Dois pesos, duas medidas

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  • Da Redação

Publicado em 28 de dezembro de 2017 às 05:02

- Atualizado há um ano

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Guto Ferreira está de volta ao Esporte Clube Bahia. Que pena. Lembro que ao receber convite do Internacional, o meu Inter diga-se de passagem, “Gordiola” não titubeou. Saiu às pressas, deixando o tricolor com o pincel na mão ainda na terceira rodada do Brasileirão 2017. De olho gordo (com perdão do trocadilho), numa provável projeção nacional, preferiu a Segunda Divisão no Beira-Rio do que a elite no Fazendão. E coube ao Inter pagar a multa pela rescisão contratual que, segundo a imprensa, ficou em torno de R$600 mil.

Ao trocar de ares, Guto deixou claro que, na cabeça dele, o Internacional é muito maior que o Bahia. Ocorre que abandonar o barco não é novidade na carreira de Guto Ferreira. Ao optar pelo próprio Bahia em 2016 ele também deixou a Chapecoense sem aviso prévio. É que Guto enxergava o tricolor maior que a Chape, mesmo com o time de Chapecó na Primeira e o Bahia, à época, na Segunda. Como vimos, não demorou muito para o Bahia provar do mesmo veneno.

Pois aproveito o retorno de “Gordiola” para sugerir a ele uma conversa franca e amigável com Evaristo de Macedo, o treinador que botou o Colorado no bolso e garantiu o segundo título nacional do tricolor em pleno Beira-Rio. É que Evaristo, ídolo na Espanha e grande conhecedor de bola, nunca teve complexo de vira-latas. Ou melhor, sempre entendeu que com uma torcida do tamanho da do Bahia, é impossível se apequenar. Mas isso é próprio de quem enxerga longe e pensa grande. É inerente aos vencedores.

Entretanto, nada como um dia após o outro. Ao jogar o título da Segundona pela janela, com cinco ou seis péssimos resultados seguidos, inclusive em Porto Alegre, contra equipes reconhecidamente pequenas, Guto foi, obviamente, demitido. Ficou furioso e agora ameaça colocar o Inter na justiça cobrando uma suposta dívida de quase cinco milhões de reais. Inclusive por um ano de trabalho não trabalhado. No caso, 2018. Alega cláusulas contratuais. Não conheço os termos do contrato, por isso não tiro suas razões. Problema para a justiça dissecar e resolver. Mas se faltou ética ao Inter, então o que faltou ao Guto quando decidiu abandonar o Bahia?

Agora um parêntese. Lembro de Wagner Mancini, treinador do Vitória, liderando uma campanha nacional em favor dos técnicos que, segundo ele, são substituídos pelos clubes como quem troca de camisa. Ou seja, não gozam de nenhuma estabilidade e, por isso, os clubes, segundo esta linha de raciocínio, deveriam ser punidos, além de pagar multas pelas rescisões prematuras, etc e tal. Ok, mas e o inverso, ou reverso, fica como?

O clube não pode (ou não poderia) simplesmente demitir em função de maus resultados, mas os treinadores podem (ou poderiam) abandonar o barco quando bem quiserem, bastando para isso receberem um aceno irresistível de vil metal? Acho que vale refletir a respeito.

Mas voltemos ao Fazendão. Em se tratando de Bahia nada mais surpreende. O tricolor teve o desplante, a desfaçatez e a cara de pau de recontratar Joel Santana, mesmo depois do supra citado ter chamado o Bahia de sardinha, numa comparação ao Flamengo, que, na cabeça acariocada e distorcida de “papai Joel” é sim um peixe grande. Para quem tem memória fraca lembro que Joel Santana é aquele treinador fanfarrão que nunca conquistou um título nacional em mais de 40 anos como profissional. Copa Ouro Sul-americana e Taça João Havelange assumindo o time na reta final, não valem.

Mas para quem já colocou a raposa para dentro do galinheiro, contratando como diretor de futebol o rubro-negro Paulo Carneiro, cujo maior sonho era acabar com a existência do rival (segundo suas próprias palavras enquanto presidente do Vitória), nada de novo, apenas os nomes e as idades. Fico me perguntando: será que depois de um brevíssimo período de sensatez e competência, inaugurado com a intervenção da justiça e concluído com a última eleição democrática, o Bahia não estaria, de volta, a era das trevas?  A primeira canetada mostra que sim. Lamentável.

Oscar Paris é jornalista