Espionagem e a ética no futebol

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

  • Foto do(a) author(a) Miro Palma
  • Miro Palma

Publicado em 22 de novembro de 2017 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Espionagem não é novidade no futebol. Janelas de prédios vizinhos, muros e barrancos já foram e continuam sendo utilizados por rivais, torcedores e jornalistas em busca da informação guardada pelo clube. Com o avanço da tecnologia, como era de se esperar, essa espionagem se tornou mais aperfeiçoada com aparatos que dificultam ainda mais o segredo de escalações, formações táticas entre outras estratégias de um time.

Eis que o Grêmio, finalista da Libertadores, foi pego com a boca na botija. Com ares de filme de ação, o espião contratado pelo time para registrar a preparação do rival Lanús, em seu centro de treinamento na Argentina, foi flagrado no ato. Pouco antes de colocar para voar um drone, a equipe de reportagem da ESPN que, segundo a repórter, há cinco meses já estava de olho nessa tática do tricolor gaúcho, surpreendeu o homem, que tentou fugir, foi pego pela polícia local e depois liberado.

A notícia foi publicada  repercutindo em tudo quanto foi veículo de informação. No início, através do diretor jurídico gremista Nestor Hein, o clube partiu para a negação. Segundo ele, em entrevista para o Bate-Bola na Veia, da ESPN, não havia provas de que o espião estava a mando do clube gaúcho e que tudo não passava de uma perseguição ao time. Depois de o diretor jurídico tentar descreditar a investigação da repórter responsável pelo furo de todas as formas, o técnico Renato Gaúcho fez mea culpa durante a entrevista coletiva e disse que o tal espião era pago para trazer a informação, seja ela conseguida através de drone ou não. E ainda completou: “O mundo é dos espertos”.

No meio disso tudo, pouco se debateu sobre a utilização desses artifícios e de como ele pode implicar nos resultados finais dos campeonatos, em vez do típico “quem fez” e “quem não fez”. Porque, realmente, isso não é uma novidade, tampouco um caso para se chocar. Mas, nem por isso, deixa de ter um critério de noticiabilidade, ainda mais às vésperas do confronto que vai decidir o título da Libertadores.

Como isso pode ter favorecido o Grêmio e outros times de diversas ligas? É antiético, para começo de conversa, mas é algo passível de punição? Ou será que esse pode ser mais um dos comportamentos absorvidos pelos costumes da bola? Ninguém falou desses pontos. Falo eu. Esse é um hábito que está imbricado na história do futebol, seja feito por times ou pela própria imprensa. Quantas vezes vimos câmeras de veículos de televisão miradas em uma frestinha que permitia a visão de um treino fechado? Por aqui, basta ir na janela de algum vizinho do Fazendão ou do Barradão para ver qualquer treino.

Essas informações nunca foram contestadas. Claro que, no caso da imprensa, não há uma tentativa de se favorecer dessa informação para ganhar do espionado. Mas, ainda assim há um favorecimento em saber o que ninguém sabe. Informação também é poder. A questão é que, no caso de um clube, a atitude ganha contornos mais maliciosos. E, talvez daí, venha essa indignação com o flagra. No fim das contas é tudo uma atitude antiética que pode prejudicar uma estratégia de um clube e que torna o jogo sujo.  O Grêmio poderia terminar o ano com o mérito de uma campanha impecável que lhe garantiu um possível título importante e um lugar entre os melhores do Brasileirão. Só que, provavelmente, vai ser lembrado como o time que usou um drone para se favorecer.

*Miro Palma é sudeditor do Esporte e escreve às quartas-feiras