Dançarina de Anitta ministra aula em Salvador e defende dança com salto

Desconforto e machismo ou forma de ganhar mais confiança? É a indagação que gira em torno do estilo Heels Class

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  • Vanessa Brunt

Publicado em 18 de outubro de 2017 às 18:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva

Cabelos, braços, pernas e o saber de si mesmo... tudo foi remexido na manhã desta quarta-feira (18), no Teatro Vila Velha, Campo Grande. De um lado para o outro, pisando firme, a dança do autoconhecimento foi sendo feita e sentida por homens e mulheres que lotaram a sala do teatro para aprender o estilo Heels Class, uma modalidade artística que tem como objetivo a dança com o salto alto. O formato mistura danças urbanas, jazz, hip-hop e ballet. Arielle Macedo afirma que o Heels Class, modalidade em que se dança com salto alto, melhora a postura e a sensualidade (Foto: Marina Silva) A oficina gratuita fez parte do festival A Cena Tá Preta, que reúne teatro, dança, música, literatura, cinema, performance e novas mídias digitais para quebrar preconceitos e provar, mais uma vez, que se a coisa 'tá preta', é porque ela está boa. Desde que foi criado pelo Bando de Teatro Olodum, há oito anos, o festival tem como missão divulgar a arte negra nas diversas linguagens. A aula desta quarta foi ministrada pela bailarina e coreógrafa carioca Arielle Macedo, que integra o time de dançarinas dos shows e clipes da cantora Anitta e também do seriado Mister Brau, da Rede Globo. Ela é uma das ‘brauzetes’ e dança ao lado do casal de astros vividos por Lázaro Ramos e Taís Araújo (Brau e Michele). O momento foi animado com músicas internacionais de cantoras como Rihanna e Beyoncé, que inspiram o movimento. Confira um dos grupos da aula colocando a dança em prática: “O estilo consegue despertar a sensualidade que está dentro de quem dança, melhorando a postura e queimando calorias. É um fator de incentivo ao processo de empoderamento, equilíbrio e autonomia. Nele, trabalhamos a autoestima e o conhecimento de suas formas, lembrando que cada pessoa tem diferenciais no próprio corpo e sempre há o que valorizar nele”, pondera Arielle. Mas e os pés? Como é que ficam? “O discurso do conforto e do feminismo apontam, em muitos casos, que usar salto é algo machista, porque dói o pé. Isso é o que se passa na cabeça de muitos hoje, como se o salto servisse para deixar a mulher como um tipo de ‘bonequinha para ser usada’. Mas não é bem assim. A dança com salto faz bem para a saúde, fortalece as penas e o abdômen. Os pés não necessariamente precisam ser prejudicados, não se as técnicas são seguidas e a pessoa estudada. É óbvio que é preciso cuidado com os exageros, porque em um determinado momento, pode passar a machucar”, defende a dançarina. Lucas Souza, que também é professor de Heels, foi um dos alunos da oficina. Ele conta que homens e mulheres procuram o estilo, muitas vezes, para apimentar as relações amorosas. “Procuram as minhas aulas para sair da rotina, fazer uma dança, surpreender o parceiro e, no meio disso, acabam entendendo e encontrando mais de si. É sempre um ganho. O salto é um artifício para sentir mais dominação sobre si mesmo. É por isso que homens também adoram, tenho vários alunos e a aula de hoje também estava cheia de pessoas do sexo masculino”, aponta o profissional, quebrando preconceitos e lembrando, ainda, que é preciso estudar muito para ser um professor da área. “Existem técnicas específicas para a dança de salto, é necessário achar um profissional competente. É como fazer academia: cada corpo, peso e movimento vai depender da pessoa. É preciso um alongamento específico. Precisamos estudar a musculatura, por exemplo”, conta Lucas, que ainda alerta: “Qualquer tipo de atividade física machuca, não é sobre o salto, é sobre saber como guiar”. Tênis, sapatos baixos e pés descalços também eram muito vistos em meio à aula dada por Arielle, que não trazia expressões de dor ou incômodo nos grupos empolgados. O espaço ainda reunia botas e diferentes calçados com saltos longos. A dançarina, no entanto, alerta que a forma mais segura é começar com os pés nus. “Muitas pessoas começam sem colocar os saltos. É importante que seja assim para ir conhecendo o próprio ritmo e acostumando o corpo. Fica mais fácil de não prejudicar a saúde quando começar a usar os sapatos. Mas é claro que, na hora de vestir os pés, escolher um salto confortável também conta muito”, diz. “É uma dança para maior liberdade, para quebras de padrões. A mulher não precisa do salto para se sentir bonita, mas conseguir dançar com ele é uma forma de sentir mais confiança para estar sem”, completa a coreógrafa. “A Anitta foi uma das primeiras artistas a incluir o estilo na carreira. Isso contribuiu para o seu destaque. Passou mais segurança para dominar os próximos passos, em todos os sentidos que isso pode ter”, conclui. Com salto ou sem salto, o fato é que o mais importante é o conforto e a autoconfiança, inclusive aquela que não permite esforço para o que doer. Não é sobre o sapato, é sobre quem está nele. Ou melhor, sobre conseguir se colocar no lugar de quem está usando qualquer tipo de coisa nos pés. “Quem tem empatia, sabe dançar melhor na dança da vida”, exclama e finaliza Lucas, mesmo que com os pés descalços. Ainda hoje (18), às 19h, a pesquisadora, professora, bailarina e coreógrafa Edileusa Santos conduzirá a performance Mulheres de Àse, exaltando, por meio da dança, a vida das mulheres que atuam nas religiões de matrizes africanas e são símbolos de resistência, crença, fé e àse. As atividades do projeto A Cena Tá Preta, que já reuniram palestras como a da youtuber Tia Má e shows como o da cantora Larissa Luz, prosseguem até o domingo (22). Confira a programação completa aqui.