Especialista sugere mais pessoas e menos carros nas ruas

Em palestra no seminário Cidades, Clarisse Linke afirma que a cultura do carro particular não se sustenta mais

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  • Carol Aquino

Publicado em 31 de agosto de 2017 às 21:43

- Atualizado há um ano

. Crédito: Evandro Veiga

“O modelo de um automóvel por pessoa não funciona mais”, diz a diretora executiva do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento no Brasil, Clarisse Linke. Especialista em mobilidade sustentável, a segunda palestrante do dia no seminário Cidades destacou que o futuro da mobilidade envolve o  transporte compartilhado e coletivo.

"A gente precisa sair do modelo atual, priorizando pedestres e modelos de transporte coletivo e compartilhado", ressaltou. Categórica, ela defende que o modelo do carro individual foi um investimento que não deu certo.

“As cidades são construídas para permitir maior velocidade e capacidade de tráfego porque a gente acredita que esse é o Brasil do futuro, do sucesso”, diz. Ela destaca a contradição desta realidade, já que enquanto a maioria das pessoas se desloca a pé ou de transporte público, grande parte do espaço nas ruas é ocupada por carros e motos.

Inversão

Uma das soluções para essa situação seria o uso da pirâmide invertida da mobilidade, do planejamento e dos investimentos em infraestrutura. No topo, com o espaço maior, ficariam os pedestres, concentrando a maior parte dos esforços; seguidos pelos ciclistas, transporte público, transporte de cargas e somente na base do funil, os carros e motos.

A especialista aponta ainda o aumento necessário do espaço para os pedestres e ciclistas, desestimulando o uso do carro nas cidades. A ideia é que o poder público repense totalmente o espaço público e o seu uso. Algo semelhante, inclusive, já existe em Salvador, com a implantação de piso compartilhado no Rio Vermelho.

Outro ponto destacado é a valorização da integração dos diversos modais de transporte, visto como uma opção mais barata no caminho para a mobilidade sustentável. Na capital baiana já é percebida uma evolução neste sentido com a integração dos ônibus entre si, com o metrô e, no futuro, com o BRT. 

Atitude

Porém, Clarisse ressalta que não são somente as ações do poder público que vão gerar a mudança, mas também as atitudes da sociedade. Além de mostrar e cobrar o seu desejo de espaços mais acessíveis a pedestres e bicicletas, as pessoas deveriam ocupar as ruas.

“As pessoas têm que vir mais para a rua, caminhar mais, entender melhor a cidade. Muitas vezes, estão acomodadas, não querem andar nem duzentos metros. Elas têm que pensar nessa decisão de usar no carro e seus impactos”, disse.

Uma das pessoas que deu o primeiro passo pela ocupação das cidades foi a servidora pública Marcella Marconi, 34 anos, que todos os dias vai para o trabalho integrando o uso da bicicleta com o do transporte público.

Cicloativista e uma das espectadoras do seminário, ela estimula as pessoas a aderirem ao uso das bicicletas. "A gente precisa tomar a cidade de volta para nós. Isso é também romper um pouco os medos", opina. 

Apesar de Salvador contar com 197,96 km de ciclovias, ciclorrotas e ciclofaixas, ainda existem outros obstáculos que servem como justificativa para quem evita sair de bicicleta. "A cidade é quente, cheia de ladeiras, insegura, mas todos esses fatores são transponíveis. Basta a gente sair da zona do conforto de simplesmente pegar um carro com ar condicionado na porta de casa e ir até a porta do trabalho", diz Marcella, com base na própria experiência.