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Darino Sena
Publicado em 31 de outubro de 2017 às 09:46
- Atualizado há um ano
Alguns acreditam que uma espécie de demônio se instalou no Barradão. Um deles é o já folclórico torcedor e figuraça Mateus Gonzalez. Ele viralizou nas redes sociais com seus rituais antissatânicos. Primeiro, levou sal grosso para expulsar o tal belzebu. Como não funcionou, voltou munido de cinco litros de água benta. Não foram suficientes, mas Mateus me disse que não vai desistir.
Tem torcedor que acha que é falta de vergonha na cara. Tem quem pense que o problema é psicológico. Não ganhar em casa já teria virado um trauma. Para os vagabundos que danificaram os carros das equipes de imprensa no Barradão, a culpa é de quem escreve, reporta, narra ou comenta, apesar de não chutarmos, não contratarmos, não entrarmos em campo, não escalarmos e também não batermos pênalti.
Abrindo um parêntese, é um problema antigo do estádio – o acesso da imprensa. Quem trabalha em rádio e é credenciado estaciona literalmente em cima da arquibancada, dentro do Barradão, num espaço que não é cercado, tampouco vigiado. Para entrarmos nas cabines de transmissão, precisamos passar no meio da torcida, também literalmente, para você não achar que é exagero.
Antigamente, quando o futebol era um ambiente menos selvagem e os estádios tinham uma menor incidência de imbecis, isso não era necessariamente um problema. Mas hoje, com bandidos travestidos de torcedores aos montes, é preciso rever a questão do acesso da imprensa ao belo Manoel Barradas. Ou vão esperar acontecer uma desgraça para tomar alguma atitude?
Fechando o parêntese e continuando com as possíveis explicações para o aproveitamento sub-ridículo do Vitória em casa neste Brasileiro, a tese que mais me agrada é do amigo Elton Serra. Diante de todo o embate filosófico acerca da draga rubro-negra em seus domínios, Elton foi certeiro. “Estão levando muito a sério essa história de zica, maldição e afins no Barradão. Não se pode mascarar que o time do Vitória é bem ruim”, escreveu no Twitter.
A zaga não passa confiança, os laterais são apenas razoáveis, ninguém cria no meio de campo e o ataque, que até funciona, não encontra respaldo no resto do time para resolver as partidas. Diante da escassez de qualidade do elenco, o time apela quase exclusivamente para um único recurso quando joga em casa: levantar bolas na área. Domingo, no empate com o poderoso Atlético-GO, lanterna do Brasileirão, foram 58 cruzamentos, segundo o site Footstats. Considerando o tempo de bola em jogo, a média foi superior a um cruzamento por minuto.
O “demônio” que se instaurou no Barradão na atual temporada tem nome: incompetência. O único e decisivo “azar”, pra torcida, foi o colégio eleitoral, do qual o torcedor não pode fazer parte, ter escolhido um presidente que se mostrou omisso e inconsciente do tamanho da responsabilidade de comandar um dos maiores clubes do Brasil.
Se o Vitória ainda tem boas chances de escapar do rebaixamento, deve isso quase exclusivamente a Vagner Mancini, que conseguiu, ao menos, fazer esse time fraco se comportar bem fora de casa. Sem os preciosos pontos fora, o rubro-negro já estaria degolado. Se mandarem Mancini embora, acaba a esperança.
Darino Sena é jornalista e escreve às terças-feiras.