Depois de matar jornalista suspeito foi para casa dormir: 'premeditou', diz polícia

Segundo a polícia no dia seguinte ele foi para uma entrevista de emprego

  • Foto do(a) author(a) Gil Santos
  • Gil Santos

Publicado em 15 de novembro de 2017 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Betto Jr/ CORREIO

Suspeito de matar com socos e pedradas a jornalista Daniela Bispo dos Santos, 38,  Mateus Viliam Oliveira Alecrim Dourado Araújo, 32 anos, contou em depoimento que pegou a pedra usada no crime no caminho até o prédio onde encontrou com a vítima.

Ainda segundo a polícia, depois de matar Daniela com socos e pedradas, Mateus  foi para casa como se nada tivesse acontecido para dormir. Ele  mora no bairro da Saúde, em Salvador. Horas depois do crime, enquanto as pessoas ainda procuravam a jornalista, ele estava a caminho de uma entrevista de emprego quando foi preso na tarde de terça-feira (14) em Lauro de Freitas.

Ele confessou que matou com quem mantinha um relacionamento amoroso há 3 anos. O crime aconteceu na noite de segunda (13). Os dois se conheceram em uma empresa de call center, há quatro anos, e, mesmo depois de deixarem de trabalhar juntos, mantiveram o relacionamento  amoroso, que começou em 2014. Mateus após a prisão (Foto: Betto Jr/ CORREIO)

Daniela foi morta a sacos e pedradas. O corpo foi encontrado nas escadas do 5º andar do Edifício Catabas Empresarial, na Avenida Tancredo Neves, onde ela trabalhava. Mateus foi flagrado nas câmeras do prédio e identificado por alguns amigos da vítima. Segundo a polícia, Mateus e Daniela se conheceram em 2013, quando trabalhavam em uma empresa de call center. Em 2014, eles iniciaram um relacionamento amoroso que continuou mesmo depois que os dois deixaram de atuar na mesma firma. Ele foi demitido e ela foi trabalhar em outra empresa do mesmo ramo, onde estava até ser assassinada. Daniela era jornalista (Foto: reprodução) Passo a passo A polícia contou que no começo da noite de segunda-feira Mateus saiu de casa e foi ver Daniela. Os dois marcaram um encontro no mesmo prédio em que ela trabalhava, na Avenida Tancredo Neves. Ele contou para a polícia que no caminho abaixou, pegou uma pedra e partiu o paralelepípedo em dois. Um dos pedaços ele deixou no local, e o outro colocou dentro da mochila que estava carregando.

A delegada Milena Calmon, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), contou que ele conhecia os funcionários que trabalham na portaria e, por isso, conseguiu entrar no edifício com facilidade. Por volta das 19h, Daniela saiu da sala em que trabalhava, no 1º andar, e subiu até o 6º pavimento. Os dois se encontraram, mas a conversa tornou-se uma briga.

"Houve uma discussão, e ele contou que começou a agredir ela com socos. Depois, retirou uma pedra que tinha levado na mochila e passou a agredi-la com pedradas. Ela caiu um lance de escadas, do 6º para o 5º andar. Em seguida, ele trocou de camisa enquanto descia as escadas e saiu pela garagem do prédio", contou a delegada.

Mateus pegou um ônibus e foi para casa, no bairro da Saúde. Antes ele trocou de camisa mais uma vez, dentro do coletivo. O corpo de Daniela foi encontrado no dia seguinte, pela manhã. A polícia solicitou as imagens de segurança do prédio, onde ficou registrada a movimentação do suspeito e conversou com os amigos da jornalista que confirmaram que os dois tinham um relacionamento.

A polícia disse também que através dos depoimentos conseguiu identificar Mateus, e foi até a casa dele. A mãe dele foi quem recebeu os investigadores e disse que ele não estava em casa. Ela ligou para o filho, e depois informou para os policiais que ele estava em Lauro de Freitas. A equipe foi até o local e prendeu o suspeito. Daniela e Mateus estavam juntos há 3 anos (Foto: reprodução) Ameaças A delegada disse que Mateus não resistiu à prisão, mas negou o crime até ver as imagens registradas pelas câmeras. O suspeito confessou o crime e disse que estava sendo ameaçado por Daniela. Segundo ele, a jornalista sabia que ele estava noivo de outra mulher e estava ameaçando contar a verdade.

"Ela me ameaçou, estava me chantageando. Ela queria que eu terminasse o meu noivado. Disse que iria procurar minha noiva para contar tudo. Eu não estava aguentando mais. Eu não tinha relacionamento com ela há três meses. Eu tenho família, tenho filho. Isso (o assassinato) jamais era algo que eu pensasse para minha vida ou de que eu fosse me orgulhar. Eu não sabia que teria coragem para fazer isso com ela. Eu me arrependo do que fiz. Agora, eu só espero a morte", afirmou, durante entrevista no DHPP.

A polícia afirmou que o fato dele ter levado a pedra na mochila aponta para premeditação do crime, e que vai indiciá-lo por homicídio qualificado. A qualificante é feminicídio.  Mateus disse que é noivo e tem um filho (Foto: Betto Jr/ CORREIO) Familiares de Daniela contaram que o corpo dela será sepultado na manhã desta quarta (15), no cemitério da Ordem Terceira do Carmo, na Quinta dos Lázaros, bairro da Baixa de Quintas, em Salvador. "Ela era uma menina cheia de vida. Era muito séria, mas também muito alegre. Todos nós estamos chocados com essa covardia", contou um dos familiares, que pediu para não ser identificado. Daniela deixa dois filhos adolescentes. 

Ela trabalhava em uma empresa de call center, mas era jornalista de formação. Em nota, o Sindicato dos Jornalistas dos Profissionais no Estado da Bahia (Sinjorba) lamentou o ocorrido.

"A morte da colega aumenta a revoltante estatística brasileira de crimes praticados contra mulheres pelo fato de serem mulheres, por homens com os quais se relacionavam. O feminicídio mata oito mulheres por dia no Brasil e até maio deste ano, a Polícia registrou mais de 10 mil casos de violência contra a mulher na Bahia. O Sinjorba se une a familiares, amigos e colegas neste momento de dor e pretende acompanhar e divulgar as investigações para prisão e julgamento do autor deste crime", diz a nota.

[[saiba_mais]]