'Ele vai me dizer o quê? Foi sem querer? Não adianta nada', diz pai de jovem morta em Itapuã

Adriel Santos, 21, alega que agiu em legítima defesa e que o tiro que acertou a nuca de Andreza foi acidental 

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  • Gil Santos

Publicado em 25 de setembro de 2017 às 21:35

- Atualizado há um ano

. Crédito: Gil Santos/ CORREIO

O comerciante Márcio da Paixão, 39 anos, tinha acabado de sentar para almoçar quando o celular começou a chamar. A ligação era para avisar que o principal suspeito de matar a filha dele tinha se entregado para a polícia. Adriel Montenegro dos Santos, 21 anos, procurou o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), na Pituba, acompanhando do pai e de um advogado, na manhã desta segunda-feira (25). Márcio (camisa preta) na sede do DHPP (Foto: Gil Santos/ CORREIO) O crime aconteceu há cinco meses, no dia 17 de abril. Andreza Victória Santana Paixão, 15, era ex-namorada de Adriel e foi morta com um tiro na nuca dentro da casa dele, em Nova Brasília de Itapuã. O jovem foi apontado como o principal suspeito do homicídio e estava desaparecido até está segunda, quando procurou a polícia e confessou o assassinato."Na hora que eu recebi a ligação, dizendo que ele tinha sido preso, fiquei atordoado. Liguei correndo para meu irmão e para a mãe de minha filha. Fomos avisando os parentes e todos viemos para o DHPP", contou Márcio.As primeiras pessoas começaram a chegar por volta das 13h. O grupo, formado por cerca de 20 integrantes, se concentrou na entrada do DHPP. A maioria vestia uma camisa branca com a foto de Andreza Victoria, e carregava cartazes pedindo por justiça. A mãe da adolescente, Lívia Tito, contou que a prisão do suspeito é importante, mas disse que a dor provocada pela perda da filha não diminuiu. 

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"Esses últimos dias se tornam escuros. As noites se tornaram longas. Os dias passaram de 24h para 48h. A vida perdeu o brilho, o sentido. A metade da gente foi enterrada dia 17 de abril. A gente vive porque não pode se matar, porque esse é o pior pecado que existe, mas dizer que eu tenho vontade de viver é uma coisa que não tenho. Quando enterramos um filho por uma doença é uma coisa, mas enterrar um filho porque alguém lhe tirou a vida é uma dor muito ainda maior", afirmou.

A mãe e o pai de Andreza disseram que não sabiam o que fariam se estivessem diante de Adriel, e que nada que ele dissesse poderia aliviar a dor que estavam sentindo. A família esperou por toda a tarde até que, por volta das 18h, o suspeito deixou a sede do DHPP, algemado.

"Espero que a Justiça haja com mão de ferro. Se ele (Adriel) tivesse o poder de me levar e trazer minha filha de volta eu me conformaria, mas, agora, o que ele vai me dizer: me perdoe, me desculpe, ou foi sem querer? Não adianta nada. A gente convivia todos os dias. Ela era minha menina, que eu troquei as fraudas, que tinha uma relação muito aberta comigo. Hoje, se a gente vê uma foto dela a gente chora, se lembrar chora, se ver uma coisa que ela gostava a gente chora. Nossos dias tem sido assim", afirmou Márcio. Andreza e Adriel moravam no mesmo bairro (Foto: reprodução) Confusão Os familiares de Andreza se concentraram na recepção do DHPP e hostilizaram o suspeito. A mãe da adolescente desmaiou e foram necessários dois homens para segurar o pai da jovem. Adriel deixou o prédio aos gritos de "Assassino!", "Mostro" e pedidos de "Justiça".

Ele foi levado em uma viatura até o Departamento de Polícia Técnica (DPT), nos Barris, para fazer exames, e encaminhado para a Delegacia de Furtos e Roubos, na Baixa do Fiscal, onde ficará custodiado. Adriel está em prisão temporária, ou seja, ficará preso por 30 dias, até que a prisão seja prorrogada por mais 30 dias, ou até que seja decretada a prisão preventiva, quando ele ficará preso por tempo indeterminado. Delegada Rosimar Malafaia durante entrevista no DHPP (Foto: Gil Santos/ CORREIO) Segundo a delegada Rosimar Malafaia, responsável pela investigação do caso, o suspeito alegou legítima defesa e disse que o tiro foi acidental. A família contou que Adriel pegou Andreza na porta da escola onde ela estudava, que levou ela até a casa dele e que, durante uma discussão, ele atirou a queima roupa contra a nuca da jovem. O crime aconteceu na varanda da casa onde o suspeito morava. Nesta segunda, ele contou outra versão.

"Ele disse que estava fazendo a barba, em casa, quando Andreza chegou. Segundo ele, quando saiu do banheiro ela estava com arma dele, um revólver calibre 38, e o ameaçou com a arma. Ele tentou tomar a arma das mãos dela e durante a confusão ela disparou. Ele disse ainda que tudo aconteceu na sala da casa", contou a delegada.

A polícia contesta a versão de Adriel, e informou que os laudos da perícia e a investigação do caso apontam uma versão diferente da que foi contada pelo jovem. O suspeito disse para a delegada que vendeu a arma um dia depois do crime e que usou o dinheiro para sair da Bahia. Ele teria passado pelas cidades de São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), e Recife (PE), antes de voltar para a Bahia e se entregar. A polícia pretende indiciá-lo por homicídio doloso - ou seja, quando há a intenção de matar - com agravante de feminicídio.