Encontro discute requalificação do Memorial Mãe Menininha do Gantois

Debate faz parte da criação do Plano Museológico da unidade, que irá nortear as ações da instituição daqui para a frente

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  • Carol Aquino

Publicado em 10 de fevereiro de 2017 às 08:04

- Atualizado há um ano

No dia em que o Memorial de Mãe Menininha completa 25 anos e também quando é comemorado o aniversário da ialorixá, começa a primeira etapa de requalificação do museu. Acontece nesta sexta-feira (10), às 16h, o primeiro Encontro com a Comunidade para o Projeto de Requalificação do Memorial Mãe Menininha do Gantois, no próprio terreiro. O debate faz parte da criação do Plano Museológico da unidade, que irá nortear as ações da instituição daqui para a frente.

No encontro com a comunidade do Gantois, a instituição e moradores vão definir  a missão e a função social do museu. Ainda acontecerão mais duas reuniões com o mesmo objetivo, para que as partes determinem como o museu servirá para a população.  

A reunião será aberta por Carlos Ferreira (Elemaxó do Gantois) e contará com a palestra Revisitando o Memorial de Mãe Menininha: Um Olhar para o Passado, Pensando no Futuro, ministrada pelo professor Marcelo Cunha. Haverá também  uma mostra audiovisual e uma apresentação musical do Grupo Rum Alagbê. É recomendado aos participantes irem de branco.

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Também será apresentado pela museóloga Simone Trindade o Projeto de Requalificação do Memorial. A segunda etapa consiste num processo de documentação museológica, em que os objetos expostos no memorial serão medidos, fotografados, identificados e descritos, formando um catálogo que será  informatizado. A requalificação está sendo feita com recursos do Edital Setorial de Museus 20/2016 do governo do estado, em que o memorial foi contemplado, e do Fundo de Cultura da Bahia.

A ideia do projeto surgiu a partir da elaboração do Plano de Salvaguarda Patrimonial do Terreiro do Gantois, no ano passado, e teve por base a preservação da história do local através do resgate da memória. “Queremos transformar a realidade da comunidade a partir da construção desse caminho de socialização do conhecimento, e assim legar às futuras gerações seus referenciais identitários, instrumentalizando os atores sociais a serem protagonistas do seu saber cultural, empoderando-os e potencializando as expressões do seu segmento religioso”, afirma Mãe Carmem, que dirige o Terreiro.

Acesso gratuitoUma visita ao Memorial, que recebe anualmente baianos, turistas e pesquisadores de todo o mundo, dá uma ideia da importância que Mãe Menininha teve para as religiões de matriz africana. A sacerdotisa foi uma das pessoas que mais lutaram pelo fim das perseguições do candomblé pela polícia na década de 30, época em que era considerado feitiçaria, falsa medicina e  acusado de perturbar a ordem pública. Só em 1946 que a liberdade de culto foi assegurada pela Constituição Federal.  

“O Memorial representa a própria pessoa da Mãe Menininha no seu protagonismo. Essa memória da vida dela é uma memória da própria história da população negra na cidade de Salvador. É a memória de uma liderança negra num espaço que mostra que essa comunidade conseguiu resistir”, revela o pesquisador de questões relacionadas à diáspora negra e sua representação em museus e coordenador do programa de pós-graduação de Museologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Marcelo Cunha.

A religiosa, que era amiga de personalidades políticas e artísticas da Bahia, como Antonio Carlos Magalhães e Jorge Amado, abriu as portas da casa de axé para visitantes e ajudou no combate à repressão contra as manifestações culturais de matriz africana. Entre os filhos de santo mais famosos do terreiro que ela dirigiu estão os cantores Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia.

O Memorial fica aberto à visitação de terça a sexta, das 9h às 12h e das 14h às 17h. A entrada é franca, mas precisa ser agendada pelo telefone 3331-923. Não há funcionários no terreiro, por isso, são as filhas de santo de Mãe Carmem que tomam conta do espaço de conservação. Uma delas, inclusive, recebeu treinamento para fazer a manutenção do acervo. O memorial é mantido pela Associação São Jorge Ebé Oxóssi, que também é responsável pelo Terreiro do Gantois.