Dia da Criança: como falar de sustentabilidade com seus filhos?

Cinco dicas divertidas para abordar temas ambientais em casa e na escola e formar adultos mais conscientes

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  • Murilo Gitel

Publicado em 12 de outubro de 2017 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: divulgação

Sofia Santos Barbosa tem apenas 9 anos e, como boa parte das crianças nessa idade, gosta de utilizar o computador para navegar na internet. O problema é que às vezes esquece de desligar o aparelho, o que contribui para o aumento da conta de luz na casa da mãe dela, a consultora de marketing Núbia Cristina Santos, que também tem João Pedro, 12.

Na residência onde moram, no bairro São Rafael, um desafio comum a muitas famílias: como falar de sustentabilidade com os filhos? “Sofia precisa de maior orientação, mas João Pedro me ajuda a orientar a irmã”, conta Núbia, que também acrescenta que a filha costuma demorar no banho quando lava o cabelo. “Bato na porta do banheiro e peço que não demore”.

João Pedro, por sua vez, tem a consciência ambiental mais desenvolvida. “Ele odeia desperdícios e diz ter ideias pata criar um aparelho capaz de reaproveitar a energia dos raios nos prédios”, ressalta Núbia. 

As primeiras noções de educação, cidadania e respeito para com o meio ambiente devem começar em casa, defendem especialistas, quando os pais entendem que chegou o momento de transmiti-las aos filhos, ainda em fase de formação. Em seguida, esse processo costuma ser aprimorado na escola.

O que fazer?

Ensinar aos filhos temas como descarte correto de resíduos, importância da reciclagem e como economizar água são apenas algumas das iniciativas possíveis, capazes de ajudar as crianças a construir um melhor entendimento, desde cedo, sobre as temáticas ambientais. Demonstrar que os recursos naturais não são infinitos e que podem fazer falta para a vida delas também é crucial.

“De forma complementar a essa educação doméstica vem o auxílio da escola e seus professores”, destaca o físico austríaco Fritjof Capra, criador do conceito de “alfabetização ecológica”, segundo o qual ser ecologicamente alfabetizado (ecoliterate) significa entender os princípios básicos da ecologia que os ecossistemas desenvolveram para manter a 'teia da vida'.

Consumo consciente

Esse pensamento é embasado por Helio Mattar, diretor presidente do Instituto Akatu, organização não governamental especializada na mobilização para o consumo consciente. "É no início, desde a escola, que as crianças vão aprender sobre a vida e o mundo. Nesse momento é fundamental que a criança aprenda sobre a questão do consumo e os seus impactos e possa formar seus valores a partir desses princípios”, defende.

O Akatu desenvolve um programa chamado Edukatu, que atua em parceria com escolas públicas de Ensino Fundamental de todo o Brasil, fornecendo conteúdos de educação para o consumo consciente e a sustentabilidade. “Temas como água, energia, alimentos, nutrição saudável, higiene, aquecimento global, que vão ser levados para crianças e adolescentes pelos professores, que são capacitados pelo Edukatu”, explica Mattar.

Papel das escolas

Em Salvador, um bom exemplo de aplicação de noções de sustentabilidade é o projeto Horta na Escola, realizado em parceria pela Secretaria da Cidade Sustentável e Inovação (Secis) e a Secretaria Municipal de Educação (Smed). Em setembro, a iniciativa chegou à Escola Municipal Fernando Presídio, no bairro de Paripe.

Na ocasião, cerca de 200m² foram divididos em dois quadrantes para receber hortaliças e mudas frutíferas, que receberam a ajuda dos alunos para serem plantados. Foram cinco pitangueiras, cinco pés de acerola e cinco goiabeiras, e mudas de salsa graúda, rúcula apreciará, alface cinderela, quiabo e coentro. O aluno do quinto ano, Moisés, 11, se destacou na coordenação das atividades frente aos coleguinhas. “A horta agora está muito melhor. A gente plantou um monte de coisas e aproveitamos a ajuda do pessoal. A minha turma vai cuidar da horta toda segunda-feira e eu vou ajudar sempre”, disse ele.

O secretário da Secis André Fraga informa que a meta é levar o projeto a um total de dez escolas da rede municipal de ensino. “Engajar a criança é engajar a família, porque acreditamos na influência que os mais jovens têm em casa. Por meio das hortas, esses estudantes passam a ter contato com os alimentos, de onde eles vêm, etc”, destaca.

Outra iniciativa da Secis nesse sentido é o projeto Turminha Sustentável, que desenvolve e distribui histórias em quadrinhos sobre meio ambiente nas escolas. “Os dois primeiros volumes foram sobre coleta seletiva e água, respectivamente, e o terceiro terá a Mata Atlântica como tema”, adianta Fraga. “É muito salutar o feedback das crianças em relação ao projeto. Perguntam quando sairá o próximo gibi”.

O CORREIO Sustentabilidade entrou em contato com a Secretaria da Educação do Estado da Bahia e a assessoria de imprensa da pasta comunicou que desenvolve uma série de projetos na área ambiental nas escolas estaduais, inclusive que possui um setor dedicado a este tema, mas que o foco está no ensino médio, quando os jovens já estão no início da adolescência.

Em casa

Listamos cinco dicas para os pais ensinarem práticas ambientais aos filhos de forma divertida. Confira:

1) Comando da reciclagem: Coloque a molecada no comando da reciclagem. Assim eles entenderão sua importância e darão mais valor à separação dos resíduos domésticos. Ensine a diferença de cores dos compartimentos da coleta seletiva.

2) Games ecológicos: Para essa nova geração, que já vem imersa nos meios digitais, há diversos jogos que fazem com que a criança teste seus conhecimentos sobre meio ambiente e sustentabilidade. Um exemplo: como criar um vilarejo mais sustentável ou um personagem que precisa plantar árvores e enfrentar lenhadores que querem desmatar. Ou ainda um jogo um pouco mais elaborado onde o usuário tem contato com as políticas ambientais e soluções em sustentabilidade para o planeta. Aproveite para incentivar seus filhos a realizar “quizzes” sobre o assunto.

3) Corrida no banho: Se você conseguir encurtar o tempo de banho em sua casa por apenas um ou dois minutos, já economizará até 150 litros de água por mês. Aproveite para cronometrar o tempo da criançada no chuveiro e ofereça recompensas pequenas caso consigam bater o tempo recomendado de seis minutos (ou melhorar o tempo do último banho).

4) Bilhete perto da torneira: Outra maneira de se conservar a água – recurso natural cada vez mais ameaçado pela escassez e racionamento - é fechar a torneira do banheiro quando não estiver usando-a. Certifique-se que seus filhos estão fechando a torneira enquanto escovam seus dentes. Coloque então um pequeno bilhete, por escrito, perto de sua torneira para refrescar a memória das crianças.

5) Brigada dos carregadores: Se os seus filhos possuem seus próprios celulares ou quaisquer outros aparelhos, como tablets, provavelmente eles também têm um monte de carregadores. Mesmo quando não estão conectados a algum desses aparelhos, os carregadores continuam a consumir eletricidade, por isso é melhor desconectá-los quando não estiverem em uso. Uma ideia é oferecer alguma regalia quando o número de carregadores desconectados registrar queda em determinado mês, tais como promover um piquenique, levar ao parque da cidade ou para andar de bicicleta.