Enem: 75% dos assuntos de Matemática são do ensino fundamental

Disciplina é chave para resolução de metade das questões da prova; veja assuntos mais recorrentes

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  • Amanda Palma

Publicado em 27 de setembro de 2017 às 06:00

- Atualizado há um ano

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O nome do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pode enganar. Quem pensa que a prova avalia os assuntos ensinados na reta final da escola pode rever seus conceitos e recorrer aos cadernos antigos. Segundo o levantamento do SAS Plataforma de Educação, 75% das questões cobradas em Matemática são assuntos que os estudantes aprenderam durante o ensino fundamental.

E por que se preocupar tanto com os assuntos cobrados em Matemática? Porque a disciplina tem um peso considerável na prova do Enem. Para se ter uma ideia da importância, ela é a única que tem 45 questões exclusivas para tratar de seus assuntos.

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Então, atenção aos assuntos mais cobrados e que são do ensino fundamental: geometria, por exemplo, que começa a ser estudada logo cedo, é o assunto cobrado em 26,4% das questões. Aritmética aparece em segundo, com 12,8% das questões cobradas, e escala, razão e proporção, cobre 12,1%. Já porcentagem compreende 11% das questões e gráficos e tabelas, 9%. (Veja abaixo os assuntos cobrados na disciplina entre 2009 e 2015).

O levantamento foi organizado pelo professor de matemática Ademar Celedônio, diretor de ensino do SAS, que analisou as questões de todas as provas entre 2009 e 2015. Para ele, o motivo dessa “preferência” pelos assuntos do ensino fundamental se deve ao perfil do Enem, que tem a proposta de resolução de problemas do dia a dia. “A prova do Enem espera dos alunos a aplicação de competências e habilidades do cotidiano. Ele traz o que é mais próximo da realidade do aluno, diferente daquelas provas tradicionais. Tem o conceito de aplicar na realidade do estudante”, analisa o professor.

Por isso, o estudante deve ficar atento ao que está acontecendo à sua volta, afirma o professor. “Você não vê muitas questões de trigonometria, mas vê aritmética. A prova direciona o aluno para algo mais contextualizado. É interessante que o aluno esteja assistindo ao jornal, lendo uma revista semanal, para que se inteire dos assuntos de maneira geral. Pode ser uma questão que pergunte sobre o aumento do salário mínimo, por exemplo. E às vezes o estudante nem sabe qual o valor real que é o salário mínimo atualmente”, lembra Celedônio.

Outro motivo que torna a Matemática Básica como dominante nos assuntos da prova é que ela pode ser melhor contextualizada e desenvolve o raciocínio do estudante para outros temas mais avançados dentro da própria disciplina, pondera o professor Adriano Caribé. “A Matemática mais contextualizada favorece as questões do ensino fundamental. E a do ensino médio é mais uma ponte do aluno para o ensino superior, que já insere mais um pouco de abstração para o estudante”, explica.

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Nova combinação de provas Pela primeira vez, o Enem vai ser aplicado em dois domingos. E além da mudança nos dias de provas, a combinação delas também mudou: no primeiro dia de provas, 5 de novembro, o estudante faz as provas de Redação, Linguagens e Ciências Humanas, e no dia 12 de novembro, os estudantes vão encarar 90 questões de resoluções de problemas nas provas de Matemática e Ciências da Natureza. A experiência é nova e ainda não sabe como os estudantes vão reagir à mudança. 

“Na minha opinião, o equilíbrio dos temas é o melhor. Ainda não vimos como vai acontecer na prática, é uma coisa mais de especulação, mas acredito que o segundo dia vai ser mais duro e mais desgastante para os estudantes brasileiros. Eles vão estar imersos em diversas situações de cálculo, em 90 questões da prova no mesmo dia. Mas pode ser também que seja uma experiência melhor”, diz o professor Celedônio.  Rafael acredita que uma boa base em Matemática é o caminho para resolver grande parte das questões (Foto: Marina Silva/CORREIO) No entanto, vale lembrar que a Matemática Básica é usada como base também para a resolução de problemas de outras matérias, como as de Ciências da Natureza. É assim que pensa o estudante Rafael da Costa Fonseca, 17 anos. Ele está no terceiro ano do Colégio Vitória Régia e aponta quais os assuntos que podem ajudar a resolver os problemas de outros conteúdos. “Acho que com fração, regra de três, proporção, porcentagem, você consegue resolver uma quantidade de questões na prova, porque pelo menos no Enem, não tem questões muito elaboradas de cálculos”, diz o estudante.

Rafael dá a dica também que a Matemática Básica é fundamental também nos outros assuntos. “Eu acho que o aluno tem que começar do básico mesmo, porque quando vai pra Matemática mais avançada encontra dificuldades. Se tem uma base mal feita, não consegue avançar nos assuntos”, completa o aluno do terceiro ano.

Interpretação Mas nem só as contas devem estar afiadas para os estudantes. Segundo professores, outro elemento fundamental é a interpretação de texto. No caso, dos problemas apresentados aos candidatos. “Muitos alunos erram nas interpretações dos problemas e para usar adequadamente a matemática pra aquele problema é preciso saber interpretar”, explica o professor Adriano Caribé. 

Além disso, essa é uma das habilidades cobradas pelo Enem e que é avaliada em todas as outras disciplinas. “É o que vai dar a base para exatamente do nosso dia a dia. Todas as pessoas que estão formadas no ensino médio deve ter essa habilidade. A capacidade de interpretar textos e resolver problemas faz parte da alfabetização”, completa o professor. 

Treinos A pouco mais de um mês do Enem, a reta final de preparação é baseada no treinamento das questões. Muitos estudantes recorrem às edições anteriores do exame para testar os conhecimentos, mas poucos aproveitam as duas edições que são aplicadas do exame. Isso porque o Enem é aplicado duas vezes ao ano: a primeira é aberta a todos e a segunda é exclusiva para as pessoas privadas de liberdade. 

“É um material menos divulgado, mas tem o mesmo nível da prova. É uma oportunidade de fazer uma prova do Inep diferente daquela que foi a primeira aplicação”, sugere o professor de matemática Adriano Caribé. 

No site do Inep estão disponíveis cadernos e provas da segunda aplicação a partir de 2010. Geralmente, as provas são aplicadas meses depois da primeira aplicação. No ano passado, as provas foram aplicadas em dezembro para 53.999 pessoas. 

E os estudantes ainda podem contar com uma terceira aplicação, visto que no ano passado as provas foram aplicadas também em data diferentes para os candidatos que iriam fazer o exame em escolas que estavam ocupadas por estudantes. Eles faziam manifestação por causa da Medida Provisória 746, que determinava a reforma do ensino médio. 

“É muito melhor do que pegar um simulado qualquer, que pode não ser tão confiável. É melhor treinar com uma prova feita nos mesmos padrões”, analisa o professor.