Dois nascimentos em trinta anos

Biamputada, Adriele Silva pratica esporte só há cinco anos e já é recordista

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  • Da Redação

Publicado em 2 de outubro de 2017 às 23:04

- Atualizado há um ano

. Crédito: Betto Jr./CORREIO

Quem vê os atuais resultados da paratleta Adriele Silva, 30 anos, nem imagina que ela começou a praticar esportes há menos de cinco anos. Nesse tempo, já foi medalhista de ouro no Troféu Brasil 2015, na Copa do Brasil 2016 e no Rio Triathlon 2017. Adriele também chegou em segundo lugar, com a medalha de prata no Campeonato Brasileiro 2015 e no Campeonato Pan-Americano de Paratriathlon 2016. Além do triatlhon, seu atual amor, Adriele é recordista brasileira nos 100 m, 200 m e 400 m no paratletismo, que não pratica mais. A superatleta, patrocinada pela Braskem, levou seu exemplo de vida para a oficina Inovação Transformando Vidas, que também contou com a participação do inventor argentino Gino Tubaro, que dedica sua criatividade para criar próteses de mãos e braços para pessoas carentes. 

Até os 25 anos, Adriele Silva possuía as duas pernas e uma vida completamente diferente. “Eu trabalhava em uma empresa metalúrgica. Estava no décimo semestre da faculdade e minha rotina era trabalhar e estudar. Eu não fazia esporte. Com a amputação, minha vida mudou. É um mundo completamente novo”, disse. “Eu realmente tive duas vidas. Era do ramo empresarial e os acontecimentos me trouxeram outra vida. Eu nasci de novo. Tudo que eu aprendi foi novo. São experiências boas para minha vida”, falou. 

No dia 30 de outubro de 2012, Adriele estava se preparando para ir para a metalúrgica, quando sentiu fortes dores. Ela nem imaginava que as dores, advindas de uma cólica renal, acabariam tendo complicações até a necessidade de amputação das duas pernas. Depois de exames de urina, sangue e de ultrassom, uma infecção forte foi diagnosticada. “Mas eles não fizeram nada. Eu só fui receber um antibiótico depois de 14 horas e, enquanto isso, a pedra estava entupindo o canal da urina”, contou Adriele. Os pulmões entraram em falência e a pressão arterial chegou a 6 por 4. Adriele estava entrando em falecimento com insuficiência respiratória, hepática, renal e cardíaca e entrou em coma induzido. Foram 20 dias em coma até receber a notícia: teria que amputar as pernas.

“O maior medo da família era como ela iria reagir à notícia da amputação. O medo era de como ela iria agir quando acordasse”, contou a mãe, Silvana da Silva, 55. “Quando me acordaram do coma, eu não tinha nem ideia. Eu não fiquei angustiada porque sabia que tudo o que eu tinha passado era muito pior do que amputar as pernas”, lembrou Adriele. Foram 64 dias de internação. “Quando a Adriele foi sair do hospital, as enfermeiras cobriram as pernas. Ela prontamente disse para ninguém cobrir. Que aquele era o jeito dela dali pra frente”, recordou a mãe.

Nova paixão

Depois de todos os acontecimentos, Adriele teve que lidar com a falta de conhecimento sobre a nova condição. “Quando isso acontece, adquire uma deficiência, a pior parte de todas é a falta de informação. A gente sai do hospital simplesmente sem informação nenhuma. Eu tive a iniciativa de procurar. Grande parte do que eu encontrei foi buscando na internet. Outra grande parte foi com outras pessoas com deficiência”.

Foi em grupos de pessoas que também haviam sido amputadas que Adriele encontrou Alex Rodrigues. “Foram processos diferentes. Eu sou um homem de 50 anos, casado. Ela é 20 anos mais nova, solteira. Mas ou você se entrega e é infeliz a vida inteira, ou você resolve entender como vai funcionar daqui pra frente. Foi o que eu e a Adriele fizemos”. Ao contrário de Adriele, Alex era atleta e parou de praticar o esporte. Ele agora é fotógrafo profissional. “Eu  joguei no trabalho e ela no esporte. A gente tem que ocupar a cabeça”, receitou. 

Junto com as terapias, Adriele notou que quanto mais se mexesse, melhor seria a recuperação. “Eu fui atrás de um esporte para ocupar o meu tempo e a minha mente. E o esporte foi me mostrando uma oportunidade de carreira”.  Graças ao patrocínio, Adriele consegue se dedicar 100% ao esporte, treinando entre 4 e 6 horas por dia, seis dias por semana. Adriele é focada e insistente. Os familiares também a definem como tranquila e batalhadora. 

A paratleta tem os equipamentos como aliados. “As próteses de corrida são de alta performance. Para eu estar 100%, elas têm que estar 100%. Elas influenciam completamente no meu rendimento. Agora é focar nos meus objetivos”, falou, sempre determinada e esperançosa.