Eco-nomia do mar e o Sebrae

Por Eduardo Athayde, especial para o CORREIO Sustentabilidade

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  • Da Redação

Publicado em 29 de novembro de 2017 às 05:00

- Atualizado há um ano

A cidade de Bergen, fundada em 1070 e capital da Noruega na Idade Média, sediou recentemente o evento “Crescimento Azul – Economia do Mar Sustentável”, visando a cooperação entre entidades portuguesas, norueguesas e islandesas. Recebendo instituições de pesquisa e fundos de investimento, o "Sebrae de lá" estimulava novos empreendedores, startups, micro, pequenas e medias empresas para negócios marinhos sustentáveis. Depois do encontro a ordem era deliciar-se no cais do porto com salmão, lagosta, camarão e caviar, no "Fish Market". Bergen foi capital da Noruega durante a Idade Média (foto: divulgação) O Fish Market (Merado do Peixe) é um dos pontos turísticos da cidade (foto: divulgação) Entre os ofertantes de recursos no evento estavam o European Investment Fund [eif.org] e o Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e da Pesca, interessado em inovação e tecnologia, disponibilizando € 8 milhões para estudos de mercado, € 2 milhões para o combate ao lixo marinho, € 3 milhões para a criação de “Parcerias Azuis” e € 1.5 milhão para a restauração de ecossistemas. Ao todo são €14,5 milhões (R$56 milhões), só em 2018, para a promoção de uma "Economia Azul Sustentável" apenas nesses 3 países europeus que têm, juntos, uma população de 15.834 milhões de habitantes - Portugal 10,3 milhões, Noruega 5,2 milhões e Islândia apenas 334 mil.

As pequenas e médias empresas (PME) são a espinha dorsal da economia europeia (PIB US$18 tri), representando 99% de todas as empresas na União Europeia (UE). Nos últimos cinco anos criaram 85% dos novos empregos e proporcionaram dois terços do emprego total do setor privado. A Comissão Europeia considera que as PME e o empreendedorismo são fundamentais para alcançar o crescimento econômico, a inovação, a criação de emprego e a integração social.

Do outro lado do oceano, antes de deixar a Casa Branca, Obama, ciente que as PME representam 97,9% de todas as empresa nos EUA (PIB US$18,5 tri), que 14% dos municípios americanos são costeiros e produzem 45% do produto interno bruto (PIB) do país, gerando empregos diretos do mar, aumentou em 20 vezes as áreas marinhas protegidas americanas. Entendendo que cuidar do mar dá resultados - econômicos, sobretudo - disse: “Se queremos deixar oceanos sadios para os nossos filhos, temos que agir com ousadia”.

As nações caribenhas recebem dezenas de milhões ​​ de dólares do turismo e da pesca esportiva, protegendo manguezais, abrigando e alimentando estoques saudáveis de peixes. Um km² de recife de coral pode gerar alimento para mais de cinco toneladas de peixe, de forma sustentável, e cada hectare de pastos de ervas marinhas pode produzir US$24 mil/ano em peixe, afirmam pesquisadores e empresários da eco-nomia do mar. Na República de Palau, um pequeno país insular da Micronésia, no Pacífico, que vive do turismo, um único tubarão vivo gera US$1,9 milhão de rendas durante sua vida para ser fotografado, segundo a National Geographic - se for pescado seu valor é de apenas US$108.

O Brasil, com 17 estados e 395 municípios costeiros, tem a rica cadeia produtiva do mar pouco desenvolvida. A Bahia, com 1.186 km de costa oceânica, a maior do país, e 46 municípios costeiros, tenta avançar. Central à costa brasileira, a Baía de Todos os Santos (BTS), declarada em 2014 como Sede da Amazônia Azul em concorrida sessão solene da bicentenária Associação Comercial da Bahia (ACB), reunindo autoridades, empresários, universidades, Ministério Público, Associação Baiana de Imprensa e ONGs - tenta puxar este debate.

Em abril do próximo ano a BTS receberá PMEs do Brasil e do mundo para discutir o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC) no Fórum Internacional de Eco-Nomia do Mar, reunindo em Salvador "Sebraes costeiros", autoridades navais brasileiras e estrangeiras, academia, industria, investidores e centros de pesquisa do mar, atraindo debates, recursos e inteligência nova para responder à pergunta: Quanto vale, para o Brasil, a eco-nomia do mar?

Eduardo Athayde é diretor do WWI-Worldwatch Institute no Brasil.