos como é e voltam para o circuito para se alimentar, beijar, fazer sexo e aí acabam pegando essas doenças”, comentou a médica infectologista da Escola Bahiana de Medicina Nanci Silva.

Menos parceiros Como não tem como falar para as pessoas deixarem de beijar na boca ou fazer sexo no Carnaval, diz a médica, a orientação é se envolver com o mínimo de pessoas possível, de preferência apenas com um(a) parceiro(a) fixo e ainda assim usar preservativo durante o ato sexual.

“Sempre que puder, deve-se lavar bem as mãos e evitar ficar muito tempo em locais com muita gente, procurar locais mais abertos onde se possa respirar com mais tranquilidade”, indica ela.

A Secretaria Municipal de Saúde de Salvador (SMS) informou que fará a distribuição de cerca de 2 milhões de preservativos durante a folia. E o uso dele não deve ser apenas no ato sexual por via vaginal ou anal.

Transmissão  Por meio da ejaculação na boca é possível se transmitir gonorreia e sífilis, e em um grau menor o vírus HIV, alerta o médico infectologista  Antônio Carlos Bandeira,  da Sociedade Brasileira de Infectologia. 

O sexo oral, no homem ou na mulher, é sempre mais perigoso para quem faz, devido ao contato direto com a genitália, podendo a mulher transmitir também a gonorreia e o sífilis.

Já a transmissão do HIV por parte da mulher, no caso de relação com  homem, tem mais chance de ocorrer se ela estiver próxima do ciclo menstrual, e no caso de relação mulher com mulher só ocorre se durante o ato for compartilhado entre elas algum objeto sexual penetrante.

“Os casos de maior risco são sempre a penetração do homem na mulher ou em outro homem sem preservativo. Por isso, a necessidade da prevenção por meio da camisinha”, completou Bandeira.

Coordenadora do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância e Saúde, da Prefeitura de Salvador, a médica infectologista Cristiane Cardoso disse que durante o Carnaval é preciso ainda ter cuidado com os pés.

“Importante sempre andar calçado, pois ocorre muito de ter vidros no chão, de garrafas de cerveja e outras bebidas. Além do mais, as poças de água podem acumular sujeira e transmitir doenças, como a leptospirose, causada pela contaminação da água com a urina do rato”, comenta a infectologista.

Os profissionais da área consultados pelo CORREIO disseram também que um cuidado essencial durante o Carnaval é a pessoa sempre beber líquido, de preferência água, e se alimentar bem. “Dessa forma, corre menos risco de o corpo ficar com a imunidade baixa e pegar doenças”, observou Cristiane Cardoso.