De cueca para incontinência a supercomputador; veja 10 projetos do Cimatec

Instituição vai sediar o seminário Conexões, último evento do ano do Fórum Agenda Bahia, nesta quarta-feira, 27

  • Foto do(a) author(a) Thais Borges
  • Thais Borges

Publicado em 26 de setembro de 2017 às 04:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Evandro Veiga/CORREIO

Imagine um lugar onde é possível encontrar protótipos de carros de Fórmula 1, ao mesmo tempo em que é produzida uma cueca capaz de corrigir a incontinência urinária em crianças. Onde se desenvolvem projetos sobre realidade aumentada e internet das coisas; mas também se aprende sobre equipamentos de movimentação industrial como gruas e empilhadeiras – típicas das grandes fábricas. Onde tecnologias inéditas são desenvolvidas e testadas. E, para completar, ainda ‘incuba’ e ‘acelera’ startups.

Esse espaço não está longe, em uma instituição estrangeira. Mas aqui mesmo em Salvador, ali na avenida Orlando Gomes, em Piatã, onde em uma área de 35.000 m² funciona o Senai Cimatec, polo de inovação, pesquisa e educação que reúne um centro tecnológico, um centro universitário e uma escola técnica. E que agora também é uma das casas do Fórum Agenda Bahia. 

Nesta quarta, dia 27, a instituição recebe o seminário Conexões, último evento da programação de 2017 do fórum. O simpósio é gratuito, acontece das 8h às 18h e o credenciamento poderá ser feito no local. As vagas estão sujeitas à lotação do espaço.

No Cimatec são cerca de 11,6 mil estudantes divididos entre os cursos técnicos e de graduação superior. O centro universitário foi considerado a melhor instituição de ensino em Engenharia do Norte e Nordeste, nas cinco últimas avaliações do Ministério da Educação, e já conta com dois cursos de mestrado e dois de doutorado, além de diversos cursos de especialização.

Fundado há 15 anos, o Senai Cimatec vai também ganhar um novo braço em breve: o Cimatec Industrial, cuja primeira fase deverá ser implantada em 2018. Trata-se de um grande complexo tecnológico e industrial em uma área de quatro milhões de metros quadrados em Camaçari, na Região Metropolitana. A sede do Senai Cimatec vai receber o seminário Conexões nesta quarta (Fotos: Evandro Veiga/CORREIO) Serviços ao público

O Senai Cimatec oferece serviços para a comunidade externa também. É o caso do Laboratório Aberto, um espaço que pode ser alugado por empresas, por 80 horas mensais, no valor de R$ 107.  “O valor é bem acessível. Atendemos também o público interno com os alunos. No laboratório, temos várias máquinas de solda e mecânica que podem ser utilizadas”, explica a analista de novos negócios Ana Teresa Oliveira.

O laboratório pode ser contratado tanto por pessoas físicas quanto jurídicas. Os interessados só precisam arcar com os insumos. Se as empresas não souberem como fazer um protótipo, há outra alternativa: o serviço de Prototipagem, oferecido pelo Sebraetec. Nesse caso, os projetos têm um teto de até R$ 29 mil, sendo 70% custeados pelo Sebrae e os outros 30% pela própria empresa.

Além disso, startups podem fazer parte da Incubadora ou da Aceleradora do Cimatec. A Incubadora foi criada em 2012, com o objetivo de impulsionar a competitividade das empresas baianas, por meio da promoção da inovação e da transferência tecnológica, e estimular a cultura empreendedora, de acordo com o próprio Senai. Atualmente, 25 empresas estão incubadas lá.

“Fazemos uma reunião, que é uma primeira triagem, para saber se a empresa tem aderência com uma das 33 competências do Senai. As empresas participam de mentorias, eventos e disponibilizamos rodadas de investimento e ajuda jurídica”, diz a analista de novos negócios Mariane Falcão.

Já a Aceleradora é para as empresas que já passaram pela incubadora. Criada em 2014, a Aceleradora do Cimatec foi a primeira da Bahia credenciada pelo programa federal Startup Brasil. Para fazer parte de qualquer um dos projetos, é preciso entrar em contato com o Senai Cimatec, no telefone (71) 3462-9563, das 8h às 17h, ou mandar um e-mail para: [email protected].  Maquete simula casa inteligente onde equipamentos interagem entre si Agenda Bahia 

Para Ricardo Alban, presidente da Federação das Indústrias da Bahia (Fieb), entidade responsável pelo Senai Cimatec, com os seminários Cidades (ocorrido em 30 de agosto) e Conexões, que acontece nesta quarta, o Fórum Agenda Bahia mantém a característica principal do evento, que já acontece há oito edições, de fomentar o debate de assuntos importantes para o desenvolvimento da Bahia e Salvador.  

“Com as experiências apresentadas, o público, que inclui gestores públicos e privados, além de outros atores sociais, enxerga caminhos de transformação. As soluções para as questões desafiadoras que enfrentamos passam pela união de esforços de pessoas e organizações, conciliando interesses sociais, ambientais e econômicos”, afirma Alban.

O presidente lembra ainda que, além do Senais Cimatec, o sistema Fieb é formado por uma rede de entidades que atuam de forma articulada no fortalecimento da indústria baiana. “A Fieb estabelece o diálogo com outras instituições e participa de negociações em prol da melhoria do ambiente de negócios”, cita Ricardo Alban.

Ele ainda pontua que, atualmente, a inovação é sinônimo de sobrevivência para a indústria. "A inovação é premissa de valor para a atuação do sistema Fieb", acrescenta.

O Fórum Agenda Bahia 2017 é uma realização do CORREIO, com apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador (PMS), Federação das Indústrias da Bahia (Fieb) e Rede Bahia; patrocínio da Braskem, Coelba e Odebrecht; e apoio da Revita.

Dez pesquisas inovadoras

Para dar uma ideia de tudo o que é pesquisado e produzido em termos de inovação no Senai Cimatec, o CORREIO visitou a instituição e preparou uma lista com alguns dos principais destaques. Confira: Laboratório de microeletrônica desenvolve projetos em realidade virtual, realidade aumentada e internet das coisas Microeletrônica – O primeiro projeto do setor, lançado em 2008, foi à frente de seu tempo. Era um tablet, quando ainda não existia tablet (o iPad, que deu início à categoria, só chegou em 2010). Na época, o produto foi chamado de ‘prancha eletrônica’ e era uma espécie de substituto dos cartões de fala utilizados por crianças com deficiência. Hoje, um dos projetos recentes inclui uma cueca para controlar a incontinência urinária de crianças. “O músculo começa a trabalhar com a eletroestimulação, como uma espécie de fisioterapia. Da mesma forma, ele sempre manda uma mensagem para os pais da criança”, explica o gerente de eletrônica embarcada do Cimatec, Luiz Fernando Taboada. Todos os projetos do setor são desenvolvidos por empresas em parceria com o Cimatec e parte do financiamento pelo governo federal. “A cueca está em negociação avançada para chegar ao processo industrial. A ideia é que ela seja vendida em farmácias”, explica. O projeto é coordenado por um professor da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública. Micro, pequenas e médias empresas aprendem a otimizar produção em fábrica modelo Fábrica Modelo – É a primeira do Brasil e tem parceria com o Sebrae. É destinada a micro, pequenas e médias empresas que trabalham com manufaturas. Lá, cada empresa pode ficar por uma semana, em média, com objetivo de aprender como otimizar sua produção.  “A fábrica aplica a metodologia de manufatura enxuta, que é para eliminar os desperdícios da produção, trazendo mais eficiência”, explica o estudante João Pedro Almeida, 21 anos, que é estagiário do projeto. Para participar, é preciso entrar em contato através do telefone (71) 3462-8434. As empresas recebem um subsídio de R$ 21 mil do Sebrae, mas devem entrar com uma contrapartida de R$ 9 mil. Até então, já passaram 24 empresas pela fábrica, incluindo da área de cosméticos e até padarias. 

Laboratório de Engenharia Automotiva – É lá que os estudantes fazem protótipos de carros de Fórmula 1 e levam para a Fórmula SAE Brasil, edição nacional da competição estudantil SAE Internacional, que começou nos Estados Unidos. Diferentemente da Fórmula 1, na SAE, não há corridas. Os veículos são avaliados por aspectos como resistência e economia de combustível. O Cimatec participa desde 2015, assim como outras instituições de todo o país.  No ano passado, ficaram em 24º lugar, mas a próxima meta é ficar entre os 10 primeiros.  No laboratório, os estudantes também montam e desmontam veículos de verdade, como uma Renault Duster que estava no local, no dia da visita do CORREIO.  Estudantes criaram cervejas artesanais com processo de fabricação automatizado Cerveja artesanal – Os alunos do curso de Engenharia Química tiveram um desafio: desenvolver uma cerveja que fosse inovadora e produzida da forma mais automatizada possível. Ao final de três meses, foram produzidos quatro tipos de cerveja. “Teve uma que era menos alcóolica e mais doce, enquanto a Cerva é uma cerveja de trigo que tem uma cor diferente. A ideia é levar em frente comercialmente”, explica o estudante Danilo Medeiros, 20.

Gel depilatório com própolis –  Desenvolvido no Laboratório de Pesquisa Aplicada em Química, o gel é uma proposta alternativa aos que já são comercializados nas lojas de cosmético. Os estudantes fizeram cinco testes de quantidade de própolis, que resultaram em cinco diferentes cores do produto. “Eu imaginava que o Cimatec era grande, mas, quando entrei, vi que não era nem 5% do que eu pensava, porque é muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Você pode trabalhar em tantas pesquisas que dá vontade de entrar em todas”, conta o estudante Vieira Rosa, 18. Supercomputador tem capacidade pra armazenar 137 terabytes de informações Supercomputador – Apenas seis pessoas podem entrar na sala onde fica o equipamento e todas precisam passar um crachá e fazer o registro biométrico, com a digital. Para completar, o equipamento precisa ser mantido a uma temperatura entre 17°C e 18°C. Tanta segurança não é para menos: o supercomputador é o segundo mais potente da América Latina. O primeiro fica no Rio de Janeiro, mas, atualmente, não está funcionando. O supercomputador armazena dados de grandes empresas, como a Shell, e até de instituições como as universidades Federal da Bahia (Ufba) e da Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). São pelo menos 137 Terabytes de memória, com capacidade de armazenamento de dois mil discos de um terabyte. “O supercomputador precisa estar sempre ligado. Por isso, em caso de queda de energia, existe um equipamento que é como um ‘nobreak’ e segura a energia por até seis segundos, até que seja acionado o gerador”, explica o consultor José Vieira. 

Supercomputador da Fiocruz - A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) tem seu próprio supercomputador, uma máquina menor do que aquela geral e que só contém dados da entidade. O equipamento é acessado remotamente pela própria Fiocruz.  Alunos treinam como operar equipamentos de movimentação industrial no laboratório de simulação de logística Simulação de logística – No simulador, os estudantes podem treinar, em até 40 fases, como operar Equipamentos de Movimentação Industrial (EMIs), como escavadeiras e gruas. “Todas as características, como sensibilidade, içamento de carga e até a força do vento são calculadas de forma que fique mais próximo do real”, explica o almoxarife José Nilton, 26. Nilton começou como estudante de um curso técnico no Senai e já chegou a ser instrutor para turmas que estão aprendendo a lidar com empilhadeiras. “Me interessei por Logística porque é uma área que todas as empresas necessitam”. Ingrid Winkler, pesquisadora em computação visual no Cimatec Software, realidade virtual e aumentada – A área de software, de certa forma, é a que acaba dando suporte a todas as outras do Cimatec. “Temos uma parceria com a Intel para testes de novos produtos antes de chegar ao mercado, que são as provas de conceito”, conta o gerente executivo do setor de computação, Adhvan Furtado. É lá, por exemplo, que fica uma casinha inteligente – baseada na Internet das Coisas -, que é quando a própria casa pode se comunicar entre si. Um exemplo clássico é quando a geladeira avisa ao dono da casa qual produto está faltando.  Além de Internet das Coisas e Big Data, o setor trabalha com realidade aumentada e realidade virtual. “A realidade aumentada é quando você tem um cenário real com informações virtuais, como aquele jogo Pokémon Go. A realidade virtual tem um cenário virtual”, explica a pesquisadora Ingrid Winkler, doutora em Computação Visual.  Um dos projetos concluídos recentemente foi para a Whirlpool, empresa responsável pelas marcas Brastemp, Consul e Kitchen Aid. “Usamos a realidade virtual para fazer a validação em processos virtuais, para diminuir custos da empresa”, explica o líder do projeto, Leandro Salles.

Aviões – Desde o mês passado, o Cimatec mantém um laboratório em parceria com a Embraer. O objetivo é melhorar a aeronavegabilidade, diminuindo o tempo de reparo de danos e proporcionando maior segurança às aeronaves.

*Colaborou a editora Andreia Santana