'Ele sabia que ia acabar morrendo', diz pai de jovem morto pela PM no Vale das Pedrinhas

Polícia afirma que Yan Patrick Queiroz Assunção, 18 anos, foi morto em troca de tiros

  • Foto do(a) author(a) Tailane Muniz
  • Tailane Muniz

Publicado em 20 de setembro de 2017 às 11:26

- Atualizado há um ano

. Crédito: Bruno Wendel/CORREIO

O pai de Yan Patrick Queiroz Assunção, 18 anos, que morreu no final da manhã desta terça-feira (19), após ser baleado por PMs, disse que já esperava que o filho acabasse morto pela polícia. O assistente de refrigeração Antônio Lázaro Assunção, 39, afirmou ao CORREIO que o filho possivelmente estava armado no momento do crime.

"Tem seis meses, desde que o avô morreu, que ele passou a andar com companhias ruins. Eu sabia que ele ia acabar assim, e ele também sabia, porque eles [policiais militares] entram e matam mesmo", afirmou o pai do jovem que foi um dos três mortos por PMs na região do Nordeste de Amaralina em um intervalo de 12h. As mortes ocorreram durante ações realizadas por equipes da 40ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Nordeste de Amaralina).

Conforme Lázaro, o filho era evangélico mas parou de frequentar a igreja e passou a andar armado no bairro. "Eu nunca vi [armado], mas as pessoas me falavam. Eu pedi a ele, mas ele falava que já tinha feito aquela escolha. Infelizmente, hoje tenho que estar aqui para liberar o corpo. É uma dor enorme", relata Antônio Lázaro, no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues.Nascido e criado no Nordeste de Amaralina, antes do avô morrer o jovem estudava e trabalhava em uma loja de salgados do bairro. Atualmente, Yan morava com a mãe e os quatro irmãos na região da Chapada do Rio Vermelho.

Abalada, a mãe de Yan, a doméstica Manuela Queiroz, 40, contou que o filho era um rapaz tranquilo. "Independente de tudo, ela era um jovem tranquilo e a polícia não tinha que ter matado ele. Essa troca de tiros não existiu, todo mundo viu que eles já chegaram atirando", pondera.

Segundo relatos à família, Yan já foi levado morto pelos PMs. O pai de Yan disse ainda que o jovem nunca havia sido preso ou apreendido. "Nunca passou perto de uma delegacia". 

Na mesma situação, outro jovem, identificado como Mikael Militão dos Santos, 18, também foi morto. O corpo de Mikael será enterrado nesta quinta-feira (21), às 10h30, no Cemitério Municipal de Brotas.

Troca de tiros Embora admita a possibilidade do envolvimento do filho com o crime, Antônio Lázaro também não acredita que tenha havido troca de tiros entre os policiais. "Não aconteceu confronto, todo mundo viu que eles entraram atirando. Foi meu filho, que podia realmente estar armado, mas muitas vezes são pessoas totalmente inocentes".

Para a Manuela, a Polícia Militar executou Yan e Mikael. "Eles mataram os dois a sangue frio, quando podiam ter prendido. O papel deles não é prender? Por que tirar a vida assim? É uma dor que não desejo a ninguém", desabafou a mãe de Yan.

A família ainda não decidiu data e horário do sepultamento de Yan. 

Em nota, a SSP-BA informou que os jovens foram mortos em confronto com integrantes do Pelotão de Emprego Tático Operacional (Peto) da 40ª CIPM, que apreendeu no local uma pistola ponto 380, munição, drogas, um rádio comunicador e um celular.