Depois não reclamem do Senhor do Bonfim

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Publicado em 11 de janeiro de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Ainda que Gil não tivesse eternizado, todo soteropolitano que se preza sabe bem que a fé não costuma faiá. E é por isso que hoje, no dia dedicado ao Senhor do Bonfim, andar com fé eu vou.

Rumo à sentinela avançada, à guarda imortal da Bahia, vou agradecendo e, já que em 8km dá para fazer bastante coisa, vou pedindo também um 2018 de glória para os amigos tricolores e os rubro-negros. Aos de vermelho e preto, pedirei proteção reforçada. 

Explico: 3 de dezembro de 2017. Uillian Correia mete a mão na bola, é pênalti, Diego vira o jogo para o Flamengo. 2x1, a carreta da Série B vindo na contramão e, de repente, o milagre. Em Santa Catarina, um gol da Chapecoense uns 15 segundos antes salvara o Leão do rebaixamento. Tudo isso o torcedor do Vitória já sabe. O que não sabia até agora é que, nos dias que antecederam aquela última rodada do Brasileirão, quatro amigos haviam prometido paletar da Igreja da Vitória à do Bonfim caso Mancini e sua trupe escapassem da Série B. Como a vida não é justa, a Chapecoense levou os louros.

A eles o anonimato, que se antes era uma injustiça agora é compaixão. Mais de um mês se passou e, somando os quatro elementos, um quarteirão não andaram. Teve marketing, claro, pois hoje não se vive sem “viralizar” nos grupos de WhatsApp.

Contrataram até designer - ô palavrinha enjoada – para fazer uma peça de divulgação do evento e deram um nome chistoso à empreitada: caminho de Santiago Tréllez, alusão ao santo da peregrinação em Compostela, na Espanha, e homenagem ao herói do triunfo épico sobre a Ponte Preta na penúltima rodada, que na prática acabou sendo o jogo da salvação. 

Marcaram dia e horário, providenciaram isopor, fizeram cotação do preço da cerveja, convidaram até amigos tricolores. Sagrado e profano misturados, rivalidade sadia, tudo como manda o manual das festas de largo. O evento prometia virar “tradição” dentro de três anos, como se diz aqui na Bahia.

A maior empolgação e... nada. Um quarteirão não andaram. De uma sinusite à falta de organização do calendário do futebol brasileiro, tudo virou justificativa. O ano acabou, o novo chegou e, repito, um quarteirão não andaram. Depois esses insalubres torcedores vão protestar contra o presidente Ricardo David na primeira sequência de derrotas, vaiar os jogadores da base, jogar sal grosso no Barradão e culpar (com razão, porque tudo tem limite) as contratações dispendiosas feitas na gestão de Ivã de Almeida. Pelos mares e campos baianos, não haverá solução.

Até que o Senhor do Bonfim deu-lhes uma segunda oportunidade, embora torcedores como esses mereçam mesmo é a segunda divisão. Ao longo do dia, eles estarão lá, despercebidos na multidão de branco que “marcha” no ritmo de ijexá da Conceição da Praia à Colina Sagrada. 

Mansão da misericórdia? Ai, ai. Eles vão na fé, porém cientes que o percurso de hoje não conta. Afinal, promessa é promessa, e a que fizeram foi outra. Neste caso, não se pode dizer que a fé não costuma faiá. Eles já “faiaram” há muito tempo.

Herbem Gramacho é editor de Esporte e escreve às quintas-feiras.